O presidente alemão, Christian Wulff, demitiu-se esta sexta-feira, depois da Procuradoria pedir o fim da sua imunidade num caso de Justiça em que é suspeito de corrupção. A "confiança dos cidadãos está afectada", "portanto, não posso continuar a exercer a minha função", afirmou, esta sexta-feira, Wulff, eleito em Junho de 2010, com o apoio de Merkel.
Comentário: na Alemanha o MºPº nem sequer tem a autonomia que o MºPº daqui tem ( porque depende do Executivo como por cá pretendem os Proenças de Carvalho da praça) e contudo não recuou perante um caso cuja comparação com recentes casos em Portugal até fica vários pontos atrás em indícios e relevância.
Em Portugal, um PGR deu-se ao luxo ( é mesmo isso, um luxo porque nunca tinha sido usado tal poder) de arquivar em modo secreto, insindicável e célere, sem qualquer diligência relevante, um procedimento que lhe fora entregue para accionar criminalmente um primeiro-ministro cujos indícios de prática criminal tinham sido devidamente ponderados por vários magistrados ( pelo menos três e com conhecimento directo dos factos).
Em Portugal, um presidente do STJ, arranjou um expediente legal a que chamou, depois de se ter aconselhado devidamente, "extensão procedimental", para arquivar escutas telefónicas indiciariamente comprometedoras e que lhe foram presente em expediente administrativo, num molho de papéis, como disse, e mandá-las destruir para que ninguém as ouvisse. Como justificação disse publicamente que as escutas nada tinham de relevante e até davam para rir.
Em Portugal, durante a campanha eleitoral para a presidência da República, foram levantadas suspeitas no mínimo semelhantes às que agora atingiram o presidente da Alemanha, em relação a Cavaco Silva e ao caso BPN, SLN e Oliveira e Costa.
Nada de relevante se fez para apurar devidamente tal caso, para além de desmentidos e apresentação de justificações que suscitam ainda mais reservas.
Na Alemanha a posição do presidente da República tornou-se insustentável por força da opinião pública e publicada. Por cá, controlam-se notícias e relega-se para o esquecimento as questões que contendem com certos intocáveis do poder político de topo.
O PGR que ainda temos, ouvido sobre assuntos deste teor disse ainda no outro dia que não se deve misturar a política com assuntos judiciários. Tal concepção tem apenas uma direcção sensível e contextualizada: evitar objectivamente que os políticos relevantes e por causa disso com maior responsabilidade, possam ser questionados criminalmente e responsabilizados enquanto tal, a não ser em casos gritantes ou com provas inquestionáveis.
O presidente da Alemanha nem sequer foi acusado criminalmente seja do que for e os elementos de facto que foram sendo apurados nem seriam por cá considerados relevantes. No entanto, concluiu que não tem condições para continuar a ser exemplo para o país. E demitiu-se.
Ontem, Cavaco Silva fugiu de uma manifestação de alunos numa escola. Tudo indica que este novel "provedor do povo" teve medo de apupos do povo.
É assim que estamos de democracia.
6 comentários:
Não podia estar mais de acordo com este "post" do José.
Quanto ao exemplo para Cavaco...é preciso ter um pinga de vergonha, e isso, é coisa que esta gentinha não tem!
Esta gente que está no topo do poder judicial que protege,encobre, destrói provas deve ser em breve tratada como os criminosos que são.Os actuais membros do Governo não podem continuar a proteger e encobrir os seus antecessores sob pena de serem cúmplices das suas malfeitorias.Para a credibilidade internacional de Portugal a luta decidida contra a corrupção vale mais do que umas décimas de deficit.
Não sei se também viu, mas Mário Crespo noticiou no J9 que teria estado programado qualquer tipo de protesto para ontem e tenho a sensação que era militar.
Acabo de ouvir as notícias na TSF (12.00H).
Só me oferece comentar:
Pôrra, demita-se homem!...tenha pelo menos uma vez na vida, um gesto digno.
para a esquerda e comunicação social nunca este PR existiu
para eles é 'o cavaco'
Não esperava outra atitude do Presidente da Alemanha e, para ser sincero, achava que se ia demitir mais depressa do que o fez. Hj em dia até parece mal elogiar a Alemanha, tanto por questões históricas como pelas posições que têm tomado em relação à Europa mas, depois, vemos exemplos de seriedade que urgem seguir...e percebe-se como conseguiram reerguer um país em escombros por 3 vezes (I e II GGM e incorporação da Alemanha comunista).
Por fim, além do PR do BPN e dos míseros 10.000€ mensais que, como todos sabemos, são insuficientes para despesas banais, continuamos sem saber o que se passa e passou com o mesmo BPN, com as PPPs e afins...
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