domingo, abril 30, 2017

O jornalismo do Expresso recende a madrassa antifassista

Segundo aqui se anuncia, o Expresso escreveu sobre a visita do Papa Paulo VI, ocorrida em 13 de Maio de 1967, isto:

Salazar, em 1967, era chefe do Governo quando, pela primeira vez, um Papa visitou o país. O ditador decretou um dia de feriado nacional a 13 de maio e permitiu uma amnistia geral. Mas recusou encontrar-se com Paulo VI, depois de o Papa ter recebido, em Roma, representantes dos movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas de África.

Em três parágrafos duas asneiras, para além das expressões   -"ditador", "movimentos de libertação" em si mesmo asnáticas.

Salazar, em 1967 encontrou-se com Sua Santidade o Papa Paulo VI, como se dá conta nestes recortes originais:

Segundo o Diário de Lisboa, Salazar até se comoveu com a visita do Papa. E na Flama de 19 de Maio desse ano, mostra-se uma foto que não engana: Salazar esteve na tribuna na recepção a Paulo VI. De resto a visita era de Estado [ corrijo: a visita do Papa foi como "peregrino" e não formalmente como representante do Estado do Vaticano, embora tal distinção seja algo supérflua] e por isso foi recebido pelo então presidente da República, Américo Tomás.


A outra asneira reside no facto de se dar como explicação para o fantasioso não encontro a circunstância de Paulo VI ter recebido antes, representantes dos movimentos de independência das províncias ultramarinas, por nós então chamados de terroristas e não de "libertação".

Tal facto ocorreu em 1970 e a Flama de 17 de Julho desse ano dava conta do  episódio e do modo como o Estado português e o Vaticano lidaram com o assunto delicado:


Quando os jornalistas se formam nas madrassas do ensino jacobino e anifassista é no que dá...

Antes do mais, o que é o Liberalismo?

Em leitura desta semana dei conta que o "liberalismo" é assunto de conversa. Acicatado por este fim de texto...

Salvo os irremediavelmente patetas, os portugueses sabem que a liberdade de “Abril” é, no mínimo, um bocadinho fraudulenta. E sabem que a “justiça social” é um eufemismo para o controlo da economia por uns tantos. E sabem que a retórica das “causas” é um projecto de lavagem cerebral. E sabem que o regime é propriedade de grupos, grupúsculos e “personalidades”. Simplesmente não querem saber. Os portugueses querem levar a vidinha sem sobressaltos, maçadas e vergonha na cara, promessas em que, por exemplo à semelhança de Salazar, a esquerda é exímia. Falar-lhes de liberalismo é um luxo inútil, uma excentricidade similar a descrever os méritos do casamento aberto a um membro do Estado Islâmico. O tipo olha-nos com desprezo, vira costas e regressa à rotina de cortar cabeças. Os portugueses não cortam cabeças, mas não têm a sua em grande conta.

...aqui aí vai um comentário:

Com  que então a conversa  sobre "liberalismo" é inútil?  Pode ser mas também se denota que a  conversa sobre Salazar será uma perfeita inutilidade, sem uso prático nos dias de hoje. E sobre o Estado Novo ainda menos, pelos vistos e segundo uma expert que escreve no Observador e não tem idade para ter vivido nesse tempo ( Maria João Marques).

O "pensamento" de Salazar está arredado de qualquer discussão entre opinadores mediáticos com notoriedade porque já definiram e circunscreveram todo o assunto: para uns é apenas um fascista, ditador sem direito a consideração intelectual; para outros um anti-liberal, avesso à liberdade e portanto igualmente sem consideração intelectual que lhe valha.
Esta confluência de aparentes antagonismos concilia-se na mesma essência: sectarismo ideológico.

No caso do "Liberalismo" é mesmo um contra-senso, tendo em conta o proclamado valor da liberdade individual de pensamento sem barreiras alfandegárias politicamente correctas.

Por isso a primeira questão a colocar é sobre o conceito de Liberalismo. O que é, afinal, em Portugal?

A primeira vez que ouvi falar publicamente de tal ideia estruturada nessa palavra foi já no dealbar do séc. XXI pelo que ficaram de fora algumas décadas em que esta noção contou zero para a discussão política.

No tempo de Marcello Caetano como era percebido este "liberalismo" ? Com muitas reservas e que o mesmo explicou bem, para toda a gente entender numa altura em que a clareza de conceitos era regra geral.

Em 1973 no livro publicado sobre o Quinto Ano de Governo, dizia assim sobre os sistemas políticos e económicos:


 Basicamente haveria então duas concepções de vida:

A de um Estado que respeitava o que havia de essencial na liberdade do homem, a sua iniciativa e possibilidade de por via dela adquirir e dispor de bens materiais e melhorar a sua condição e a de um Estado que "tudo concentra e dirige, através de uma rede omnipresente e omnipotente de funcionários à qual estão submetidos ainda que com enganadoras aparências de autonomia".

E não se referia Marcelle Caetano "à anarquia, como exacerbação do liberalismo", como opção, considerando assim de caminho esse liberalismo como uma ideia libertária para além do admissível.
Para Marcello Caetano a Liberdade era necessária na medida em que mantivesse a essência de uma sociedade personalista, "para conservar a dignidade do homem como centro de decisões e senhor dos seus destinos, para empenhar os indivíduos na construção do futuro por suas mãos- e não para deixar o caminho aberto a totalitarismos."
E prossegue que todos estimaríamos estar numa sociedade largamente permissiva, se tal fosse possível, como de facto não era e avisava os que clamavam contra a autoridade do Estado, agitando o espantalho das tendências totalitárias do poder político que tal perigo advinha antes dos movimentos extremistas.  E mostrava depois o que eram esses perigos, mencionando em que consistiam as "liberdades fundamentais" :


 Uma das preocupações de Caetano era já o Estado Social, "onde a defesa da personalidade se realizará pelo sacrifício de certas exacerbações individualistas em benefício de interesses colectivos" admirava-se que numa época como essa que era então a nossa ainda aparecessem "espartilhados nas casacas de 1820, os liberais a todo o transe".

Ou seja, Marcello Caetano não era liberal, como agora o querem ser os que defendem o Liberalismo a todo o transe...

E porque não era liberal Marcello Caetano? Explicou bem e resumidamente:


"Temos de escolher entre um regime que aumente os princípios da iniciativa individual, da propriedade privada, da liberdade civil- e o comunismo que aniquila a iniciativa, a propriedade e a liberdade dos indivíduos para os substituir pelo domínio tirânico de uma nova classe burocrática. "

Essencialmente era esta a escolha que se deveria fazer. E avisava que não havia terceira via, pois o Socialismo democrático da Internacional Socialista não seria solução na medida em que o comunismo se lhe sobreporia imediatamente e o abafaria.

Foi profética esta previsão porque foi isso que sucedeu nas semanas e meses que se seguiram ao golpe de 25 de Abril de 1974.

Para Marcello Caetano a escolha de regime em 1973 era clara e apresentou-a: ou a Liberdade condicionada do regime que existia ou o totalitarismo comunista à espreita.

Para tal não havia lugar ao liberalismo saído de uma experiência quase libertária e anarquista. Marcello Caetano estava mais próximo de Keynes do que de Hayek, se quisermos.
Porém não era assim tão simplista. Se para Hayek a sociedade era mais complexa do que o cérebro humano, Marcello Caetano compreendia tal fenómeno e temperava as suas opções ideológicas fugindo à planificação científica do socialismo comunista e aceitando a ordem do mercado como uma cataláxia: uma ordem espontânea que se produz através dos actos as pessoas que conformam com as regras jurídicas da propriedade, dos danos e dos contratos. E aceitando por isso o mecanismo dos preços. Ou seja, o que Hayek defendia.
Hayek percebia que o capitalismo é superior ao comunismo porque este se torna ineficaz por não compreender a natureza do processo económico. Marcello Caetano não pensava de modo diverso.

