sexta-feira, março 27, 2009

O melro

Marinho e Pinto, no seu melhor:

"Aconselhar o recurso a cartas anónimas, reunir com jornalistas (e com opositores do principal visado com as denúncias) são métodos que não são próprios de uma investigação criminal", escreve Marinho Pinto, acrescentando: "em processo penal não há conversas informais, mas sim diligências rigorosamente formais, ou seja, reduzidas a auto".

Pois não. Não há mesmo. Basta rever as imagens sobre o andamento do processo Casa Pia, quando Paulo P. foi preso e Ferro R. estava na berlinda, para o entender. Ler novamente a transcrição das escutas e relembrar que não houve ninguém que contasse no partido dos visados que não se mexesse para assegurar que o partido não iria pelo cano. Esteve quase, como reconhecem e apontam como objectivo cabalístico. Os ofendidos e denunciantes, esses, "podem estar a mentir", como adiantou logo e muito a propósito, o decano destas andanças.
Para o resto, temos os marinhos do costume, a afiançar cabalas e campanhas negras.
Bastará ainda rever e reler passagens das conversas de um certo Abel Pinheiro, a propósito de "chupetas internacionais", para indivíduos incómodos para o poder real e de facto, para entender onde anda o poder a sua consequência.
Marinho e Pinto está agora ao lado deste poder. Ontem, contestou a validade da criminalização do enriquecimento ilícito, com base em argumentos risíveis.
Hoje, pretende aviltar métodos de investigação que sempre foram utilizados e não constituem qualquer ilegalidade. A bacoquice da comparação com a América- para Marinho, este caso, se fosse lá, daria já uma investigação, como se esta não tivesse sido já feita, com a consequência que se conhece e o caso julgado já transitado...
Por outro lado, Marinho não tem acompanhado o caso do governador do Illinois. Devia acompanhar, para saber como é que se faz uma investigação criminal na América que agora, feito bacoco, anda a apresentar como exemplo. Se soubesse melhor, estaria bem caladinho.
Os objectivos de Marinho e Pinto, neste caso, afiguram-se turvos. Feito melro, anda a cantar trinados desafinados.
Mau sinal.

Aditamento:

ARTP1 abriu o seu jornal da tarde, com declarações de Marinho e Pinto. Torna-se imediatamente estranho que apareça agora a denúncia de Marinho e Pinto, com o sentido inequívoco de lançar mais lama de cabala, para a investigação do caso Freeport. Os outros telejornais, destacam a insolvência da Qimonda. Significativo, dos critérios editoriais da RTP. José Carvalho, não é? E a ERC, não é?

Para entender os contornos da "carta anónima", convém ler aqui, neste forum.
Para entender os porquês e os quês, das declarações mediáticas de Marinho e Pinto, vai ser preciso um pouco mais de esforço. Para entender as verdadeiras razões da repescagem de mais uma cabala, depois de ter sido julgada e transitada, é preciso configurar mais um enigma em que este Bastonário tem sido fértil.
Para já, a bacoquice da comparação com os americanos é uma lástima.
Depois, importa saber se os métodos agora denunciados por Marinho e Pinto, ou seja, a apresentação de queixas anónimas contra poderosos e influentes, por quem conhece factos concretos, pode ser uma das vias sugeridas pela própria polícia, perante o receio fundado das perseguições pessoais e concretas aos "whistle blowers".
Este conceito, para Marinho e Pinto, é chinês antigo. Do tempo dos mandarins.

24 comentários:

Anónimo disse...

Nunca percebi muito bem esta questão das "vítimas" de cartas anónimas, mas se interpretar à letra o que parece ser dito, se alguém acusar o PM de ter sabotado a estação permanente de Portugal na Lua, a PJ é capaz de investigar e o MP acusar? Ou será que a polícia é minimamente civilizada e cuidada de modo a comprovar, ainda que simplificadamente, sobre a eventual veracidade e sustentação do que ali é dito sem ouvir ninguém e muito menos o constituir arguido? E se por exemplo receberem uma chamada anónima a dar conta de um assalto que está a decorrer? E de um árbitro de futebol que vai receber dinheiro numa estrada nacional? E como apanham as polícias os correios de droga que chegam aos aeroportos? Não mesmo vão lá apanhar os tipos denunciados? Não dão publicidade disso? A intensa luta da corrupção parece mais a favor do que contra ela.

OSCAR ALHINHOS disse...

