Entrevista a André Ventura no Sol de hoje:
Duvido muito que uma radicalização de discurso ou a mera aparência de radicalização contribua para um aumento de votos no Chega. A sondagem já o prova...
Por uma razão, além do mais: os media em geral, em Portugal, são visceralmente anti-Chega. Nem querem analisar porquê, basta-lhes a imagem que se projecta e os fantasmas que evocam: fascismo, extrema-direita, populismo. Para contrariar tal coisa torna-se necessário mostrar a verdade de uma certa moderação que o Chega afinal representa mas não passa como imagem ( basta ver o que Ventura diz sobre a pena de morte para atestar tal moderação relativa). O verdadeiro radicalismo de direita está para vir...mas a extrema-esquerda já espuma de raiva política, com esta amostra equívoca. Enfim, nessa altura entenderão que o tabuleiro do jogo está mesmo a mudar.
Para desfazer tal imagem e afastar os fantasmas só poderá haver um caminho, a meu ver: conseguir demonstrar que a esquerda não presta e que vende ilusões atrás de ilusões que nos colocam sempre a pedir emprestado ao longo de décadas que depois nos conduzem a bancarrotas e mais anos de atraso. Para além de modificações culturais importantes por via da prática permanente da revolução do marxismo cultural de origem gramsciana.
Qual a melhor estratégia para tal? Será a radicalização, mesmo aparente do discurso? Duvido muito.
Vejamos:
A bandeira da castração química de abusadores sexuais de menores, pedófilos, é uma ideia peregrina e que vem de lados insuspeitos. É uma medida passível de discussão sobre os efeitos e eficácia. Mas devia ficar por aí, pela possibilidade de discussão juntamente com outras e não apresentá-la como um rubicão cuja passagem é obrigatória. O que a psiquiatria nos diz sobre os abusadores sexuais é que alguns o serão sempre e por isso carecem de controlo apertado, logo que detectados como tal. E como? Nem eles sabem...
O abuso sexual de crianças tem sido assunto sensacionalista explorado por alguns media para radicalizar e exorcizar certos fantasmas. É um crime que tem sido devidamente acompanhado pelas instâncias judiciais e estamos agora melhor do que há umas décadas atrás, aquando do Casa Pia. Mas também existem afloramentos de histeria que estes medias potenciam e servem causas espúrias.
Mandar para o ar que uma aliança com o PSD passará necessariamente por aceitação de tal medida bem como a da prisão perpétua parece-me um erro.
A prisão perpétua? Outra ideia simplificada para atender a um problema real, mais grave do que o da pedofilia, a meu ver. Há inúmeros criminosos que cometeram crimes bárbaros e que beneficiam de um sistema de penas muito leniente e compassivo que parte de uma filosofia e sistema que me parece errado: o da ressocialização de delinquentes, de recuperação dos mesmos para a vida em sociedade, sem repetição de crimes, retomando a velhíssima ideia do "bom selvagem" e de penas que se revelam curtas relativamente aos crimes cometidos.
Será a ideia de prisão perpétua o mantra mais adequado a resolver tal problema? Talvez, se for apenas isso, como aliás me parece ser. Afinal André Ventura acredita que tal medida nunca será aprovada porque a maioria das pessoas não a aceitaria.
Então para quê apresentá-la como bandeira? Mero jogo político? Parece-me mal porque há outras medidas mais eficazes e potencialmente aceites socialmente.
Muito melhor será este tipo de compreensão do fenómeno e combate consistente e coerente:
Isto sim: ir a jogo com a filosofia de Figueiredo Dias e do Código Penal, denunciar o embuste e a asneira, mais os equívocos e erros, como a professora Teresa Beleza o faz, ainda por cima de igual para igual. Evidentemente que Figueiredo Dias a desprezará como tal, mas isso é mero efeito de quem sente que já perdeu a razão há muitos anos. A escola de Direito do mestre continua a velha tradição do sistema geocêntrico...com sede em Coimbra e portanto, como teoria dominante não quer perder a influência ideológica e prática, com os rendimentos adequados em prestígio e prebendas da parecerística.
E poderia mesmo André Ventura pegar neste mesmíssimo Figueiredo Dias e mostrar como bandeira o verdadeiro sistema de contactos que representa no país, com as larvas da corrupção e nepotismos endogâmicos à mistura.
Isso é que seria um combate!
Quanto a isto não dou para o peditório porque acho que não percebeu mesmo nada, o Alberto Gonçalves. Ou antes, percebeu: com Ventura, torna-se mais difícil o espaço para Passos Coelho. E quanto a isso...
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