E se esta era a teoria básica, válida ainda hoje, confundir-se-ia o liberalismo económico e social defendido nos anos vindouros com essa situação extremada de laissez faire, laissez passer associada a uma retracção do Estado para redutos ínfimos?

Pois tal denota apenas a opção por métodos de eficácia teorizados e experimentados depois, dentro desse quadro mental de concepções económicas fundamentais.

 Quando alguém "sobrepõe a liberdade individual como valor absoluto e superior ao individualismo, racionalidade, progresso, bem comum e paz civil, sociabilidade, poder político limitado e responsável não se anda longe das posições anarquistas", como dizia Marcello Caetano, embora esta citação seja de um livro de 2009 ( Qu´est-ce que le libéralisme? de Catherine Audard).


O "libertarismo" associado ao liberalismo terá surgido com Herbert Spencer, no séc. XIX e ressurgiu na América dos anos sessenta como reacção ao intervencionismo estatal, vindo da escola austríaca, de Roberto Nozick, passando por Mises e Leo Strauss.
Estas ideias vincaram a crítica à redistribuição social-democrata de riqueza para com os mais desfavorecidos, baseada em argumentos radicais acerca da injustiça de tal efeito, com desprezo pelos conceitos da "mão invisível" de Adam Smith ou da "ordem espontânea" de Hayek. Essencialmente, a liberdade das trocas asseguraria a justiça  e seria suficiente para tal devendo evitar-se toda a intervenção do Estado nessa tarefa para evitar a limitação das liberdades individuais.
Os direitos de propriedade têm a prioridade sobre os demais e ocupam o seu espaço, particularmente os do Estado Social e das prestações redistributivas em prol dos mais desfavorecidos. 

Será este o liberalismo "libertário" que se defende agora, em Portugal?  Não acredito...

E se não for, o que será então?  O que foi posto em prática pela Thatcher ou por Reagan nos anos de poder anglo-saxónico, com influência da escola de Chicago de Milton Friedman?  Esta mutação do liberalismo procurou desfazer os monopólios nas empresas e ao mesmo tempo controlar o poder conquistado pelos sindicatos e corporações, em nome do mercado.

Na prática, a Grã_Bretanha de Thatcher lutou contra os sindicatos e reduziu os impostos na saúde, educação e transportes, incentivando o acesso à propriedade privada, mas não se pode dizer que tenham desmantelado os serviços sociais. Simbolicamente acabou com a distribuição gratuita de leite nas escolas infantis.
Ou seja, o que Thatcher ou Reagan fizeram nos seus países foi o que tínhamos por cá, no tempo de Marcello Caetano, o que não deixa de ser irónico...

Actualmente, o liberalismo nacional não pode deixar de pugnar pela reversão de algumas "conquistas revolucionárias" que ficaram até consagradas constitucionalmente. Nesse aspecto, nós em Portugal estamos 40 anos atrasados em relação a outros estados europeus. E de algum modo em 1974 tendemos para um regime que se aproximava do totalitário de que Marcello Caetano falava.
Se tal não se concretizou deveu-se a vários factores e um deles até foi o de a Internacional Socialista não o ter permitido através dos seus representantes por cá ( PS de Mário Soares).

Portanto os "Liberais" de agora têm tanto que fazer antes de atingir o estádio em que a Grâ-Bretanha se encontrava nos anos oitenta que só nessa altura poderão reivindicar as mesmas medidas tomadas: reduzir o poder dos sindicatos e baixar os impostos. E acabar com algumas "prestações sociais".

Até lá é preciso mudar a Constituição, diminuir o poder do PCP e dos sindicatos que o Arménio Carlos e Mário Nogueira dominam e controlar a loucura exasperada do BE.
Vincar o idealismo liberal antes disso é utopia pura, parece-me. E para o conseguir só vejo um caminho: conhecer o comunismo, o PCP e o BE para denunciar o que são e o que pretendem.

Falar do Estado Novo, de Salazar e de Marcello Caetano é um atout, ou modo de vincar uma diferença ao mesmo tempo que se compreenderá melhor quem somos pelo que fomos, porque ninguém nasce sem raízes. Nem sequer os libertários do liberalismo...


Komentários deletérios sobre a Justiça


António Barreto é um dos komentadores mais conhecidos nos media nacionais. Foi opositor ao regime de Salazar e Caetano, tendo estado "exilado" numa Suíça intelectualmente retemperadora nesse tempo de guerra no Ultramar e depois associou-se ao partido Socialista, desde o início, depois de ter sido temporariamente comunista, abandonando tal partido por ter sabido o que se passara em 1956 e 1968 no centro da Europa, ao contrário dos fósseis que por lá andam que ainda não sabem.

A.Barreto foi ministro em 1978, de um governo PS e tentou com algum sucesso desfazer as loucuras comunistas no Alentejo agrário, sendo vítima durante longos meses de vitupérios escritos em paredes contra a "Lei Barreto" que retirava aos comunistas a propriedade plena que roubaram aos agrários durante o PREC. Nunca lhe perdoaram, obviamente.

Depois foi cronista assinalado na primeira página do jornal do actual regime, Expresso, numa pequena quadrícula de poucas frases. Aí se habituou a komentar tudo, sendo um dos primeiros tudólogos que temos como raça especial nos media.

Actualmente oficia de vez em quando nas tv´s e escreve no jornal Diário de Notícias em crónicas de página.

A de hoje, mais uma vez é lamentável.

A. Barreto poderia ater-se a assuntos que conhece - se é que conhece alguma coisa- mas porventura tal não lhe chegaria para preencher espaço.
Vai daí um dos alvos preferenciais do komentador é a Justiça e desta vez o caso Dias Loureiro, entre outros assuntos, como os malditos prazos de um inquérito que se tornou sigular por causa de a lei não ser igual para todos e poucos terem reparado nisso, incluindo o komentador.

Sobre os tais prazos, passo porque é matéria gasta. Sobre o caso Dias Loureiro vou ser muito sucinto:

Ó dr. António Barreto, komentador do DN!

O dito Dias Loureiro foi constuído arguido em 2009 e só se pode constituir arguido seja quem for quando há fundadas suspeitas de ter cometido um crime. Logo, haveria tais suspeitas.
Depois destes anos em investigação o caso foi arquivado e o MºPº justificou a razão daquelas suspeitas apesar de arquivar o assunto, ficando a aguardar melhor prova. Não há contradição entre os termos e há uma fundamentação de um despacho que é obrigatória e dizer o contrário é pretender ver mosquitos por cordas.

Por isso, o komentário é no mínimo fruto de uma ignorância seguidista e suspeita em relação ao visado, tanto mais que é produzido num jornal que tem como administrador principal um amigo do peito daquele Loureiro.

Só isso deveria mercer um komentário mais conspícuo e menos seguidista, conveniente e suspeito.

Por outro lado é por causa de komentários deste quilate que os magistrados aparecem nas sondagens de opinião como os maus da fita...o que se torna ainda mais triste. Quem faz o mal acaba depois a desfazer-se em caramunhas...

sábado, abril 29, 2017

O Sol, um polícia e a autoridade do Estado

Na semana passada o Sol colocou em destaque uma notícia sobre o director nacional da PJ, Almeida Rodrigues, um "alto funcionário do Estado", como dizia Cunha Rodrigues há uns anos,  mas no fim de contas um polícia que dirige um órgão de polícia criminal.

Esse polícia era colocado em causa na sua actuação como tal, por um subalterno que tendo sido apanhado em malfeitorias relacionadas com investigação criminal em processo de tráfico de droga, decidiu entregar o referido director nacional por factos que considerava dignos de censura e que teriam ocorrido em 2012.