JOSÉ:

Desuclpe, mas como ainda dá ouvidos ao Márinho e ao que ele diz?
Coitado, ele quer é assegurar o tacho e ter a certeza de que se for apeado da Ordem dos Advogados onde pela 1ª vez, o Bastonário é remunerado, tem um salário mensal - Ganda Márinho, vc é que a sabe -, os nossos amigos Xuxas se lembrem dele e venha a ser vice-presidente do BCP; administrador da Galp, da Mota-Engil ou de qq outra coisa assim...
Afinal, não estão lá os Varas, F. Gomes, Coelhones e Cª?????

Deixem lá o homem governar-se!

Tino disse...

O outro ex-bastonário que também se encostou a Sócrates afirmou que Marinho Piupiu haveria de destruir a OA.

Fico a aguardar um comentário vindo da Quinta das Lágrimas...

portolaw disse...

José,

Parece-me que os representantes máximos das nossas respectivas profissões estão muito bem um para o outro, cada um ao seu estilo, pois claro...

portolaw disse...

Com a diferença óbvia, é verdade, que o nosso foi eleito e o vosso não, o que torna o nosso caso bem mais sério!

josé disse...

Pois...concordo, Portolaw.

O problema da escolha, nesta altura, pode tornar-se aleatório. Seja por legitimidade democrática directa, seja pela indirecta, pode haver sempre surpresas desagradáveis derivadas da falta de senso mais comum, consentâneo com os princípios fundamentais da democracia: o respeito e a ética na separação de poderes e na independência funcional.

portolaw disse...

infelizmente estamos na era da moda da transversalidade: nas competências, nas funções, e agora nos poderes...

josé disse...

O problema reside, naturalmente, em quem escolhe.
Faltam-lhe os princípios para uma boa escolha. Seja na directa, seja principalmente na indirecta.

Os interesses de quem escolhe determinam a escolha.

No caso da OA, a escolha deste Bastonário, a meu ver, foi consequência da reacção aos anteriores, principalmente o Júdice que desmereceu o cargo com a defesa dos interesses dos grandes escritórios. Inequívoca e que todos perceberam.

Saiu este espécimen na rifa precisamente por causa do discurso contra esse tipo de poder.
Vê-se agora que é um logro, um embuste e que é ainda pior do que o outro. Defende outro tipo de poder: o que politicamente lhe interessa.

No caso da escolha indirecta, verifica-se uma indigitação de uma aparência: a que assegure a maior garantia para a manutenção do poder que nomeia...

Ruvasa disse...

Viva, José!

Bem, pelo menos não foi capaz de chegar ao ponto de afirmar que o que constava da carta anónima alegadamente aldrabada era... aldrabice. O que é já um avanço... e bem sintomático...

Assim a modos que, como se tem visto até noutros casos, erigir-se a defesa não na inocência do acusado ou do indiciado mas apenas e tão só na menos curial recolha de elementos incriminatórios, como sejam escutas telefónicas processadas de forma menos cuidada.

Todavia, o que interessa para o caso é que não seja aldrabice o relatado e não o meio que serviu para relatar. Como o homem, aliás, bem sabe, embora faça de conta que não sabe, nesta sua ânsia de ruído embaralhador.

Há quatro circunstâncias que apontei em post desta manhã, que muito me estupefactam e em relação às quais aguardo que alguém - a começar por Marinho Pinto, claro - esclareça.

Abraço

Ruben

NB.- A questão dos representantes máximos apontada por portolaw é bem aquilo acerca do qual é costume dizer-se ser "tiro e queda".

Karocha disse...

José

Passei-me de tal maneira ontem que liguei para a TVI.
O Sr. Bastonário,já se deve ter esquecido, quando falava comigo por mail.

Este País anda completamente amnésico.

Miguel disse...

"No caso da OA, a escolha deste Bastonário, a meu ver, foi consequência da reacção aos anteriores, principalmente o Júdice que desmereceu o cargo com a defesa dos interesses dos grandes escritórios. Inequívoca e que todos perceberam."

É bem verdade!!! E por isso sinto um nó no estômago quando ouço/vejo os anteriores titulares de orgãos da OA (alguns ainda em funções) vir à praça pública criticar o actual bastonário...se é bem verdade que ele só faz asneiras...não é menos verdade que estes "paladinos" deviam era estar caladinhos....

Dr. Assur disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dr. Assur disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dr. Assur disse...

