quinta-feira, abril 25, 2013

25 de Abril de 74: o dia em que o regime caiu de velho

No dia 25 de Abril de 1974 o regime que Marcello Caetano representava caiu no Carmo, mas a Trindade não fechou.
Na verdade, o regime não teve ninguém de relevo que o suportasse nesse dia porque estava velho e morreria num dia daqueles. Foi em 25 de Abril como poderia ter sido quase um mês antes, com a revolta das Caldas. Ou seria dali a outros dias ou meses. Não creio que anos porque os asnos que não mudam desaparecem do mapa da relevância. Marcello Caetano tentou a mudança mas não conseguiu porque não tinha ânimo nem espírito suficiente para a protagonizar em modo eficiente e ninguém o ajudou nessa tarefa porque o regime já não o permitia. O regime caducou e por isso caiu.
Ninguém de relevo o chorou publicamente e tirando os apaniguados do mesmo, incluindo a polícia política e os seguidores acéfalos ( que depressa viraram de casaca) não houve vozes activas e consistentes contra a Revolução desse dia 25 de Abril. Toda a gente, maioritariamente, concordou com a mudança brusca. E por isso veio para a rua e deu vivas à Liberdade porque estava farta de certos tiques autoritários que já cansavam, alguns  sem sentido prático a não ser um hábito arreigado para fazer cumprir um respeitinho também caduco.

Sinais de tal estado de coisas socialmente relevantes não faltavam. Por exemplo, o cronista Ferreira Fernandes que no outro dia no DN escreveu uma crónica memorável sobre a estupidez humana, escreve hoje sobre os fait-divers que explicam porque a Nação ( tal como se chamava ao povo, então) já não suportava o regime.

O autoritarismo do regime que Marcello Caetano defendia, para o proteger dos "subversivos" comunistas, já não convencia ninguém e caducou a validade, em 25 de Abril de 1974.
A Censura prévia também era um óbice mas talvez menor do que se pensaria. A Nação percebia o que se passava essencialmente, talvez melhor que agora, com democracia aburguesada e liberdade de expressão condicionada pelas impresas que por aí pululam à cata de rendimentos.

Conforme explicava uma pequena sondagem no Diário de Lisboa de 1972...as pessoas em geral consideravam-se bem informadas… em assuntos internacionais. “Nos outros, vamos andando. Tiram-se umas pelas outras”. Tal e qual e era assim mesmo que as pessoas sabiam o que se passava porque percebiam a natureza do regime que não contestavam por aí além, tirando os fósseis comunistas e uma oposição crescente, de tendência democrática ocidental que queria outro regime mais aberto e com maior liberdade para dizer e escrever.





Ainda assim o que se escrevia antes de 25 de Abril de 1974 e que não era publicado devido à tal Censura era relativamente pouco e de pequena importância porque reflectia em quase tudo a ideologia comunista sobre a qual Marcello Caetano tinha carradas de razão como o tempo veio demonstrar amplamente, mas os portugueses actuais que provavelmente se consideram bem informados, pelos parâmetros da época,  não querem perceber. Ou não sabem o que é ainda pior.
Os “Livros proibidos” pelo regime eram assim, como mostrava um antifassista encartado, na revista do DN há uns anos ( 2007). Esses "livros malditos" e proibidos nunca foram óbice à leitura dos mesmos por quem nisso revelava interesse, mas ainda assim serviu para forrar os argumentos sobre a Censura terrível que havia antes de 25 de Abril que os proibia, preservando-os dos olhos sensíveis. Sussurrava-se então que havia livros escritos pelos escritores malditos que os guardavam na gaveta com medo da Censura. Depois de 25 de Abril descobriu-se que nem um só havia que valesse a pena ler. Patético.





Lendo a crónica do cronista do DN que no outro dia escreveu aquela coisa  inteligente, percebe-se que relata o caso singular de uma prisão de um boateiro, num quiosque. E relata também, sem lhe pôr o nome, o caso ainda mais singular de Alberto Martins que em Coimbra, perante o presidente da República, ministro da Educação e outros próceres do regime,  resolveu interromper e provocar os presentes. Mandaram-no calar, por respeitinho, mas isso tornou-se caso que lhe rende agora o prestígio de antifascista. Rende-lhe prestígio e cargos como o de ministro. Sinal dos tempos. ( Por esclarecimento de quem de direito, a personagem mítica do ex-ministro Alberto Martins não deve ser incomodada com a minha interpretação porque não é dele que se trata mas de um outro, também do PS, mas por enquanto no anonimato. Fica o esclarecimento que para o caso tanto vale. Si non e vero e ben trovato, no caso do mesmo Alberto Martins).

Ora sobre os boatos, não era só o regime de Marcello que se preocupava ao ponto de a polícia prender boateiros. Também no regime que se lhe seguiu “o boato era a arma da reacção- é preciso esmagar o boato”. Assim mesmo, nessa língua de pau que os comunistas, esses democratas da 25ª hora, inventaram para ludibriar papalvos.
Esses camaradas tinham aprendido com os cartazes da União Soviética, pátria dos povos que eles queriam irmanar por cá. Mas não diziam nada, como agora.




Portanto e rematando: o dia 25 de Abril de 1974 acabou com a Censura? Sim, com a do regime. Mas apareceu logo outra…mais subtil e menos brutal, mas eficaz também. E o tempo actual é a prova disso mesmo.

Devolveu a Liberdade aos portugueses que estavam fartos do autoritarismo salazarista/ caetanista? Sem dúvida, nisso. Mas…em que consistiu verdadeiramente essa Liberdade?

Veremos a seguir.

Questuber! Mais um escândalo!