Contou em 2016, a um juiz de instrução criminal, no âmbito de um interrogatório em que estiveram presentes os magistrados do MºPº, titulares do inquérito respectivo,  que o polícia que então dirigia a PJ, Almeida Rodrigues, solicitara por escrito a legalização de uma cidadã brasileira como contrapartida de informações cedidas por um informador, segundo escreve o jornal. Assim:


Perante a informação de tal modo confirmada pelo arguido em interrogatório, o juiz de instrução terá dito em alta voz , para aquele arguido confirmar ou não, se seria verdade que o dito polícia, director da PJ, assinara um pedido para que uma cidadão brasileira ficasse cidadã nacional por conta de uma troca, uma compensação de outra pessoa ter dado um bom serviço à polícia. Sabe-se agora que sim que assinou e fê-lo "de cruz".

Perante a confirmação do arguido, o juiz de instrução terá dito que  não se revia naqueles métodos.

Após o conhecimento deste pequeno excerto de interrogatório efectuado em 2016, o director nacional da PJ, muito ofendido com o dito do juiz de instrução, principalmente pelo facto de o Sol ter dado destaque de primeira página ao assunto, anunciou que iria fazer queixa do juiz ao órgão de disciplina do mesmo, o CSM. E tal anúncio foi publicado em primeira mão pelo Público, desconhecendo-se a fonte de uma informação que até aí seria apenas uma intenção do queixoso...

Portanto de que se queixa este polícia, que ainda é director nacional da PJ? De um juiz ter comentado algo que lhe pareceu estranho e segundo o depoimento de um arguido, eventualmente ilegal e  até criminoso .e comprometedor para o Estado de Direito

Como isso, deveria perguntar o Sol e o Público, antes de publicarem fosse o que fosse sobre o assunto e não dar largas ao voyeurismo a tudo o que envolve um juiz, no exercício do seu múnus e por isso mesmo enquanto órgão de soberania?

Pois, o que o arguido interrogado contou poderia mesmo ser uma ilegalidade e eventualmente um crime.
Em primeiro lugar é estranho que um polícia, director nacional da PJ tenha sido o requerente de algo num processo de inquérito que é dirigido pelo MºPº. Se alguém devesse requerer fosse o que fosse, eventualmente seria o MºPº e tal lhe deveria ter sido comunicado. Foi? Alguém perguntou ao polícia em causa? Tinha delegação de competência concreta para tal, a PJ?
Em segundo lugar, a revelação de prática de um eventual crime ou mera irregularidade passível de procedimento disciplinar ( um director da PJ não está isento disso...) não deveria suscitar qualquer reserva do magistrado que dirige nesse momento o acto processual, no caso o interrogatório do arguido? Deveria o mesmo ficar calado e reservado, sem tecer comentários que lhe aprouvessem e fossem pertinentes, como eram?

O polícia ofendido, director da PJ pega num pormenor que lhe parece importante: afinal o que o seu subordinado contara ao juiz não era correcto, porque se tratava da legalização de estadia temporária em território nacional e não da concessão de cidadania nacional. E refere que assinou de cruz o ofício que lhe pediram para assinar, numa assunção de competência rara que deveria ter uma consequência, associada às demais: demissão, já!

As demais são estas: um polícia que dirige um opc, entalado por um subalterno no âmbito de um processo, perante afirmações de perplexidade do juiz que interrogou aquele, decide processar o juiz.

Isto não é apenas bizarro. É mais complexo que isso e carece de explicações que certamente o tempo dará...
Nem no tempo de Fernando Negrão o polícia-magistrado que dirigia a PJ quando Cunha Rodrigues era PGR e que foi apanhado a revelar segredo de justiça em directo, estas bizarrias aconteciam. Cunha Rodrigues colocou-o então no devido lugar: "um alto-funcionário do Estado", apenas. E não o que ele julgava ser: um órgão de soberania.
Agora é pior: um polícia entende processar um órgão de soberania, fazendo uma caramunha por um mal que terá praticado.

E ninguém se incomoda.
Será que o komentador Lopes, ao menos,  irá pronunciar-se sobre este assunto que lida com o "Estado de Direito"?

Ah! E já me  esquecia: o MºPº, segundo se lê no Sol não dá razão alguma ao polícia Almeida Rodrigues. O MºPº entendeu não extrair certidão para outro inquérito relativamente à actuação da PJ, no caso concreto, "depois de analisar de forma integrada todos os elementos constantes do inquérito".
Nada mais.  E por isso é abusivo escrever o que o Sol escreve, até se saber que elementos foram esses analisados "de forma integrada".  Pode muito bem ser a ausência de comportamento criminal, derivado do equívoco que o inspector-arguido relatou no interrogatório...


sexta-feira, abril 28, 2017

A função pedagógica dos "cachaços"...

De um jornal regional de ontem, uma pequena história acerca de métodos de disciplina no Ensino, pouco tempo antes de 25 de Abril de 1974.
O estabelecimento em causa era uma Escola Comercial e Industrial e o director que relata a história é artista plástico e começou a trabalhar no ensino no Alentejo, sendo colega de Júlio Resende, entre outros.
O episódio terá ocorrido em período de aulas nocturnas, para "estudantes-trabalhadores", como dantes se dizia...e o episódio seria completamente impossível, hoje em dia. Dá para meditar no que se transformou a sociedade e pensar qual seria melhor.


quinta-feira, abril 27, 2017

A komentadoria apaniguada do sistema

Estreitamente relacionado com o assunto abaixo tratado temos uma pequena polémica entre jornalistas que estalou no Público e o DN, entre João Miguel Tavares e Marques Lopes.

Após a querela sobre os escritos sumários a propósito de Dias Loureiro, aquele Marques Lopes, sempre condoído em nome dos sagrados princípios do Estado de Direito que proclama na parte que lhe interessa esquecendo os demais, publicou este textículo no DN de Domingo:

