quarta-feira, março 27, 2013

Não comprem mais aldrabices

Logo, José Sócrates vai à RTP em função de um arranjo político-partidário, de facção, organizado por alguém nisso interessado e com a participação de um director de informação da RTP, paga por todos nós.
Sob a capa de um pretenso interesse jornalístico inquestionável e uma ainda mais indiscutível opção democrática acerca da liberdade de expressão de um antigo primeiro-ministro, José Sócrates prepara-se para usufruir do seu tempo de antena televisivo, publicamente pago, com um único objectivo inconfessável: promover-se, mais uma vez,  e tentar ludibriar os votantes deste país para novas aventuras políticas.

O episódio lembra-me um outro, também televisivo, dos anos setenta e que teve como protagonista o presidente dos EUA, Richard Nixon.Um jornalista de televisão, David Frost, tentou Nixon, em 1977, para uma série de entrevistas e este, carenciado de dinheiro, aceitou. O caso já deu um filme.
Na verdade, o paralelo pode parecer surrealista, porque além do mais, Nixon estava acabado politicamente. Porém queria limpar uma imagem muito suja na opinião pública e a tv pareceu-lhe tentadora.
Por outro lado, comparar Nixon e este indivíduo que anda por aí aos caídos políticos e não só, é o mesmo que comparar o tal director de informação, outro inenarrável, ao então jornalista David Frost que entrevistou aquele, ou ao jornalista do Washington Post, Bob Woodward que entalou Nixon num episódio que ficou para a história do jornalismo e que o tal Paulo Ferreira conhecerá mas julgará ser da ficção cientifica  das utopias que não dão de comer a ninguém.
E no entanto, há similitudes nestes dois acontecimentos.
Nixon tinha saído da presidência em 1974, a mal, muito mal,  essencialmente por causa do escândalo Watergate.
O caso, na altura,  foi  desmontado por dois jornalistas do Washington Post,  um deles precisamente Bob Woodward que ajudado por alguém do interior do FBI, descobriu que a administração Nixon tentou subverter o Estado de Direito, espiando e escutando adversários da oposição e subornando pessoas para tal, às escondidas do povo americano que elege.
Não foi mais que isto, o suficiente para Nixon resignar e afastar-se do poder.
Por cá, o caso Face Oculta e agora também o jornalista Octávio Ribeiro revelou que José Sócrates tentou manipular uma série de órgãos de informação, em 2007, socorrendo-se de comparsas tipo Vara e palermas de outra espécie que nem nomeio, para alcançar o objectivo.
Comparativamente, Nixon foi um menino de coro que gravou as conversas com os responsáveis pelas malfeitorias em Watergate e foi apenas por isso, por se ter descoberto que sabia dos factos, que foi obrigado a resignar, pela investigação do Congresso e com apoio jornalístico exemplar.
Por cá, coisa muito pior que essa nem sequer foi investigada. Porquê? Deve perguntar-se ao jornalismo caseiro tipo para quem é bacalhau basta e a estes seus próceres, tipo Paulo Ferreira, a razão que aliás é tão evidente que democraticamente até dói pensar nela.
Portanto, José Sócrates safou-se dessa. Agora regressa ao palco televisivo para fazer esquecer ainda mais esse e outros episódios porque ninguém lhos vai lembrar, na televisão pública que temos.

Nixon, em 1977, escassos dois anos e pico após a saída da presidência, acedeu nas entrevistas a David Frost, a troco de dinheiro vivo de que precisava para pagar despesas avulsas. José Sócrates pelos vistos vai de graça porque não precisa de dinheiro para viver, apesar de ninguém lhe conhecer rendimentos concretos, a não ser uma esquisita e obscura contratação, à 25ª hora da sua reaparição pública,  para assessorar uma empresa farmacêutica internacional, o que constituiu outra singularidade no comportamento deste indivíduo que agora pretende intervir outra vez politicamente e na condescendência que mediaticamente lhe concedem.
Nessa altura, Nixon escrevia já as suas memórias em livro que no ano seguinte foi publicado.

A recepção pública desse livro não podia ser mais expressiva, como mostra este anúncio publicado na revista Rolling Stone de 15 Junho de 1978 da autoria de uma "comissão" para boicotar livros de aldrabões e patifes:


Também neste caso o eventual interesse em saber coisas novas de um antigo governante é relativamente menorizado pelo carácter do mesmo e pelos antecedentes conhecidos. Um mentiroso, na política e não só, não devia merecer qualquer confiança, seja de quem for. E só quem é da laia do mesmo lhe dará a trela necessária porque as mentiras vão continuar e a manipulação será contínua, ainda mais com este tipo de jornalismo de fretes.
A mensagem de 1978 continua a ser válida: não comprem mais aldrabices a patifes e apresentem-lhes a factura devida, como esta que a  JSD pretende apresentar:



Questuber! Mais um escândalo!