sábado, julho 18, 2020

O judicioso Júdice e a banalidade do mal

No Sol de hoje há uma entrevista a José Miguel Júdice, personagem a quem já dediquei muitas linhas de escrita por aqui e por ali,  por causa da sua extraordinária forma de advogar, na PLMJ.
Esta sociedade de advogados que foi a de Júdice durante muitos anos, continua a ser uma das maiores do país, mas há vinte anos era incontornável, nos negócios que envolviam o Estado. Tanto que o mesmo Júdice alvitrou que deveria ser uma das três irmãs cuja consulta deveria ser obrigatória para tal efeito.

Depois de se reformar da PLMJ, Júdice passou a comentar judiciosamente coisas e loisas na TVI. Muitas vezes mal e outras até péssimo.
Porém, ouço quase sempre para aferir o índice de despautério acumulado pelos anos.


Nesta entrevista há duas passagens que destaco. Uma diz respeito à corrupção, tema caro a Júdice e cuja definição é abrangente:

Quando lhe falaram no caso da Casa Pia disse que havia crimes pior do que os que lá aconteceram e um deles era o "de corrupção, porque é a mãe de todos os outros".
Agora diz o seguinte que merece destaque: " Não estou só a falar dos crimes. É incorrecto que um secretário de Estado possa sugerir o amigalhaço de uma empresa onde ele trabalhou".

Se eventualmente o entrevistador tivesse mostrado a Júdice isto que aqui vai, imagino o que diria o actual komentador...



É inacreditável o que este advogado Paz Ferreira, marido da actual ministra da Justiça e futura efectiva como juiza conselheira, no STJ, faz e deixam fazer. Inacreditável!

Outra passagem que destaco é a questão do momento, do banqueiro Ricardo Salgado. Júdice komenta: "não estou a dizer que ele não cometeu crimes, estou apenas a dizer que é muito simplista dizer: era uma vez o Ricardo Salgado que era um gangster, um criminoso...se não houvesse o Ricardo Salgado nada disto tinha acontecido. As coisas não são, infelizmente, tão simples."

Pois não serão, mas a tranquilidade que esta banalidade do mal é transmitida torna-se inquietante. E com Júdice é quase sempre assim e julgo perceber porquê: este advogado nunca foi político mas conviveu sempre com a política, viveu dos arranjos da política ( caso GALP, com Nuno Morais Sarmento, da PLMJ, por exemplo) e normalmente defende os entalados da política, mesmo no caso Sócrates, como aconteceu com um dos advogados da sua firma... para quem o problema essencial era a publicidade a certas escutas do processo.

Enfim, um advogado imerso no Mal da nossa sociedade, o mais profundo e corrosivo e que apesar disso ainda consegue cheirar o esterco que o consome e sacudir algum, de vez em quando.

Sem comentários:

Megaprocessos...quem os quer?