Pacheco Pereira, no Público de hoje dá uma resposta a uma dúvida aqui instalada há uns tempos. Para mim, desde sempre...e que ainda não foi resolvida a contento.
Portanto, ler é saber. Pode ser, se...por acaso se lêem ou apreendem as ideias certas. Caso contrário é a ignorância reforçada pela erudição balofa. A afirmação, por isso, parece-me algo estúpida.
Um exemplo muito concreto e preciso para contrariar este indivíduo do género waldorf, na vertente Jim Henson, formado em filosofia para ensinar crianças, em tempo alargado de pleno prec ( demorou pelo menos de 1971 a 1978 a concluir a licenciatura...).
Como se pode ler por aqui, por escrito no mesmo Público, na adolescência relegou para um olvido cuja realidade nunca conheceu, a banda desenhada de expressão francófona posterior ao tempo de Cavaleiro Andante, revista do tempo do salazarismo dirigida por Adolfo Simões Müller e que se publicou entre 1952 e 1962 divertindo toda a geração de tais leitores durante 556 semanas.
Este waldorf até gostava do Adolfo, sem o dizer...mas nunca retirou daí as consequências, entrando no elenco dos marretas de ficção.
Ao mesmo tempo e na fase de vida em que "alimentou o monstro" lia a ficção da colecção Argonauta, também interrompida na fase crítica dos anos sessenta. Leu os 100 primeiros volumes, publicados até 1965.
E depois disso? Parece fácil adivinhar: enfarinhou-se na mistela de autores marxistas, leninistas e maoistas mais os filósofos correlativos. Aparentemente nunca mandou mais lavou as farpelas ideológicas, ficando com as nódoas que de vez em quando tresandam sem naftalina.
Agora vem escrever que a leitura de Camus, Mann ou Poe ajudam a entender o vírus biruta que anda por aí e dos seus efeitos maléficos, sempre a querer mostrar que conhece as entranhas do espírito dos homens.
Não há Basileus que resista a tamanha empáfia! Em vez da humildade da dúvida ou da modéstia, este waldorf formado em filosofia para ensinar no Secundário, empesta sempre os escritos com a arrogância de olrik apostado em combates mitológicos contra os que não lhe seguem as patranhas disfarçadas de erudição.
Repare-se nesta biografia de wikipedia, autorizada pelo próprio que aí reclamou contra indicações imprecisas ( não concede que tenha dito a Zita Seabra, em meados dos sessenta que poderia integar o partido da classe operária do PCP , por exemplo):
em 1972 Viria a aderir ao PCP (m-l) em 1972, de inspiração maoísta, fundando a Secção Norte desse mesmo partido. Já publicara então o seu primeiro livro, As lutas operárias contra a carestia de vida em Portugal: a greve geral de Novembro de 1918, editado em 1971. Este livro seria apreendido e proibido de circular pela PIDE, a qual, pouco depois, instaurou um processo ao autor, sob a direção do inspetor António Rosa Casaco.[11] Após uma rusga da PIDE à sua casa, a 30 de abril de 1973, viveu na clandestinidade, da qual só sairia completamente após o golpe de 11 de março de 1975.
Obviamente o salazarismo para este licenciado em tretas variadas nunca lhe agradou e nunca lhe apreendeu outro espírito que não o da luta encarniçada contra o que o mesmo defendia: o comunismo na sua vertente mais trágica, de um maoismo serôdio e totalmente fantástico para a sociedade portuguesa em que o propunha: 1972.
Se alguém quiser perceber a inutilidade de leituras avulsas para formar e dar conhecimento válido basta este pequeno exemplo:
Tal como já escrevi aqui, sobre estes malucos de funil na inteligência em idade adulta e nem sequer adolescentes tresmalhados no entendimento.
Nessa mesma altura de 1972 já tinha havido quem mostrasse claramente, sem dúvidas e principalmente através de testemunho pessoal o que passava na China comunista que estes aluados queriam imitar por cá.
Este mesmo Pacheco Pereira, filho de família que nem da classe operária poderia reclamar-se e que tinha pergaminhos ancestrais, na linhagem da nobreza nacional, para vergonha de alguns antepassados por causa desta bastardia ideológica, defendia o maoismo puro e duro, para cá, já!
Em 1972, Pacheco Pereira tinha obrigação de conhecer a existência deste livro porque era leitor e alimentava o monstro, em incursões à Leitura e outros locais que importavam tais livros.
Assim, deveria conhecer, obrigatoriamente, quem elucidava verdadeiramente o que se passava no país de mais de um bilião de pessoas, em pleno refluxo de uma Revolução Cultural muito aplaudida pelos maoistas serôdios de cá.
Pois, quem lá viveu o tempo suficiente para perceber o que se passava contava o que era a China de Mao que os pindéricos imitares queriam importar para cá.
E houve quem escrevesse um livro publicado em França, em finais de 1971 que por cá passou completa e incompreensivelmente ignorado, eventualmente até hoje.
Simon Leys era o autor, mas um pseudónimo de um indivíduo belga, Pierre Ryckmans, então refugiado na Austrália e que ninguém conhecia.
Nas revistas francesas de esquerda , na época, em finais de 1971 ( Tel Quel, bíblia do esquerdismo nacional e Le Nouvel Observateur, do socialismo democrático francês de Jean Daniel) a demolição do livro e do seu autor foi de preceito.
Por cá, nem se falou no livro, quanto mais nas ideias que lá vinham e que eventualmente teriam demovido de muita parvoíce os então maoistas em gestação acelerada.
Nenhuma revista falou ou recenseou a obra que eventualmente nunca foi traduzida em Portugal até hoje.
O livro retomava a célebre historieta infantil dos trajes novos do imperador...que afinal ia nu, para denunciar as manobras criminosas de Mao e da sua clique para se amparar do poder, através de uma fantasiosa Revolução Cultural, como de facto aconteceu.
Em França recordou-se tal tempo em páginas de revista que já publiquei por aqui:
É este um dos melhores exemplos que conheço para demonstrar que as leituras trazem conhecimento a quem por sorte ou escolha o possa aproveitar.
Mas nem sempre tal aconteceu, como se mostra.
E nunca se deve confundir o divertimento, o lazer intelectual da leitura de uma boa história como um exemplo acabado de conhecimento adquirido por essa via infusa...
Uma boa parte de grandes leitores de livros que conheço não são grandes conhecedores da realidade que muitos outros que nunca leram um livro sabem de ciência certa.
Lembre-se por exemplo o que dizia Saramago do avô analfabeto, sem reflectir nas consequências da afirmação:
"O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever.“
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