"Vê-se agora que é um logro, um embuste e que é ainda pior do que o outro. Defende outro tipo de poder: o que politicamente lhe interessa"

Meu caro amigo. Puxe pela sua memória e recorde o que lhe dissemos sobre o ilustre Doutor (especialmente a comparação com Sá Fernandes – ambos na altura militantes no Bloco de Esquerda e a explicação de Hugo Chavez).

Não nos diga que achava que um advogado que utilizava o meio jornalístico para discutir/auxiliar os seus processos judiciais em curso seria um Dº Sebastião?

Quanto à AO vem caindo lentamente e agora vive os seus piores dias. Pinto De Abreu explicou, sem se alongar muito, na SIC Notícias com vive actualmente aquela “casa”.

http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=130342

Dr. Assur disse...

Pois é caro amigo

Se Sócrates continuar a sua política de agradecimentos aos seus “amigos”, o ilustre Bastonário ainda vai surpreender muita gente. Incluindo o nosso amigo :)

Leonor Nascimento disse...

Marinho Pinto está totalmente desorientado e incapaz de despir-se da sua veste de jornalista. A inclusão do caso freport no Boletim da OA é disso prova.
Enfim, uma decepção!!

josé disse...

Apoiei certas declarações de Marinho e Pinto quanto se justificaram. Certas denúncias de desmandos concretos.

A partir de certa altura verifiquei um desnorte, uma tendência para disparar a eito, para alvos ambulantes, consoante o que lhe dava na veneta.

Marinho e Pinto é um tonto.

Leonor Nascimento disse...

Também eu, no início, acreditei que ele faria a diferença, mas rapidamente mudei de opinião.
Quem ataca tudo e todos, em simultãneo, não pode saber o que está a fazer. E o salário mensal que se atribuiu a si próprio deixou-me antever ao que iamos...

Dr. Assur disse...

Pois é.

O problema não é atacar tudo e todos mas sim concretizar as denúncias. É fácil afirmar que vai chover um dia. É verdade. Mas quando?

Claro que ele sabe o que faz. Existem é muito escadas para subir… E nós, por aqui, já o conhecemos há alguns anos … :)

Leonor Nascimento disse...

Sabe o que faz? Discordo! E ainda não vi nada. Aponte-me uma medida relevante que tenha sido mérito desta OA.
O problema é, de facto, atacar tudo e todos e da forma como o faz. Quem ocupa um lugar de relevo, representativo de alguns milhares de profissionais, numa área vital da sociedade, tem de saber actuar e ser certeiro nessa actuação. As coisas devem ser ditas ou denunciadas com peso e medida, de forma cirúrgica e com alvos bem definidos tendo sempre por objectivo uma finalidade e não, como tenho visto, mandar umas atordoadas para o ar, sem cuidar de ver onde caem, que efeito produzem ou se atingem o alvo. Metodologia e contenção são instrumentos preciosos para quem pretenda alterar coisas ou levar a água ao seu moinho. Não me parece ser o caso. No início ainda acreditei que fosse estratégia - como a única forma de se fazer ouvir, passados estes meses todos vejo que é hábito e forma de estar. E onde é que isso levou?

Roma e Pavia não se fizeram num dia.

Dr. Assur disse...

Leonor

As nossas desculpas porque, efectivamente, nos explicámos mal. Ele sabe o que faz em relação aos seus objectivos pessoais.

Sobre a OA concordamos inteiramente consigo. Como foi possível ele ter ganho? Sinal que tem alguma qualidade :)

O Drº Júdice disse que, se o deixassem, ele acabava com a OA…

Leonor Nascimento disse...

O Dr. Júdice? eheheehhe
Mas que bom exemplo?!! Tenha santa paciência! :)

Pires de Lima, volta. A OA precisa de si!
(hoje, estou muita espirituosa - como, por certo, dão conta - ehehhe) As férias judiciais aproximam-se e...

Dr. Assur disse...

Eh eh eh

É um bom exemplo porque ele tem razão. ;-)

Paciência é coisa que já não temos. Por isso entregámos o ”cartão de sócio” …

Waco disse...

Por falar em cartas anónimas, o chamado "Processo Cova da Beira", que por mero acaso, claro, envolve José Sócrates, também começou numa denúncia anónima.

E já que estava o link do fórum no post, aqui fica o link da notícia relacionada com esse caso:

http://www.forumnacional.net/showthread.php?t=34329

O Público activista e relapso