No O Diabo de hoje, o professor Soares Martinez faz um elogio do antigo presidente da República e no fim aponta-lhe dois erros que se traduzem num só: ter aceite Marcello Caetano como presidente do Conselho em Setembro de 1968 e não ter aceite a sua demissão em 1974, pouco antes do golpe militar.
Soares Martinez é um dos últimos defensores públicos do salazarismo mais puro e duro, ou seja do original, sem veleidades de evoluções na continuidade.
Curioso. Seria interessante especular sobre o que teria acontecido no caso de tais "erros" não terem sido cometidos.
Provavelmente seria presidente do Conselho alguém menos inclinado a qualquer primavera antecipada e portanto a censura ter-se-ia apertado, a repressão política teria aumentado e o isolamento político de Portugal seria ainda maior do que já era.
Tendo em atenção o estado geral do país, em 1968, com uma sociedade pronta para aceitar a democracia, propalada pela gente de esquerda instalada nos media, o que não foi obra de Marcello Caetano mas sim do salazarismo, teria sido muito interessante saber como iria o regime resistir aos "ventos da História" e à evolução da situação na guerra de África.
Teria ainda sido interessante saber como iria o regime resistir e regressar ao salazarismo puro e duro em 1974 quando a tropa já se tinha sublevado psicologicamente, com a publicação do livro de Spinola, Portugal e o Futuro.
O professor Soares Martinez parece-me que sempre sonhou alto, mas desta vez ressona um pouco...e bastar-lhe-ia pensar na atitude do Almirante Américo Tomás no próprio dia 25 de Abril de 1974 e dias que se seguiram: inacção, temor e, sei lá...cobardia, não? Que outro nome poderá ser dado ao que não fez? Desistência por se ver abandonado por quem não havia à sua volta porque também tinha desistido? Os "ultras" eram um mito, afinal.
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