 Num artigo publicado na terça-feira no Público, o comentador João Miguel Tavares insinua que eu e três jornalistas escrevemos o que o presidente do conselho de administração da Global Media nos manda. Além disto, JMT acha ainda que defender princípios básicos de um Estado de direito significa apoiar a corrupção e a miséria moral.
Vamos por partes.
O JMT insinua que três jornalistas com longas carreiras seguem as ordens de um administrador, que não são editorialmente independentes nem escrevem artigos de opinião seguindo o seu próprio juízo e pensamento. Ele conhece a gravidade desta miserável insinuação, que atenta contra a dignidade profissional desses três homens. Eles não precisam que eu os defenda; mas há, porém, um detalhe curioso. JMT, noutro artigo, acha que o diretor adjunto do DN fez perguntas macias a Dias Loureiro - acusação injusta e que se esquece de fundamentar. Mas se julga mesmo isso seria interessante saber o que pensa da qualidade das perguntas que os jornalistas da TVI fizeram a Sócrates nas várias entrevistas que este deu ao canal. Estranhamente, nunca se ouviu a JMT um comentário sobre o assunto, nem em crónicas nem naquele programa da TSF em que participa e que por acaso passa na mesma TVI. E como sabemos a atenção com que JMT segue todas as intervenções do ex-primeiro-ministro... ou estava distraído ou não as viu ou então achou-as incrivelmente duras, como ele gosta.
Já eu, insinua JMT, só escrevi o artigo de 9 de abril - sobre o arquivamento do inquérito a Dias Loureiro e no qual pela enésima vez afirmo que algo está muito errado na nossa justiça - por ter recebido uma espécie de ordem de Proença de Carvalho. Poderoso homem que não só me dá ordens para eu defender Dias Loureiro como, claro está, para defender Sócrates, essa árvore das patacas de JMT.
A coisa é tão desonesta e baixinha que até custa a responder, mas, desta vez, JMT preferiu escrever o meu nome em vez das indiretas que de vez em quando me dirige. JMT sabe que o que escrevi nesse dia é o que venho escrevendo e dizendo em jornais, TV e rádio há muitos anos, antes de haver Operação Marquês. Mas não resistiu à insinuação que sabe ser caluniosa. Disse, no fundo, que escrevi a pedido, não porque em consciência ache que eu ande às ordens de quem quer que seja, mas porque não gostando das minhas opiniões sobre assuntos da justiça e outros que tais quis descredibilizá-las atacando a minha dignidade e a minha honra. O que diz muito sobre o carácter de quem faz a insinuação.
Mais tarde, noutro artigo do Público, tendo sido confrontado pelo diretor do DN com o facto de que mais colunistas, noutros órgãos de informação, formularam opiniões parecidas com a minha e com a de dois jornalistas do DN, JMT lança o argumento que lhe serve para tudo: esses também querem é defender o Sócrates. Pobre JMT: obcecado que está por Sócrates, não consegue perceber que há quem não sofra da mesma patologia, e portanto não divida o mundo entre pró-Sócrates e contra-Sócrates; como só consegue raciocinar e argumentar ad hominem, é-lhe, pelos vistos, impossível imaginar que possa haver quem defenda princípios independentemente de a quem estes, conjunturalmente, possam parecer favoráveis.
Para defender esta sua abordagem, JMT argumenta que há para aí uns princípios que só são válidos no reino do abstrato e quem os enuncia - para os defender, bem entendido - está a colaborar para "manter o lastimável currículo português no combate à corrupção" e "é cúmplice do estado moralmente miserável em que nos encontramos".
E que são esses tais princípios contra os quais ele, neste e noutros textos, direta ou indiretamente se insurge? Trata-se, entre outros, da presunção de inocência, da não inversão do ónus da prova, do direito ao bom nome, da necessidade de haver provas suficientes para condenar alguém e de que a função do MP é acusar ou arquivar - não condenar.
Surgem três hipóteses. A primeira: o JMT não sabe que esses princípios são pilares fundamentais de um Estado de direito e de uma democracia liberal. Confesso que tenho alguma dificuldade em imaginar que alguém com tanta notoriedade e com tanto espaço nos media não saiba isto, mas a ignorância nunca deve ser desprezada.
JMT não saberá, mas aqueles princípios que ele depreciativamente chama de abstratos têm de ser, num Estado de direito, mesmo abstratos e gerais: são para todos (e não para as pessoas que JMT decidir) e para todos os casos que se encaixem na norma (e não para os casos que JMT quiser).
A segunda hipótese é a de que conhece os referidos princípios, mas não quer saber deles, rejeita--os. Nesse caso, não é um defensor do Estado de direito e da democracia liberal. Ou acha que é ele ou quem pensa como ele que deve definir a quem estes princípios se devem aplicar. Um estado Tavares com Tavares a definir quem são os culpados e os inocentes - o tavarismo, ou a tirania Tavares
A terceira hipótese é a de que sabe o que é o Estado de direito, gosta da democracia, mas dá-lhe jeito dizer que isto é tudo uma farsa, que isto dos princípios é uma malandrice para os ricos e poderosos se safarem. Porque sabe que isso lhe garante palmas; sabe que de cada vez que ataca as regras básicas do Estado de direito há uma multidão de injustiçados pela vida, legitimamente revoltados com a corrupção e desmandos, que, por desespero e ignorância, o aplaudem. JMT sabe que se desprezassem os tais princípios abstratos essas mesmas pessoas teriam uma vida pior, ficariam expostas a um qualquer déspota, veriam os seus direitos despedaçados. Mas quer JMT lá saber disso; o seu discurso dá-lhe palco e luzes, faz dele uma pessoa popular. Vive desse reles foguetório.
Preferia acreditar que JMT defende o que defende por ignorância ou por não acreditar no Estado de direito, mas não me parece que seja, infelizmente, o caso.
Espero que viva bem com a sua consciência e que o mundo que ele afirma desejar nunca chegue.

Hoje no Público, JMT responde  assim, ao komentador Lopes que acumula várias ( cerca de dez) avenças mediáticas, todas estipendiadas a preceito, como será natural:



O que fascina no komentador Lopes é a facilidade de arremesso de propalados princípios e regras básicas do Estado de direito que aliás não enuncia, para além da obviamente bovina obsessão em os proclamar, para se sentir superior e indefectível na argumentação. 

A melhor resposta a estes tartufos é dada por Eduardo Dâmaso na Sábado de hoje, comparando o que se passa aqui com o que se passou em Itália, nos ano noventa. Também nessa altura, por lá, havia Lopes em barda...


Há fogo na Casa Grande e já há barbas de molho

No passado Sábado o Sol publicou uma notícia algo preocupante sobre a casa grande da PJ, em Lisboa.
Um inspector-chefe, já reformado, foi apanhado num esquema de corrupção e em Junho do ano passado terá decidido contar algumas coisas que se passavam na sede da PJ, incluindo o director nacional, Almeida Rodrigues, nas denúncias de malfeitorias.

O assunto fez parte de peças processuais remetidas ao tribunal da Relação de Lisboa, em  no âmbito de recursos e o Sol teve acesso ao conteúdo que publicou, nessa parte, adivinhando-se que existem outras partes que ainda se não conhecem.


Almeida Rodrigues está obviamente com as barbas de molho e decidiu proceder assim, segundo o Público de hoje. O ataque de Almeida Rodrigues é a um órgão de soberania, no caso o titular do TCIC, Carlos Alexandre, nessa qualidade e nessa função.
Não é inédito e ultimamente tem acontecido mais vezes, mormente no processo do Marquês. Tal como neste caso, os interessados contam com o CSM para lhes aparar as dores, procurando lenitivo  para as aflições de momento. Almeida  Rodrigues já deveria ter sido demitido da PJ, mas enfim, isto que noutro tempo seria de rigor, hoje é apenas de conveniência. A ministra vai esperar que o fogo alastre e depois logo se verá se os bombeiros de serviço acorrem...enquanto se queima em fogo lento um dos responsáveis pelo bom funcionamento da Justiça  no nosso país, obviamente o juiz do TCIC.

A notícia do Público é , a esta luz, extraordinária: o director da PJ vai fazer queixa do juiz. Ainda não fez e o Público ( Ana Henriques)  já sabe da intenção do queixoso. Adivinhe-se quem lha comunicou...em tempo tão oportuno. 


Esta matéria não anda desgarrada das notícias que visaram ultimamente um dos titulares do TCIC ( só um; o outro, nunca é notícia...) e que foram publicadas no penúltimo número da Sábado em escrito manhoso de António José Vilela que conta os pormenores da investigação do caso Fizz que envolveu o procurador Orlando Figueira ( "A PJ vigiou a casa do juiz Carlos Alexandre", escreve-se aí em enquadramento a uma redacção dúbia dos factos).
Portanto, temos outra vez o cenário do costume: de um lado, o juiz do TCIC, Carlos Alexandre, sozinho, completamente,  e do outro uma bateria de interessados em queimá-lo, de preferência na praça pública e através do meio mais expedito: processos disciplinares no CSM, cujos membros, em boa parte desejam precisamente o mesmo, conforme votações recentes em casos similares ( caso da entrevista à SIC).

Não me parece que haja nisto qualquer teoria de conspiração rebuscada porque os factos apontam para essa eventualidade. E se assim for, a única defeza do juiz, mais uma vez será apenas a da legalidade estrita e a de não pisar terreno minado, contando para isso que continue a haver "juízes em Berlim", como até aqui tem acontecido, mas não é seguro que continue sempre a haver. Parece-me ser essa a única defesa do visado e é triste que assim seja.
Não há ninguém na magistratura que se preocupe com isto e deixa-se correr o marfim porque toda a gente tem medo. Não sei bem de quê, mas têm medo, parece-me.

Honra seja feita ao visado mais uma vez. Não conheço muita gente com a coragem que denota e a determinação que o anima. 

quarta-feira, abril 26, 2017

O advogado Júdice anda frenético...

