Para quem quiser perceber a origem do fenómeno da corrupção em Portugal e principalmente a explicação para a condescendência com que os media em geral a entendem, vale a pena ler o que um blog- Trix-Nitrix- escreveu sobre esse assunto.
Por exemplo e por ser o mais relevante porque atinge o PS que é uma espécie de reserva protegida pelos media quanto a denúncias de práticas de corrupção ( vá lá saber-se porquê...) pode ler-se isto:
Numa recente entrevista a uma televisão, das muitas que deu a propósito do seu livro, Um Político Confessa-se,
Mário Soares afirma que Rui Mateus era um empregado de mesa que
trabalhava em Londres e que, por saber bem inglês, tinha ajudado o PS no
início. É evidente, como se compreende, estas declarações visavam
diminuir aos olhos dos telespectadores a personagem cujo livro, Contos Proibidos,
tanto o tinha incomodado. Mas de facto uma coisa é verdade e Rui
Mateus, apesar de não o afirmar explicitamente, deixa perceber que Mário
Soares precisava de alguém que soubesse bem inglês, já que ele não o
sabia, para estabelecer contactos com os seus parceiros internacionais. É
interessante que o autor dos Contos Proibidos referira
a determinada altura que Mário Soares só convivia com os dirigentes da
Internacional Socialista dos países do Sul: Espanha, França e Itália.
Com os do Norte só em encontros formais. Compreende-se porquê. Mário
Soares, não falando inglês, só com tradutor é que poderia contactar tais
dirigentes. Na fotografia, que é reproduzida na capa do livro, vê-se
Rui Mateus entre Mário Soares e Helmut Schmidt. Quase que jurava que
estava lá a fazer de tradutor. No entanto, pelo que se percebe do livro,
a sua passagem por um restaurante em Londres foi ocupação de juventude e
a sua ascensão no PS e na Internacional Socialista foi mais do que a de
um simples tradutor.
Dito isto, que eu valorizo bastante porque passei por situações
semelhantes e compreendo bem o que é contactar alguém com quem não se
pode falar uma língua comum, passemos a outros factos descritos no
livro.
Um dos aspectos mais rocambolescos de toda a história é que ela gira
sempre em volta da recolha de fundos para o PS. Já falei disso a
propósito do 25 de Novembro, mas todo o livro está cheio de episódios
entre o trágico e o cómico em que Rui Mateus, por incumbência de Mário
Soares, se entregava juntamente com o tesoureiro do PS, que a
determinada altura passou a ser um cunhado de Soares.
É interessante saber que um dos primeiros contributos importantes para o
PS veio do coronel Kadhafi, no seguimento de uma visita de Mário Soares
a Tripoli, em Novembro de 1974 (pag.63). Rui Mateus transcreve partes
da carta que escreveu em nome do PS, demonstrando grande admiração pelo
regime líbio. É igualmente interessante verificar que no livro de César
de Oliveira, Os Anos Decisivos, Portugal 1962-1985, um testemunho (Editorial Presença,
1993), que também reli recentemente, aquele refira que um dos contactos
que fez para obter ajuda para a UEDS tenha sido com a Líbia, do coronel
Kadhafi. A UEDS era um pequeno partido político, criado em 1978, por
Lopes Cardoso e outros companheiros, que na sua maioria eram dissidentes
do PS. César de Oliveira refere a sua ida àquele país para participar
numa Conferência Internacional de Professores e as conversações que
então entabulou com os dirigentes líbios, que não tiveram sucesso, dado
que aqueles lhe falaram na ala esquerda da FLAMA e da FLA, dois
movimentos independentistas, respectivamente, da Madeira e dos Açores,
facto que ele negou, falando de que eram sim da “extrema-direita e
politicamente suspeitos” (pag. 226). Logo ali acabaram todas as
facilidades. Ficou com a impressão que representantes daqueles
movimentos já tinham passado por aquele país para obter fundos, alegando
serem da sua ala esquerda. Como se vê, todos iam ao beija-mão ao
coronel Kadhafi. Quando caiu em desgraça é que se transformou num
ditador horrível.
Outro dos aspectos mais interessantes do livro é o pormenor da discrição
da actividade da CIA e da Internacional Socialista (IS) no nosso país,
principalmente durante o período revolucionário e depois nos anos
seguintes, quando ainda era preciso ajuda para ancoragem de Portugal ao
modelo ocidental. Já vimos o papel desempenhado pelo Comité criado pela
IS no
post anterior. Não me irei alongar no papel da CIA e do
Secretário de Estado, do governo de Nixon, Henry Kissinger.
Limitar-me-ei a afirmar que Rui Mateus, tal como Mário Soares, eram
grandes amigos de Frank Carlucci, embaixador dos EUA em Portugal, mas
também dos homens da CIA encarregues do nosso país.
Mas o mais interessante, para quem não anda a par dos meandros da política internacional, é a descrição que o autor dos
Contos Proibidos faz da intervenção da CIA e dos serviços secretos ocidentais na destituição de alguns lideres da IS que estavam no poder.
Ainda sobre Mário Soares, o mesmo indivíduo é presença assídua e constante ( até que surja qualquer coisa interessante que pode muito bem surgir nos próximos meses) nos comentários, entrevistas, conferências e tudo mais o par de botas habitual. Hoje aparece no Expresso em entrevista a proclamar ideias que leu no Le Nouvel Obs ou noutro sítio qualquer. Numas páginas à frente o jornal cita documentos americanos agora desclassificados e que revelam o que Kissinger e outros pensavam de Mário Soares ao tempo de 1975.
Por exemplo, o mesmo Helmut Schmidt que aparece na capa dos Contos Proibidos, em 15.7.1976 dizia que "Receio que os portugueses cometam grandes erros na economia. Soares não é economista e é um idealista. Já estão a nacionalizar de mais- deviam era ir no sentido contrário."
É bom lembrar estas coisas, estes erros que hipotecaram uma nação como a nossa. E quem foram os responsáveis...
3 comentários:
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/perigo-na-linha-de-sintra
um relato de dois jornalistas , mas vivemos ou não vivemos melhor ? animação não nos falta !
Ó legião 1143 se o Helmut Schmidt pudesse voltar e ver como "nacionalizaram" a África inteira...
Estes ex-lava pratos "disparam" para o lado em estiverem virados.Mas estão sempre com "razão".Quem quiser que se esquive...
Descolonizaram e deixaram confiscar, abandonaram os seus mortos e agora colonizam-nos com todos os direitos pagos pelo "social".
Grandes sobas!
José, esta situação será inequivocamente legal?
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/policias-as-ordens-de-mario-soares010106810
Os ex presidentes têm direito a segurança permanente, 24 horas por dia, em todas as suas propriedades, por parte da GNR e PSP?
Com a falta de efectivos que há nestas forças, parece-me escandaloso!
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