Salazar tinha como ideário inicial uma trilogia de valores supremos: Deus, Pátria e Família. Não queria ver discutidos na praça pública da algazarra mediátia tais valores. Por isso impôs censura a quem se atrevesse a questionar tais valores em modo irrisório. Mas não era uma censura radical ou inquisitória, como pretendem alguns, uma vez que a esquerda, segundo é aceite pela mesma ( ver o que Eduardo Lourenço escreveu há uns bons anos e que aqui deixei à mostra, em recorte) dominava o panorama intelectual desde os anos 40 e tais valores não eram propriamente o cardápio das discussões intelectuais e habituais do jacobinismo em modo de confirmação.
Estes valores acompanharam-no até ao fim, em 1968? Nem sei, mas acho sinceramente que não porque Salazar, tal como Kant que nunca saiu do seu lugarejo de nascença, apesar de não ser cosmopolita tinha ideias assentes e cabeça para pensar por si mesmo. Salazar não citava autores a eito, nem sequer grandes filósofos, mas o que escreveu é dessa estirpe de sábios.
Porém, em 1968 não pensava certamente como em 1948, a propósito de certas realidades que se lhe impunham como evidências, sendo pessoa inteligente. Não pensaria o mesmo em relação à Pátria e à sua integralidade, como não pensaria em relação à Família ( que aliás nunca constituiu por motivos de eventual renúncia pessoal) ou em relação a Deus.
Portanto, a evolução é própria do Homemm e mesmo quando tal se apresenta como involução ou regressão a outro ambiente, tal significa mudança.
Quem veio a suceder a Salazar foi Marcello Caetano. Segundo um livro recente, muitíssimo interessante e que recomendo vivamente ( Os Lugares-tenentes de Salazar, de Manuel de Lucena. Alethea, 2015) o delfim provável seria Pedro Theotónio Pereira mas tal não aconteceu. Conhecendo o perfil deste tal como o de outras personalidades próximas de Salazar, como Armindo Monteiro ou Franco Nogueira, detecta-se a impossibilidade de evolução de um regime sem mudanças. E essas mudanças teriam necessariamente que acompanhar o "ar do tempo", ou "os ventos da História" ou seja, a modernidade que se impunha ao mundo ocidental em que estávamos inseridos.
A negação de tais tendências só se tornaria viável no caso de Portugal se fechar sobre si mesmo, tal como uma Coreia do Norte o faz actualmente ou os países do Leste europeu o faziam com os resultados conhecidos.
Pensar que tal seria possível redunda num irrealismo que atinge as raias do paroxismo utópico e por isso perfeitamente ocioso discutir.
Assim mostre-se a quem quiser ler o que foi a acção política e o pensamento de Marcello Caetano. Para tal nada melhor que as suas palavras coligidas em livrinho de propaganda mas que se lêem como se fora reportagem jornalístima ou ensaio ligeiro, tal a clareza de linguagem e a limpidez de conceitos.
Os excertos que seguem vieram directamente do livro da Direcção-Geral de Informação do Governo de então, em Dezembro de 1972 e referem-se á actividade dp quarto governo de Marcello Caetano ( é assim que se designa o livro).
Por aqui se demonstra que Marcello não repudiou a herança jacente de Salazar. Apenas teve que pagar imposto sucessório porque o valor dos bens era elevado...