 Observador/i:

 José Miguel Júdice, advogado e agora komentador residente na TVI de Sérgio Figueiredo a mandar nesse sector, disse há dias ao jornal i umas coisas sobre António Costa, Passos Coelho e Marcelo, presidente da República:


"José Miguel Júdice não poupa elogios e críticas aos vários elementos da política portuguesa, tanto da esquerda como da direita. Numa entrevista ao jornal i, o antigo dirigente do PSD afirma que António Costa é “mais adequado” para o momento político atual do que Pedro Passos Coelho, considerando que o antigo primeiro-ministro já “está morto politicamente”.
Passos Coelho está morto politicamente, só que ainda ninguém lhe disse. (…) Não estou a dizer que ele não possa ressuscitar, mas acho que está politicamente morto”, diz o advogado.
Júdice defende que Costa e Marcelo Rebelo de Sousa são “os mais dotados das suas gerações”. Ainda assim, não deixa de apontar o dedo ao Presidente da República, sublinhando que alguns dos seus erros têm sido “a verborreia” — “quem fala sobre tudo não fala de nada” — e o seu excessivo entusiasmo com António Costa. “António Costa fez com Marcelo Rebelo de Sousa um bloco central. Compensou a sua fragilidade e a sua dependência dos partidos de extrema-esquerda”

Para se entender melhor este advogado, nada melhor que publicar uma página do Expresso da semana passada que escrevia assim:


 Quem não os conhecer que os compre... e suspeito que este Júdice anda a fazer pela vidinha, como sempre, aliás.

O comunismo racista e eugénico

Quem abrir a Wikipedia no termo "eugenia" pode ler o que é e logo a seguir a referência ao nazismo, onde se diz que veio a ser parte da ideologia da pureza racial que culminou no Holocausto.
Como exemplos de países onde se praticou de algum modo tal efeito para tornar as pessoas "melhores e mais puras" aparecem alguns países, mas não a antiga URSS.

Para colmatar tal lapso, certamente devido a ignorância atávica, apareceu agora um livro muito instrutivo, com 530 páginas  e da autoria de Simon Ings que pelo nome pode ser próximo da raça perseguida por aqueles durante o nazismo.


Simon Ings, porém, relata o que sucedeu logo a seguir à Revolução de Outubro e durou todo o tempo de Estaline, até 1953: a procura do Homem Novo através da eugenia.

A diferença com o nazismo? Os soviéticos queriam ampliar a raça humana existente, melhorá-la, cientes que havia raças inferiores e superiores e não apenas exterminar uma parte, a má, toda encostada aos judeus, ciganos e outros marginais, como pretendiam os nazis...

O resultado, porém, poderia ir dar ao mesmo, a partir do momento em que se admite a superioridade de genes em relação a outros,  atribuídos a determinadas classes de indivíduos.


terça-feira, abril 25, 2017

Uma pequena banda sonora do dia 25 de Abril de 1974

No dia 25 de Abril de 1974 em Portugal ouvia-se a música popular que em qualquer país europeu se poderia ouvir e ainda um pouco mais porque a música brasileira por cá tinha maior curso no rádio que noutros lados.

Assim, nesse dia, no então Rádio Clube Português ou na Rádio Renascença, durante a tarde e se não tivesse poderia ouvir-se esta selecção de músicas, publicadas nesse ano até ao momento:

A primeira música é  um single de Janeiro de um grupo inglês do chamado Glam Rock e que atingiu o primeiro lugar de vendas em vários países da Europa: Mud, com Tiger Feet.




Passando imediatamente ao tema musical do momento do Festival da Eurovisão de 1974, no passado dia 6 de Abril, Abba e Waterloo:



Uma música também lançada em single no passado mês de Janeiro e que atingiu os primeiros lugares de vendas na Europa: os Hollies, com The Air that i breathe.



 De um album de Elton John de 1973, Goodbye Yellow Brick Road, uma canção agora editada em single, Candle in the wind:



Vinda do ano passado, esta canção brasileira do grupo Secos & Molhados, Sangue latino:



Para terminar uma canção portuguesa do último festival da Canção, do passado dia 7 de Março. José Cid e O dia em que o rei fez anos, superior à de Paulo Carvalho que ganhou o festival:



Como curiosidade, nenhuma destas canções, com excepção da dos Secos & Molhados, tinha a minha preferência na época. Era música que ouvia sem interesse especial porque passava no rádio, à hora do almoço, por exemplo, em programas do RR ou do RCP.

O que me interessava então ouvir eram antes estes artistas e estas músicas, em curso de divulgação durante esses primeiros meses de 1974:

King Crimson, no álbum Starless and Bible Black.
Camel e o disco Mirage.
Frank Zappa/Mothers of Invention e o lp Overnite Sensation de finais do ano anterior
Gentle Giant com In a Glass House
Renaissance e o lp Ashes are Burning
Genesis e o disco Selling England by the pound, lançado em finais de 1973
Brian Eno e o lp Here comes the warm Jets
E.L.P. Brain, Salad, Surgery
Yes Tales from topographic oceans, publicado em Dezembro de 1973.
Wings e o disco Band on the run, lançado em Dezembro de 1973.

Era possível ouvir estes discos e músicas no rádio de então? Algumas músicas, sim: no programa Página Um, da Rádio Renascença, das 19:30 às 21:00, de Segunda a Sexta-Feira. No RCP, talvez no programa Perspectiva, a partir das duas da manhã.
O resto, nicles. Quem tinha dinheiro comprava os discos. Quem não tinha ouvia-os através das crónicas que apareciam nas revistas estrangeiras ( Rock&Folk ou Rolling Stone) e esperava que meses depois ( ou anos) se publicassem por cá.
Ainda hoje é esta música popular a que me interessa ouvir e procuro ter os lp´s originais, preferencialmente em primeira prensagem da época. E, aliás, já os tenho, com excepção do Renaissance e o dos contos dos oceanos topográficos. Qualquer um deles é disco de ilha deserta.


Um povo à procura da memória perdida

O Público de hoje tem várias páginas dedicadas ao tema do "25 de Abril". Duas delas referem-se à " memória do Estado Novo", escrevendo o autor ( Nuno Ribeiro) que não sabemos o que fazer com ela...




Há desde logo no artigo um problema epistemológico, de saber o que é o Estado Novo. No artigo, aliás como em muitos outros, o Estado Novo confunde-se com o período que vai do tempo de Salazar até ao dia 25 de Abril de 1974. Ora, o Estado Novo não foi todo esse período e se o quiserem abarcar deverão citar o tempo de Marcello Caetano que vai de finais de 1968 até 1974. Muito tempo e que foi determinante para se entender um regime.
Porém, de Marcello Caetano pouco se fala quando se fala em fassismo ( felizmente o artigo não usa a palavra maldita que o PCP afeiçoa sobremaneira) e a prova é que num Estudo do ICS onde se referem "níveis de notoriedade" Marcello Caetano aparece com 20 a 30%, muito abaixo do "primeiro patamar" que engloba Salazar, Mário Soares e Álvaro Cunhal.

Marcello Caetano foi muito mais importante para o nosso país do que Mário Soares. Digo eu e está dito, embora tal seja irrelevante porque nada represento senão uma mera opinião. Mas foi menos importante que Álvaro Cunhal que revolucionou, com o PCP, o modo de pensar da generalidade da opinião pública e publicada, alterando o léxico político e até social. Isso foi uma verdadeira revolução cultural que ainda se sentem os efeitos difusos mas permanentes.

A questão da "Memória do Estado Novo" tem evidentemente a ver com tal fenómeno. Foi possível nos últimos 40 anos falsificar a História e contá-la do ponto de vista de uma minoria de alguns, poucos milhares de militantes comunistas que existiam antes de 25 de Abril de 1974. Foi a linguagem que eles utilizavam nas suas publicações clandestinas como o Avante e o Militante que foi depois adoptada no léxico jornalístico, primeiro, e depois até em publicações universitárias e na própria Constituição de 1976.

