quarta-feira, abril 01, 2015

Os intelectuais do ópio

Em 16 de Março de 1985 o Expresso publicou três páginas com um texto de Eduardo Lourenço no qual faz uma resenha da intelectualidade indígena.

Vale a pena ler porque resume em três tempos de página o que era a nossa desgraça e continuou a ser. Particularmente, são de antologia as frases iniciais sobre o devir da utopia sonhada e a sua frustração prematura.

Custa a crer que pessoas inteligentes ( será mesmo o caso?) tenham acreditado em patranhas que nos anos setenta eram já tão evidentes para outras mentes intelectuais,  mormente da França onde vicejava a cultura que nos servia de fonte de regadio das mentes nativas.

Poderá a essência de tais fantasias ressumar a ingestão de substâncias alienígenas à mente natural?

O intelecutal Lourenço, hoje muito posfaciador de livritos apócrifos e visitador ( lá saberá porquê...) de reclusos inenarráveis  afirmava claramente no escrito:

"Durante quarenta anos, alguma coisa como um 25 de Abril- quer dizer, a libertação de um sistema de partido único, ultraconservador, herdeiro ideológico da contra-revolução europeia- tinha sido esperado por grande parte dessa "intelligentsia". O carácter implacável, sob um aspecto melífluo, do antigo regime, com a sua omnipotente polícia política, a sua censura miudinha, a sua imprensa, rádio e televisão, não permitia nem diálogo nem intervenção propriamente política".

Tirando de lado a falsa questão colocada, uma vez que tal não corresponde inteiramente à verdade factual e histórica, antes a uma impressão pessoal e subjetiva de alguém que queria alforria para minar as bases do Estado e sapar os alicerces de uma Nação, como aliás aconteceu depois e logo a seguir, surge a explicação para o advento da utopia revolucionária almejada:

"Pelo contrário, no plano estritamente cultural, o carácter limitado do sistema suscitou  não só uma resistência moral e intelectual considerável, como também permitiu à "intelligentsia" portuguesa viver uma espécie de paradoxal idade de ouro. (...) A partir de 1940, a esquerda intelectual domina culturalmente o panorama português. Será assim praticamente até à Revolução".

Fica assim explicada em parte a evolução da intelectualidade para uma adopção acrítica do esquerdismo mais atávico e centrado nas propostas ideológicas mais diversas dentro do marxismo: partidos m-l e partidos mais ortodoxos; partidos envergonhadamente social-democratas e com complexos de esquerda e partidos extremistas e terroristas, com vontade de Revolução.
Tudo se conjugou para o grande happening que ocorreu logo a seguir ao golpe que devolveu essa Liberdade: a de se associarem e manifestarem aqueles que pretendiam apenas destruir o Estado como o conhecíamos. E quase lograram tal intento, só desisitindo de tal desiderato proclamado, aparentemente,  no tempo em que o intelectual Lourenço isto escrevia...nem sequer há vinte anos.
Como herança jacente ficou a utopia e a frustração para se reunirem ambos à esquina, a tocar a concertina e a dançar o solidó, no...Bloco de Esquerda e adjacências quejandas e politicamente malcheirosas.
Lourenço continua actualmente firme na utopia que lhe advém de o PS ser um porto de abrigo seguro para as intempéries da vidinha.


Questuber! Mais um escândalo!