Ontem o jornal Correio da Manhã tinha esta mancha na primeira página:
Quem leu percebeu o quê, exactamente? Que Durão pode ter sido um estudante "à Relvas", cujo significado entrou no domínio do discurso corrente: facilidades académicas para obtenção de curso superior.
A mancha do jornal é grave porque associa as "cadeiras à Relvas" com a "passagem administrativa a 8 disciplinas", "no Prec", acrescenta o jornal na mancha suja de primeira página.
Tal é desenvolvido no interior do jornal em modo ainda mais manchado e com sujidade ainda mais carregada. Assim:
A jornalista Diana Ramos que provavelmente não viveu o PREC e não sabe o que foi exactamente, atira a mancha de sujidade escrita para cima da foto de Durão Barroso, o apanhado do dia neste jornalismo trash que não sei em que escola foi aprendido e com quantas cadeiras se fez.
Escreve a mesma que Barroso "tirou o curso no período da revolução de 1974", o que é falso, porque Barroso acabou o curso em 1978. Escreve ainda que "do total de 23 cadeiras, 8 foram feitas com a atribuição de notas de forma automática, uma prática comum naquele tempo". Falso novamente. Não foram oito nem era comum "naquele tempo" que porque tal só ocorreu num mês daquele tempo, precisamente o mês de Maio ou Junho de 1974, no rescaldo do 25 de Abril e na confusão que se gerou nas faculdades, mormente de Direito, a propósito de disciplinas "fascistas", professores "fascistas" ( o grande professor Martinez que o diga) e de curricula "fascista". Como passou quase tudo a ser "fassista" ( Domingos Abrantes repetia o termo ad nauseam) o curso de Direito, onde Barroso se encontrava inserido no MRPP, movimento cripto-comunista contra o "fassismo" e o "social-fassismo", levou uma volta ideológica e em Junho de 1974 foi aprovada em RGA ( estive lá, numa dessas reuniões gerais de alunos e vi o ambiente revolucionário, fervilhante dos garcias pereiras, barrosos e tutti quanti) a suspensão de exames na faculdade. Tal determinou, por decisão sabe-se lá de quem, as tais passagens administrativas para aqueles que se encontravam inscritos em exames e só para esses. Barroso estaria inscrito em dois exames nessa altura e beneficiou por isso de duas passagens administrativas e não oito como escreve a jornalista-trash. O jornal de hoje, aliás, refere que Ana Gomes também beneficiou de tal coisa, a uma cadeira...
A explicação deste fenómeno ocorrido em Junho de 1974 não é devidamente contextualizada no artigo em causa porque o objectivo não seria esse, notoriamente. O desiderato que a mancha de primeira página confirma é apenas um: declarar urbi et orbe, com a autoridadae jornalística do Correio da Manhã, sancionada pelo seu director que neste caso devia ter grande vergonha, que afinal Durão Barroso é da mesma estirpe académica de um Relvas. E não é, evidentemente. Mas com a mancha de primeira página do CM passa a ser para muita gente que passou no escaparate do quiosque e leu a sujidade manhosa. Esse efeito ninguém lho tira, ao Correio da Manhã e os jornalistas trash sabem perfeitamente que assim é e deixam que seja porque lhes rende leitores e dinheiro. Obsceno, portanto. Criminoso, eventualmente. Indesculpável, sempre.
A prova de tal malfeitoria vem na edição de hoje do mesmo jornal. Com a mancha suja na primeira página de ontem, a reitoria da Universidade fez horas extraordinárias num dia de descanso semanal, eventualmente por pressão do visado ( será que fariam o mesmo com outra pessoa?) e o jornal publica hoje mesmo um esclarecimento cabal que deveria aparecer na primeira página. Mas não aparece porque o efeito de ontem já surtiu todo o curso possível. A mancha de hoje é sobre a"pornografia infantil" atribuída a uma juíza ( uma magistrada jubilada mas tal só se descobre lendo no interior. O que interessa é, mais uma vez, a mancha suja na primeira página).
Apesar de Durão Barroso solicitar a "correcção imediata da notícia, com o mesmo destaque com que foi publicada" tal não acontece porque o jornalismo trash é mesmo assim: faz o mal, aproveita para fazer caramunhas logo a seguir, se lhe interessar, e não tem emenda, porque não há modo de o emendar, a não ser com medidas drásticas que a democracia não permite, em nome da liberdade de informação que esta gente por vezes avilta sem punição alguma.
A única correcção decente à tal mancha suja seria um esclarecimento cabal na primeira página em que se desse conta dos erros e asneiras da notícia assinada pela tal Diana Ramos que provavelmente nem se dá conta da gravidade destas coisas.
O Correio da Manhã deveria ter escrito muito simplesmente isto na mancha da primeira página de hoje:
"Ao contrário do que o Correio da Manhã afirmou ontem, em primeira página, Durão Barroso não fez o curso com cadeiras à Relvas. O jornal errou em vários factos que se esclarecem no interior e pede desculpa aos leitores e visado". Era assim, pelo menos. Pois bem, nada no jornal de hoje reflecte tal mea culpa que evidentemente não sentem. Nada de nada e a página que consagram à reposição dos factos é esta, simples e sem comentários a pedir desculpas ou a explicar o jornalismo de manchas sujas.
O que fazer com este tipo de jornalismo? Nada de especial. Parece que a Universidade recorreu à ERC. Perda de tempo. Os tribunais também não são para este tipo de jornalismo porque a jurisprudência do TEDH assegura que isto pode ser liberdade de informação legítima, porque há factos que são verdadeiros e o exagero noticioso é algo com que as sociedades modernas têm que conviver.
Pois então sugiro outra coisa mais eficaz e pessoalizada: aos responsáveis por esta mancha suja no jornal onde trabalham e de que vivem, far-lhes-ia o que dantes no far-west se fazia aos pequenos delinquentes sem emenda: um balde de alcatrão e penas, com passeio pela Rua Principal. Por cá, o alcatrão está pela hora das ppp´s e as penas já as devemos aos pássaros. Por isso mesmo, pode haver alternativas mais viáveis: um balde de entulho de papéis velhos do jornal que escrevem, com tinta fresca por cima.
Estou em crer que não farão queixa do tratamento...