Um punhado de uns, poucos, milhares de pessoas conseguiram impor a milhões de portugueses  uma linguagem que não era a sua. Notável, sob qualquer ponto de vista! E tal se deve a Cunhal e ao PCP, incluindo também as franjas comunistas de extrema-esquerda e o partido socialista que foi atrás, como sempre e bom compagnon de route. A linguagem do PS dos primeiros tempos ( só se constituiu como partido em 1973) era marxista, idêntica por isso à do PCP, com nuances.

Por isso mesmo a primeira tarefa seja de quem for que se preocupe com a Verdade histórica é a reposição da linguagem original que tínhamos à data de 25 de Abril de 1974, agora com a recomposição democrática da linguagem comunista que existia então clandestinamente. Mas nunca para se inverterem os termos e passarmos a adoptar, como aconteceu, a linguagem bastarda que existia apenas clandestinamente.

Tal é muito simples de fazer e basta que os jornalistas o façam, com a consciência de o fazerem por tal motivo, como aconteceu a partir de 25 de Abril de 1974. Portanto, trata-se de desfazer o que foi feito, de repôr o que existia e de reverter a perversidade cometida ao povo português, pelos comunistas e socialistas. O povo português nunca foi apenas constituído por esquerdistas do comunismo e socialismo e por isso mesmo é preciso repôr, democraticamente a representação real e sociológica que sempre existiu.
O contrário é continuar a falsificar a História como se faz na Constituição de 1976 que nenhuma revisão posterior alterou nesse sentido.

Por exemplo, uma das primeiras tarefas práticas para se repôr a Verdade histórica, para além da oficializada pelos representantes marxistas Fernando Rosas, Flunser Pimentel, Pacheco Pereira e tutti quanti será a de publicar o que está esquecido e censurado na prática:

A Constituição de 1933 que não se encontra em lado nenhum desde há 40 anos a esta parte.
Os discursos de Salazar que não se encontram em lado nenhum, com excepção de uma editora obscura de Coimbra que os vende em livro semi-clandestino, pela internet e desde há muito pouco tempo.
A possibilidade de o discurso mediático se alargar a outras pessoas que não  entendam o tempo de Salazar e Caetano como sendo o do "fascismo", o que está muito longe de acontecer, porque mesmo aqueles que não são esquerdistas-comunistas adoptaram os conceitos destes e falam a sua língua de trapo. O Estado Novo é por isso um tempo de obscurantismo, de repressão e até, como há poucos dias se escrevia de modo nojento no Público ( Ana Cristina Pereira, como sempre...) um Estado em que os malditos ( mendigos, vadios e cadastrados) eram perseguidos, como autênticos leprosos...

Para mostrar o que deve ser feito fica aqui uma pequena parte de uma obra que deveria ser reeditada e discutida nas Faculdades de Direito ( aposto que o professor Marcelo, agora presidente da República desta democracia nunca a citou ou recomendou, aos seus alunos de Direito Constitucional ou Ciência Política...).

Os comentários de Marcello Caetano ao carácter marxista da Constituição de 1976 são claros, nas páginas que seguem:



No jornal i de hoje mostra-se um pequeno contributo para a tarefa que é premente. O jornal consagra várias páginas ao assunto do tempo que passou desde o 25 de Abril de 1974 (o Diário de Notícias, em comemoração da efeméride publica, tão só e apenas, um cartoon de Carrilho):



O Estado Novo não foi como o pintam os antifassistas e Portugal não tem que se envergonhar de tal período. Tem é de o estudar sob outra perspectiva diversa da que tem sido a oficial, a dos últimos 40 anos.

Os comunistas e esquerdistas em geral não têm o monopólio da cultura em Portugal, ou pelo menos não deveriam ter, por uma razão: estão habituados a falsificar a História, desde os tempos de Lenine, apagando as figuras caídas em desgraça das fotos oficiais.

Aliás, a desinformação, a mentira sistemática derivada da falsificação histórica, dá casos como este de absoluta ignorância mas com estatuto de escrita num sítio de internet. A autora parece jovem mas já tem mais de cem anos na mentalidade distorcida pela propaganda...

domingo, abril 23, 2017

O "fascismo" que pegou de estaca em Portugal

A palavra "fascismo" era virtualmente inexistente no léxico português corrente antes de 25 de Abril de 1974. Não era utilizada nos media e a população em geral não usava tal palavra.
A excepção era o PCP e seus compagnons de route, incluindo um PS ainda marxista que nunca abandonou tal linguagem. Nos escritos clandestinos circulados por alguns, muito poucos, milhares de destinatários, usavam tal palavra e outras, como "reaccionário", "imperialista", "guerra colonial", etc.

Porém, tal expressão, como as demais, pegaram  de estaca e nos dias que se seguiram ao 25 de Abril de 1974 os jornais estava inundados com tais palavras novas para a população em geral.

Em 29 de Abril de 1974, escassos quatro dias após o golpe,  o jornal Diário de Lisboa que uma semana antes nem sequer conhecia tal palavra escrita publicava-a em repetidas notícias e alusões.
Na primeira página aparecia duas vezes, para a "normalização da vida portuguesa". 

Na 2ª, 3ª 5ª, 9ª e 11ª era repetida.



O crítico de tv, Mário Castrim, comunista encartado e que escrevia geralmente nas entrelinhas dava largas ao contentamento de poder escrever claramente em linguagem comunista, convocando comunistas para o convívio da "normalização da vida política".  Um happening!

 

O PCP tinha honras de página em comunicado:


A Juventude Comunista, da UEC,  idem:


Evidentemente que o assunto da guerra no Ultramar era questão prioritária e a voz era dada aos que uma semana antes eram apenas "terroristas"...



Os demais jornais não ficavam atrás na adopção dessa novilíngua que perdura até hoje. A Capital de 21 de Junho de 1974:



E o Expresso, na edição de 9 de Novembro de 1974 já tinha devidamente assimilado tal novilíngua comunista como se fosse a genuína, de sempre, do falar português.

Na segunda página lá estavam duas referências ao "fascismo"...


Na página de opinião já aparecia um certo Vicente Jorge Silva, depois primeiro director do Público, também a usar o jargão da novilíngua para designar como "fascista" o regime deposto...



Perante isto quem se atrevia a remar contra a maré e contestar a validade da designação ou a corrupção linguística corrente?

Ninguém...até hoje. Ninguém se interessa com isto porque acham que não tem importância alguma...tal como desvalorizam qualquer tentativa de contar a História do Estado Novo de modo diferente da que os antifassistas a contam.

sábado, abril 22, 2017

As eleições resolvem-se na essência desta análise

No Sol de hoje, o conselheiro editorial escreve assim:






Esta análise opinativa de um jornalista apanha o essencial da política portuguesa dos últimos anos. Se a maioria dos portugueses que vota compreendesse isto que aqui fica escrito, a demagogia não teria campo aberto e colheita farta.

Assim, o disco vira e toca o mesmo: a música dos pobrezinhos e dos trabalhadores. Os patrões e a austeridade e os cortes são os maus da fita e quem os defende perde sempre.

JMT no Público de hoje: uma pergunta corajosa mas insuficiente...



Crónica de JMT no Público de hoje, de facto corajosa qb e a merecer encómios, neste caso. Porém, a pergunta final é tímida: " que negócio, afinal, foi este?". A pergunta deveria ser outra que coloco no fim do postal.
Compreende-se e suspeita-se que JMT tem desde agora a cabeça a prémio. Está no Público e ganha dinheiro com isso? Também está no programa de palhaçada da TVI, com o palhacito sonso que é Ricardo Araújo Pereira que nunca se mete nestas alhadas. E quem manda na TVI é um grupo que aceitou ter um Sérgio Figueiredo a dirigir a informação.
Portanto JMT está quilhado! E vai ver se não está...é só esperar umas semanitas ou mesitos para não dar nas vistas.

