domingo, abril 12, 2015

Salazar e a "estirpe dos antigos"

Segundo aqui se escreve, Salazar era da "estirpe dos antigos". Como não se explica o que seja tal coisa, há pano para mangas de gibão  do século XVI porque será preciso voltar a esse tempo para se entender qualquer coisa dos "antigos".

Quem nos pode ensinar o que foi o séc.XVI, da nossa "epopeia trágico-marítima"? Camões? Sim, esse pode. Viveu no tempo e escreveu sobre ele. Mas contou várias historietas para deliciar vindouros, como o fizeram outros ainda mais antigos, escrevendo obras de "referência" como a Eneida. E algumas delas são mitos, "símbolos interiores" de pessoas que viviam nesse tempo.

Se confundirmos esses mitos com a "estirpe dos antigos"  cavamos a nossa própria sepultura de realidade virtual. Criamos um realismo fantástico que nos destrói qualquer veleidade de conhecimento do que foi para se poder contar como é. Tais historietas, muito procuradas na ficção romanesca e de pura fantasia elevam-nos o  espírito,  colocando-nos em planos extáticos de consciência algo artificial,  em contemplação introspectiva e atávica de um Maravilhoso virtual.
 Voltando ao tema: Salazar seria mesmo da "estirpe dos antigos"? Para o ser torna-se necessário primeiro encontrar tal estirpe e não encontro. Não vejo essa estirpe em lado nenhum. Vejo, isso sim, a existência de pessoas singulares e excepcionais que da lei da morte se libertaram pelos feitos realizados que nos trouxeram colectivamente um acrescento de Bem, mesmo espiritual, nalguns casos. Mas infelizmente tal não constitui estirpe alguma, a não ser por categorização de espécie intelectual e que diferencia umas pessoas das outras. São esses os "grandes" disto e daquilo e nesta separação incluem-se também os grandes do Mal.
Porém, como somos todos iguais perante Deus e com adn específico, a estirpe dos antigos é um Mito, se categorizada sem mais adereços.

Assim e de chofre, quem era Salazar para se poder categorizar como sendo da "estirpe dos antigos"?

Teremos que perguntar à História e até há pessoas vivas que ainda o conheceram e mortas que dele deram testemunho. Há documentos, fotos e factos conhecidos e é só escolher o lado conveniente. Se formos para o lado esquerdo veremos um retrato perfeito de um digno representante da estirpe antiga dos fascistas, obscurantistas e  totalitários. Um belzebu laico. Se formos por outros lados, teremos um retrato mais consentâneo com o da época.

Por isso mesmo escolho estes lados diversos daquele que já sabemos muito bem como é. E para tal, dei uma coça mestra ao scanner que gemeu por todos os poros de luz para trazer isto e muito mais.
O artigo é da autoria de Barradas de Oliveira, um apologista de Salazar e portanto  insuspeito de o encalacrar em historietas seleccionadas para o efeito. Foi publicado na revista Resistência, do Verão de 1977, a mesma em que se denunciava a tentativa vã de colocar Marcello Caetano como traidor do ideal salazarista. Assim a modos da moda actual em amarrar Marcello a esse pelourinho, coberto de ridículo, na busca afanosa para encontrar um bode expiatório de insuficiências várias:



Sobre o perfil psicológico de Salazar estendem-se várias páginas e a páginas tantas, para concluir, emerge este texto onde se escreve sobre os mitos do passado, reflectidos no então presente. Com base num escrito de Miguel de Ferdinandy, o autor tece considerações sobre os mitos nacionais, particularmente o do Infante D. Henrique, o Navegador, citando Fernando Pessoa, Camões, o Encoberto e a ligação a Salazar, um recluso voluntário da fama que a si próprio se definia como "um prisioneiro". Do dever.



Será isso a tal "estirpe antiga"? A dos prisioneiros voluntários de um Dever? É pergunta que se coloca a quem tem o dever de responder.
Vamos supor que sim e avancemos um pouco mais: esse dever decorre da consciência de uma "recta intenção" , como já foi alvitrado por outros ( António José Saraiva, por exemplo) ser característica intrínseca à personalidade de Salazar?  Julgo que também assim será.

Mas se o é, para quê precisar de mitos e lendas? Para quê ornamentar o panorama ideológico tão simples como o que Salazar ostentava nos seus escritos,  com imputações espúrias de fantasias oníricas sobre epopeias bélicas e conquistas fantásticas dobradas em cabos de tormentas imaginários?

Sobre o perfil psicológico de Salazar e as suas idiossincrasias:





Salazar era essencialmente um camponês na mais bela acepção da palavra, a de um ser que resistiu bem às intempéries. E era também alguém cujo intelecto o familiarizou com ideias escritas e as aprendeu de tal modo que passou a ensinar. Parece que acima de tudo temia o ridículo. Era alguém que regressava ao seu campo onde nasceu e onde viveu entre belezas naturais simples e imutáveis. E disse-o à francesa Garnier: "Sou um camponês, filho de camponeses. Não posso viver sem respirar o cheiro da terra. Para trabalhar preciso de sentir em volta de mim árvores, moitas e flores. [o cantar das fontes] é o único ruído que suporto. Gostaria de ouvir a toda a hora este canto cristalino."

O ambiente rural de Salazar foi neste lugar, agora só imaginado porque passados mais de 45 anos se alterou a paisagem.





Visto isto de onde é que ressalta daqui a mitologia afunilada dos encobertos todos das gestas gloriosas de um passado distante e cuja ligação a este lugar é apenas suposta?  Este lugar não tem mistério algum, mas tem uma dignidade que até impressiona. E isso é que, no meu modesto entender é o verdadeiro sentido de qualquer estirpe antiga digna de menção...

Questuber! Mais um escândalo!