terça-feira, abril 07, 2015

Marcello Caetano e a herança jacente de Salazar II

Aqui ficam mais uns textos sobre o terceiro ano de Governo de Marcello Caetano, publicados no livro homónimo em 1971.

Estes textos demonstram sem margem para qualquer dúvida que Marcello Caetano foi um continuador da obra de Salazar ajustando-a às exigências do tempo mas sem a adulterar na sua essência. Provavelmente fez o que Salazar teria feito em seu lugar.

Para rebater estas ideias é preciso ler os textos...porque escrever de cor não vale.  Isto não são recortes de jornal mas de livro e demora muito menos a realizar do que transcrever os textos.
Por outro lado isto não se encontra em lado algum e duvido que alguém tenha consultado isto para escrever sobre Marcello Caetano. Há muitos eruditos de saber já feito e opiniões prontas a emitir, juntando um pouco de pó de preconceito e de água de esquecimento. O micro-ondas da escrita faz o resto.
Porém, manuseando os ingredientes todos e esperando a cozedura certa, demora mais tempo, saindo mais saboroso.












15 comentários:

Floribundus disse...

passei fora do rectângulo todo o ano de 71

notei melhoria das condições de vida

estava mais preocupado com o trabalho no sector industrial

em 68
1 concorri à direcção do sindicato em que era filiado e a lista não foi aceite ... falta uma vírgula
2 desisti da oferta de cátedra. quando falam em prof drs mijo-me a rir por saber como são escolhidos

desinteressei-me totalmente da política.
pelas informações que me chegavam via gente honesta da maçonaria o regime iria em breve 'dar o berro'

as minorias activas andavam muito agitadas
ao contrário dos apoiantes do regime

havia gente preparada para 'mudar de casaca',
como depois se viu

'domani è un altro giorno' cantava Ornella Vanoni
E' uno di quei giorni che ti prende la malinconia
che fino a sera non ti lascia più
la mia fede è troppo scossa ormai ma prego e penso fra di me
proviamo anche con dio non si sa mai
e non c'è niente di più triste in giornate come queste
che ricordare la felicità sapendo già che è inutile ripetere:
chissà ? Domani e' un altro giorno si vedrà
è uno di quei giorni in cui rivedo tutta la mia vita
bilancio che non ho quadrato mai
posso dire d'ogni cosa che ho fatto a modo mio
ma con che risultati non saprei
e non mi sono servite a niente esperienze e delusioni
e se ho promesso non lo faccio più ho sempre detto in ultimo :
ho perso ancora ma domani è un altro giorno, si vedrà
è uno di quei giorni che tu non hai conosciuto mai

'see you latter alligator!'

zazie disse...

Excelente informação, José.

É sempre mais fácil inventar-se opinadores que estudiosos.

josé disse...

Esta linguagem, tal como a de Salazar, é claríssima e toda a gente com a quarta classe a compreende.

Por isso valia a pena lerem-na.

Mas não lêem. Nem o Dragão o faz porque lhes desfaria os mitos e isso é o que mais custa: perder referências mitológicas.

josé disse...

Desdenham das conversas em família mas louvam-se em escrevinhadores de saguão militar como o Kaúlza, para a renovação da Fé.

Essas conversas no entanto, eram o que de mais próximo havia dos discursos de circunstância que ninguém ouvia quando o Salazar ainda era vivo e punha aqueles óculos com voz melíflua.

Só o Novidades e o Diário de Notícias lhe davam destaque...

Porém, quem agora os lê, verifica a extrema qualidade discursiva que na altura era relegada para a propaganda da situação.

zazie disse...

Tenho ideia que a principal influência vem dos escritos do Jaime Nogueira Pinto.

No ano passado já o José o tinha referido.

joserui disse...

Caro José, não tem uma tese à la Arroja, tipo de duas linhas, a ver se eu entendo o que quer dizer?
Não sei se percebi totalmente a questão com o tal Dragão… resume-se a um considerar o Marcelo como total responsável de uma coisa e outro não? -- JRF

josé disse...

Não. Provavelmente entendo o que o Dragão quer dizer e aceito em parte.

A minha teoria, conjectura, hipótese é a de que Marcello Caetano foi o melhor governante que poderíamos ter naquela época.
Quem fraquejou foi o tempo que a História nos trouxe. Marcello não poderia fazer muito diferente e o que fez foi notável, quanto a mim.

O Dragão também o respeita como pessoa de bem e de saber, mas acha que fraquejou como executor testamentário de Salazar e-pior ainda- aliou-se objectivamente aos golpistas do 25A porque não resistiu como devia.

Essencialmente será isto.

josé disse...

O que eu aceito parcialmente na teoria, conjectura e hipótese do Dragão é que a personalidade de Marcello não seja a que eu penso que é.

Ou seja, aceito que haja erro de percepção porque só é possível saber quem uma pessoa seja, convivendo com ela ou conhecendo pormenores de vida que sejam essenciais para a qualificar.

Mas o erro de percepção tanto pode ser meu como de outro, mormente do Dragão ou de qualquer outra pessoa que escreva sobre o assunto.

Acho que conheço o Cavaco por exemplo, através desses pormenores...

Quanto ao Marcello não sei, mas o que sei até hoje parece-me bem.

joserui disse...