Há meses, quando se soube da falência técnica da Global Media, apareceu de repente um grupo misterioso a ajudar, vindo dos lados do Oriente. Um fundo, ho!
Então, escrevi e ilustrei com foto em retrato de família política, um Camões, um Proença e um Presidente que pedia, sem se rir que os jornalistas do retrato fossem "implacáveis no escrutínio de todos". O agora presidente quando foi jornalista do Expresso e Semanário foi o exemplo dessa implacabilidade...na intriga. Quanto ao resto, moita carrasco que os Salgados tinham herdade na Comporta e férias noutros lados. Mas com a ajuda deste novo amigos dos pobrezinhos estou certo que disponibilizarão meios ocultos para resolver os problemas dos sem-abrigo, coisa que agora muito o preocupa, a este presidente de afectos e coisas que tal.
Para  chefiar os bravos jornalistas do DN nessa tarefa apareceu um Paulo Baldaia que considera o komentador JMT um jornalista justiceiro e fica tudo dito sobre tal personagem de redacção para ficção ver ou vice-versa:



DN:

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve hoje na inauguração das novas instalações da Global Media, em Lisboa, e pediu aos jornalistas do grupo para serem "implacáveis no escrutínio de todos", a bem de Portugal. 


Os bravos jornalistas do DN, aqui a ouvir o presidente, mais o senhor Camões que está no Norte a velar pelas Notícias globais e aqui todo sorridente e ainda o magnífico presidente da coisa, o advogado Proença de Carvalho, encolhido como de costume, podem já começar o trabalho a "bem de Portugal": esclarecer quem são os verdadeiros titulares do fundo que os comprou...

A pergunta certa que JMT não fez, é esta: quem são os detentores do fundo que comprou parte importante das acções da GlobalMedia? E outra: o que tem Proença de Carvalho a ver com tais pessoas?

Paulo Baldaia pode começar a escrutinar...porque a resposta a tais perguntas dar-nos-á a medida da saúde da nossa democracia actual e passada.

É importante? Da maior importância, de facto e por isso ninguém vai dar importância alguma, nos media.

sexta-feira, abril 21, 2017

Vinte e sete vezes o "fascismo" num único número de Jornal de 1975!

Este texto de Miguel Esteves Cardoso, no O Jornal de 5.9.1975 será talvez o primeiro que o então jovem estudante com vinte anos publicou em jornal.

No texto, a propósito de um filme português de Seixas Santos, Brandos Costumes, MEC usa a palavra "fascismo" cinco vezes. É obra! Comunista, claro está. E na mesma página, o comunista Correia da Fonseca acrescente só da sua lavra, mais sete.

É só um exemplo do fenómeno que atingiu em cheio a cultura portuguesa pós-74.


No mesmo número de O Jornal esta página sobre o então arcebispo de Braga, d. Francisco Maria da Silva juntava mais três "fascismo", incluindo do título da notícia.



Por curiosidade dei-me ao trabalho de catar em cada página desse número de O Jornal as vezes que tal palavra aparece escrita.

Na pág. 2 aparece num artigo de Cáceres Monteiro ( "Uma Revolução para perder ao jogo?"), inserida na expressão " pesadas grilhetas do fascismo".
Na pág. 3 aparece duas vezes.
Na pág. 10 nada menos que três vezes num pequeno artigo de Urbano Tavares Rodrigues.
na pág 14 em editorial nada menos que duas vezes e na página seguinte, das cartas do director, uma vez.
Na pág. 29 na redacção da Guidinha, de Stau Monteiro, uma vez.
Na pág. 30, numa notícia sobre os jornalistas despedidos do DN ( pelo avant nóbél Saramago) uma vez.
Na pág. 32, em notícia sobre Angola, num comunicado do CEME do general Fabião, uma vez.

No total a palavra "fascismo" aparece 27 vezes, neste único número de O Jornal!

Fátima para totós: a teopsia

  D. Carlos Azevedo, bispo-delegado do Conselho Pontifício da Cultura no Vaticano, ao Público:

D. Carlos Azevedo  defende que a leitura de Fátima não pode ser literal, mas teológica, “há uma interpretação a fazer” porque os fenómenos místicos “são naturais”.

Chegou o momento para falarmos com linguagem exacta. Joseph Ratzinger no ano 2000, quando fez o comentário teológico à última parte do segredo de Fátima, usou sempre a palavra visões e esse é o rigor teológico. O grande teólogo Karl Rahner também escreveu um livro sobre visões e profecias, usando a palavra visões. Esse é o termo exacto.

As visões, de vários tipos, são fenómenos místicos, espirituais, não físicos. Claro que uma pessoa ao descrever uma visão projecta os seus arquétipos, o que tem na sua mente, a sua memória, e na mensagem que recebe já entra a fé. Há uma mensagem que a transcende e que tem de ser interpretada. É a revelação particular que depois tem de ser interpretada à luz do evangelho e da doutrina, segundo as regras que a Congregação da Doutrina da Fé publicou em 2011, mas já conhecidas desde 1998.

Há muitos fenómenos de visões. Nós, párocos, conhecemos sempre alguém que nos vem dizer que tem visões. Estes fenómenos são naturais, sobretudo em períodos de crise, de dificuldade, ou da própria pessoa ou do mundo, em período de guerra, como foi o caso de 1917. É impressionante a densidade de factos do ano de 1917 em Portugal e no mundo.

Há uma interpretação a fazer e essa interpretação é a da presença maternal de Maria na vida dos cristãos, como disse João Paulo II quando foi a primeira vez a Fátima. Todos os cristãos sentem essa presença mas alguns podem-na sentir de modo mais intenso. Isso então é uma visão, uma experiência mística. A presença de Maria não vem do céu por aí abaixo. Essas descrições são mais simples, mais imediatas, para entender o que é uma visão mística, mas precisamos de usar a linguagem exacta para não cair no ridículo. Gostava que este livro servisse para quem não crê ter respeito para com o episódio, ainda que não acredite
.

Tal como dizia o outro padre Anselmo Borges, "é evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima", agora o bispo Azevedo também tem a sua interpretação sobre o fenómeno: tudo experiências místicas, visões particulares dos pastorinhos, pobres coitados, incultos e que não sabiam teologia e ainda as de dezenas de milhar de pessoas que viram fenómenos que não se compadecem com experiências místicas e mesmo assim passaram a sê-lo.

Esta explicação "racional" para os fenómenos de Fátima já tinha sido apresentada em livro, - a Senhora de Maio, da autoria de António Marujo e Rui Paulo da Cruz, edição Círculo dos Leitores, 2017- em modo um pouco mais elaborado:

 

Dá a impressão que a Igreja Católica tem vergonha de Fátima, por ser tão contemporâneo, ter sido testemunhado por crianças simples e sem instrução e não ter explicação racional aceitável.
Só me interrogo se não terá vergonha de alguns  fenómenos que são apresentados como verdade de Fé, alguns até no Credo...

Após a Paixão e Morte de Cristo na Cruz, a subsequente Ressurrreição, verdade de Fé, ocorreu, para o bispo Azevedo e outros padres Anselmos? E as sucessivas aparições de Jesus Cristo ressuscitado,  tê-lo-ão sido mesmo ou apenas "visões"?

Desconfio saber a resposta e não me agrada nada.

quinta-feira, abril 20, 2017

O jornalismo nacional é uma casa comum, diz JMT

O jornalista e komentador João Miguel Tavares, na passada terça publicou uma crónica de costumes sobre o caso Dias Loureiro e o seu advogado de estimação, Proença de Carvalho, também administrador de certas empresas, incluindo a GlobalMedia que possuía o DN, onde pontifica actualmente na direcção o jornalista Paulo Baldaia.

Tal crónica foi comentada por aqui e ontem no DN o referido Paulo Baldaia, cheio de dores alheias, komentou em editorial o assunto que o condoeu: um ataque ao seu jornal por ter criticado o MºPº que arquivou o caso de Dias Loureiro/BPN, em que o referido advogado de estimação comparticipa numa tríplice qualidade: advogado, administrador e amigo.

