terça-feira, abril 14, 2015

O calcanhar de dragão



 O Temível que aqui escreve num estilo literário que qualquer um poderia invejar e apenas carece de poda ligeira para atingir a excelência, abespinha-se e amofina-se em tom chocarreiro sempre que é questionado ou criticado por dá cá aquela palha.
Não suporta de ânimo leve quem o sindique de algum modo no que escreve, porventura desgarrando frases que se tornam fonte de equívocos e nessa altura engrossa a casca da carapaça até ao limite da ira virtual, com palavrões de circunstância e  insultos à ilharga que se confundem na retórica estrebuchante daquela pesporrência.
Esses  arrotos virtuais, lindamente  escritos em tom artificialmente  mal-disposto com humor à flor da casca, são, no limite,  artifícios humorísticos, às vezes de gosto duvidoso e que se desculpam logo pela excelência no trato das letras e frases. Fazem rir, quase sempre. Quando não fazem, perdem o efeito.
Porém,  essas cuspidelas de fogo retórico raramente acertam no alvo porque se desviam da trajectória.  São tiros num vazio que se queria preenchido por respostas mais certeiras às dúvidas colocadas.
Pela minha parte,  quando estou para aí virado,  também me diverte escoucear impropérios e artificialmente cuspir na sopa, se preciso for, para castigar renitentes e relapsos naquele exercício vão.  Advogo pelo diabo para fustigar mitos, se tal me der jeito.
Mas hoje, afinal,  nem estou em maré de guerrilha virtual e por isso repouso a lança e abandono o escudo.

Aqui neste blog tenho tentado perceber o que se passou em Portugal no tempo antigo que vem desde os primórdios do Estado Novo.
Não tenho estudos para muito mais do que tentar perceber tais fenómenos sociais e políticos através de testemunhos escritos e por vezes vividos.  Numa boa parte os escritos aparecem em jornais, revistas e livros e não sei como substituir tais fontes primárias por outras que não existem. 
Como isso, dou tratos de polé ao scanner e procuro mostrar o que tenho visto, para que todos possam ler se assim quiserem e tirar as ilações que procuro tirar. 
Em resumo, sou um diletante, ainda por cima relativamente recente  e procuro ler mestres para aprender alguma coisa.

Sobre Salazar e o passado recente parece-me importante perceber a figura, o Homem e o Tempo desse tempo.
Por isso quando preciso de entender o que significa "a estirpe dos antigos" não me diz nada que alguém explique que é o tempo daqueles que "os tinham no sítio".
Preferia que me explicassem que estirpe era essa que deveríamos entender e preservar, porque realmente não chega dizer que é a estirpe dos corajosos ou dos que não tinham medo de morrer de medo ou coisas semelhantes.

Não há estirpes desse calibre para apresentar como modelo educativo a crianças em idade escolar.  Há figuras individuais e actos isolados de personagens históricos. Porém, a coragem muitas vezes aparece misturada com a temeridade e esta com a ignorância. 
Não foi o caso de Salazar, parece-me. E se no seu comportamento pessoalíssimo se adivinham facetas inesperadas que fazem pensar em personalidade complexa e de difícil recorte, tal só admite que se coloquem hipóteses para se entender a pessoa concreta que nasceu em determinado local, viveu como viveu e fez o que fez. 

Por exemplo e em relação ao nosso então Ultramar, Salazar era aparentemente irredutível na configuração dessas terras como fazendo parte da nossa Nação.

Porém, à medida que se lêem coisas e se recortam factos e notícias, avultam outras hipóteses. 

Em 12 de Agosto de 1963 Salazar  fez uma declaração solene sobre a "política ultramarina" e em algumas páginas finais dizia isto:


Numa entrevista publicada na revista americana Life, de 4 de Maio de 1962, Salazar, reafirmando todas as ideias básicas da política ultramarina e acolitado  na altura por Franco Nogueira, também entrevistado, queixava-se da política externa dos EUA relativamente a Portugal e dava conta do nosso isolamento de facto, no concerto das nações ocidentais.

Talvez por isso lhe tenha escapado esta, nessa entrevista:



Há aqui, inegavelmente, um embrião de dúvida. E que não é desmentido pelo desfiar das razões clássicas que nessa altura eram as nossas para permanecer no Ultramar contra ventos de história e marés que não convinham:


 E agora sem ironia:

Quando coloco estes recortes faço-o com a intenção que destino para mim, em primeiro lugar: esclarecer dúvidas. Nunca para afirmar certezas que não tenho. 
É esta atitude que me permite julgar os factos sem emitir sentença definitiva ou transitada em julgado. Estão sempre sujeitos a recurso e a decisão superior. Se for o caso, claro...

Questuber! Mais um escândalo!