Hmm…Percebi. Eu não conheço a não ser de coisas lidas, como se imagina. Para mim Marcello pode não ser um Salazar, mas a distância a que está desta tropa fandanga de hoje é a mesma. Não se pode sequer comparar —repare que algo que elogia repetidamente— a clareza da linguagem, é hoje o inverso e contratam-se pessoas para obscurecer tudo, confundir e enganar o povo (que na minha opinião está pior informado hoje, por isso e não só).
Marcello apanhou uns ventos da história bastante ingratos… parece que a história se começou a acelerar desde os anos 60 e nunca mais parou… e não sei onde vai parar. Visto daqui, realmente não sei o que poderia ter feito diferente como governante. No 25A, de facto há algum mérito no argumento que o regime caiu de maduro, porque nenhum regime cai por levantamento de rancho… A total ausência de resistência em todo o lado, as manifestações gigantescas provavelmente com as mesmas pessoas que tinham estado nas anteriores semanas antes… Há algumas particularidades que não se entendem. -- JRF

joserui disse...

Apesar de tudo, felizmente que aqui no Norte a resistência ao comunismo foi assertiva e não deixou dúvidas… é um ponto positivo do desastre. Se não fosse o Norte e a Igreja, hoje era tudo vermelhicida. -- JRF

Bic Laranja disse...

Ofereceram-me inesperadamente hoje este

discurso do prof. Marcello Caetano na Assembleia Nacional em Novembro de 1968. Ainda não tive tempo de o ler, mas o título é sugestivo do que se esqueceu e daquilo que deixou de reger a política desde desde 74.
Cumpts.

Anjo disse...

A recta intenção era um tema recorrente, uma espécie de princípio estruturante da ética governativa.

António José Saraiva também a refere a respeito de Salazar, no famoso artigo publicado no Expresso em 1989.

Nunca mais se ouviu falar dela, o que é muito revelador. Terá passado de moda? E de onde virá? Quem terá usado o conceito pela primeira vez em política?

josé disse...

Uma vez calhei em falar nisso num almoço entre colegas...

Erro meu, má fortuna! Cairam-me em cima logo. Que o Salazar era pior que as cobras e que a "recta intenção" até o Hitler a tinha...

Desisti logo de insistir na conversa.

Há coisas que não adianta nada conversar com algumas pessoas. Infelizmente são muitas mesmo.

josé disse...

E no entanto bastaria que essa noção fosse do conhecimento alargado das pessoas para que a linguagem política se modificar radicalmente.

Quem introduziu o presente liguarejar político foi a Esquerda.

Interessa-lhe tal linguarejar porque é factor de obnubilação, ou seja, de obscurantismo.

Maria disse...

"Interessa-lhe tal linguarejar porque é factor de obnubilação, ou seja, de obscurantismo."

Mas se esta observação está correctíssima, porque será que 90%, para não dizer 99% dos portugueses, não se revoltaram e continuam a não fazê-lo contra este estado de coisas ou, como sugere, contra este lingua(re)jar??

Por amorfismo? Por oportunismo puro e duro? Por um medo aterrador instilado na mente de uma população inteira, através de um qualquer método satânico, subterrâneo e oculto, pela mão de uma esquerda ultra minoritária (em que se engloba a comunista e a socialista que aliás a comandam, porque òbviamente estas não sobrevivem sem aquela) que teve o desplante e a desvergonha inaudita de se apossar das rédeas da Nação sem o mínimo temor de ter de enfrentar oposições tivessem elas surgido por iniciativa da população ou da chamada direita conservadora, alguma da qual por esta altura já constituída em partidos ou em movimentos direitistas, por justamente não ter encontrado o mais pequeno entrave, barreira ou impedimento à sua investida revolucionária ou, ainda menos, ameaça de confrontos físicos graves (salvo casos esporádicos despoletados pela Brava gente do Norte do País, que, pondo-a embora de salvaguarda, foram contudo insuficientes para lhe travar os ímpetos criminosos)?

Repito a pergunta, porquê semelhante indiferença da parte de um povo inteiro e particularmente de uma direita esclarecida em defender a Pátria do inimigo (já que caso esta tomasse a dianteira pedindo o seu apoio e ajuda, aquele tê-la-ia seguido sem a mínima hesitação, dando a vida se necessário fosse, até à vitória final)?

O que realmente esteve por detrás desta tão estranha quão obscura - e até certo ponto cobarde - tomada de posição da maioria dos portugueses, que o eram de alma e coração, é que é necessário pôr a claro sem receios nem pudores e sobretudo sem temer o confronto ou ameaças vís vindas daquela facção ideológica, mas outrossim com a Valentia e a Coragem que sempre nortearam o espírito deste povo destemido, qualidades que o levaram a travar inúmeras batalhas tidas à partida por perdidas e no entanto saíndo delas vitorioso ainda que à custa de muito sangue derramado, mas tudo por haver tido ao seu comando Grandes Homens que ao colocarem em primeiro lugar a defesa intransigente da Pátria lutaram, sofreram e venceram. São eles os nossos eternos Heróis.

Tal como igualmente o seriam hoje todos os que em 1974/5 tivessem terçado armas para vencer o inimigo. E tê-lo-iam conseguido como o haviam feito vezes sem conta nos muitos séculos que levamos de História. Porém e infelizmente nesta triste história do 25/4 não houve heróis, só cobardes, desinteressados e traidores. E será assim que ficarão para a História.

A obscenidade do jornalismo televisivo