Aqui o editorial condoído de Paulo Baldaia:


Como se pode ler, o referido Baldaia diz que é coerente de há uns anos para cá e ataca sempre a corrupção do Estado de Direito levada a cabo pelo MºPº e "políticos". Esta última referência é para distrair o leitor que não se lembra de algo substancial, escrito por Baldaia, sobre Pinto Monteiro, escutas de Face Oculta, Noronha Nascimento, José Sócrates e a sua responsabilidade na prática de crime de atentado ao mesmo Estado de Direito, etc etc. Baldou-se, nesses casos.

Não explica há quantos anos é coerente mas será fácil de perceber que o será desde que trabalha por conta de alguém que mandava nos media em que o Estado de Direito poderá ter sido posto em causa, através de fusões e aquisições para controlar melhor a informação oficiosa que o povo merece ler. A verdade a que temos direito, sem mais.
Paulo Baldaia tem todo o direito a ser a "voz do dono", como de facto agora é, no DN. Quem o lê, porém, tem o direito de saber quem será verdadeiramente tal dono, incluindo a sua consciência profissional. Até lá vai-se adivinhando e neste editorial não ficamos esclarecidos.
Porém, ficamos cientes de uma coisa: de direito penal sabe pouco e escreve asneiras. Como director de jornal é lamentável. Ao escrever que o artº 277º nº 2 do C.P.P. não diz que quando se arquiva um inquérito pode ser também por existirem suspeitas fundadas, não sabe ler mais que isso, nesse segmento.
Devia ler também o artº 283º do mesmo Código que refere a expressão "suspeitas suficientes" e ainda, principalmente, o artº 262º sobre as finalidades dos inquéritos criminais e ainda o artº 272º do mesmo diploma que diz assim no nº 1:
1 - Correndo inquérito contra pessoa determinada em relação à qual haja suspeita fundada da prática de crime é obrigatório interrogá-la como arguido, salvo se não for possível notificá-la.

Saberemos nós e o jornalista Baldaia deveria saber sob pena de indecente e má figura que Dias Loureiro já tinha sido ouvido como arguido?  Sabemos e o DN também já sabia desde Julho  de 2009.
Portanto, o jornalista Paulo Baldaia deveria perguntar, por exemplo ao seu colega Carlos Lima, mais competente nestas matérias, antes de escrever a baboseira que escreveu. Tem uma desculpa de tomo: o "Daniel" também não sabe. Dá a entender que sim, proferindo grandiloquências sobre os direitos, liberdades e garantias, mas não sabe. Se soubesse seria mais comedido e inteligente. 

Agora o artigo no Público de hoje, de JMT, komentador de "direita", ápodo nada gratuito e destinado a circunscrever, limitar e aniquilar a eficácia dos escritos e que os baldaias agora colam ao dito.


Diz que continua no Sábado e se Deus quiser cá estaremos...à espera da coragem que deveria ter. Veremos se a tem e os tem no sítio. 

As "amplas liberdades" que aproveitam ao comunismo...


Observador, José Milhazes:

A revolução comunista de 1917 na Rússia continua, hoje, rodeada de muitos mitos. Um deles é que foi ela que acabou com a repressão e o regime burguês saído da Revolução Democrática de Fevereiro/Março, quando a verdade é que os bolcheviques tomaram o poder aproveitando-se exactamente das liberdades democráticas abertas por esse regime.
“A originalidade do momento presente na Rússia consiste na transição da primeira etapa da revolução, que deu o poder à burguesia devido à insuficiente consciencialização e organização do proletariado, para a sua segunda etapa, que deve passar o poder para as mãos do proletariado e das camadas mais pobres do campesinato”, escreveu Lénine no seu artigo “Sobre as tarefas do proletariado neste revolução”, pouco tempo depois de ter chegado do exílio a São Petersburgo — viajando com a ajuda da Alemanha, país interessado em que a Rússia saísse da Primeira Guerra Mundial.
Esse artigo de Lenine entrou na história como as “Teses de Abril” e foi publicado no jornal “Pravda” no dia 20 de Abril (7 de Abril no calendário russo) no meio de uma discussão feroz não só entre os socialistas russos em geral, como entre os próprios bolcheviques. Alguns consideraram mesmo essas teses um “delírio” (Gueorgui Plekhanov)
Mas, neste artigo, é da mais primordial importância reparar em qual foi a táctica defendida por Lénine para impor a “ditadura do proletariado”, em concreto aproveitar-se da existência de grandes liberdades e da ausência de repressão na Rússia saída da Revolução de Fevereiro.
“Este período caracteriza-se, por um lado, pelo máximo de legalidade (a Rússia é, agora, o país mais livre do mundo de todos os países combatentes) e, por outro lado, pela ausência de repressão sobre as massas e, por fim, pela sua atitude de confiança e inconsciência face ao governo dos capitalistas, dos piores inimigos da paz e do socialismo”, escreveu o dirigente bolchevique.
Porém, após o assalto ao poder a 25 de Outubro/7 de Novembro de 1917, os bolcheviques viram que a continuação dessa liberdade era um obstáculo ao seu poder absoluto, mascarado sob a forma de Sovietes de Operários, Camponeses e Soldados. O exemplo da dissolução da Assembleia Constituinte é disso o mais flagrante.
Receando o descontentamento da opinião pública se não se realizassem eleições para esse órgão legislativo, ideia muito popular no país, Lenine acabou por aceder e o escrutínio realizou-se a 12 de Janeiro de 1918. Nele a situação caótica em que o país vivia e a guerra contribuíram para uma baixa afluência às urnas (menos de 50% dos eleitores), o que não impediu que os bolcheviques tenham sofrido uma pesada derrota: dos 750 deputados eleitos, apenas cerca de 180 eram bolcheviques, que ficaram muito atrás dos socialistas revolucionários e centristas, que conquistaram 370 lugares na Assembleia Constituinte. Os restantes deputados estavam repartidos por forças políticas que também não apoiavam os bolcheviques.
Após uma longa primeira sessão, às 5 horas da manhã um marinheiro subiu à tribuna e anunciou: “A guarda está cansada. Peço que terminem a sessão e regressem a vossas casas”.
Segundo recorda Nikolai Bukharine, um dos muitos dirigentes comunistas fuzilados pela ditadura criada com as próprias mãos, a reacção de Lenine à notícia dessa acção foi sintomática: “Ele riu-se durante muito tempo, repetiu para si as palavras que ouvira e riu-se, riu-se. Alegria contagiante, até às lágrimas. Riu-se às gargalhadas”.
A Assembleia Constituinte ainda teve tempo de tomar algumas medidas importantes: a lei da terra, que considerava-a propriedade nacional; um apelo às potências beligerantes para que fosse dado início às conversações de paz e a proclamação da República Federativa Democrática da Rússia.
E assim foi enterrada uma grande possibilidade de a Rússia se transformar num Estado europeu e democrático e dado início a uma experiência social que durou 74 anos e custou milhões de vida.
Aliás a obra “Rumo à vitória”, escrita pelo antigo dirigente comunista português Álvaro Cunhal, não passa de uma adaptação à realidade portuguesa das “Teses de Abril” e de “O Estado e a Revolução”. Nesse livro, Cunhal fundamenta igualmente a transição da revolução burguesa para a socialista, antecipando o que o Partido Comunista Português tentaria concretizar entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975, mas o conseguir para o bem da nossa democracia.
Numa época atribulada como a que vivemos, as democracias têm de reforçar os seus meios de defesa contra os extremismos de direita e de esquerda, apresentar alternativas e novos caminhos perante a ameaça de repetição de ideologias manchadas pelo sangue e pelo ódio
Parafraseando uma declaração de Lenine, que dizia que uma revolução só vale alguma coisa quando se sabe defender, eu diria que a democracia só vale alguma coisa se se souber defender. Foi assim há 100 anos, é assim hoje.