sábado, abril 20, 2013

MEC foi censurado antes de 25 de Abril 74? Duvido muito.

Miguel Esteves Cardoso  já foi o meu herói da escrita nos jornais, nos anos setenta, lá por 1977 ou coisa assim, embora tenha começado a escrever no O Jornal em 1975 porque foi aí que li a sua primeira crónica ( que aliás guardo).
Tínhamos sensivelmente a mesma idade e por isso achava piada a um tipo com um nome como esse, desconhecido, começar a escrever de modo diferente dos habituais, sobre música popular, ainda por cima.
Até então lia Trindade Santos no Expresso, para mim o único crítico decente a escrever sobre música em Portugal. Em 1977 havia uma revista- a Música & Som, onde escreviam alguns dos escríticos musicais da época, incluindo também o tal Trindade Santos e pouco mais, porque o Sete não chegava sequer a esse patamar porque era um semanário generalista sobre espectáculos e "show bizz" em geral, no panorama nacional. Tinha lá o Rolo Duarte pai e está tudo dito.

Miguel Esteves Cardoso, nessa altura, escrevia em tom ditirâmbico sobre grupos ingleses e música popular de expressão anglo-saxónica e ainda Amália, de vez em quando e numa altura em que ninguém ligava pevide à diva nacional do fado. Não me lembro de alguma vez ter escrito sobre António Pinho e a Banda do Casaco, por exemplo. Mas lembro-me de uma crónica hilariante sobre os "jazos" ou os simplórios da música lusitana, numa crónica que foi a pedrada no charco da nossa escrítica musical. O estilo era diferente do que até aí se podia ler e que só um Artur Portela Filho ou um Assis Pacheco ou ainda um O Neill conseguiam de algum modo alternar.
MEC foi uma lufada de ar fresco na escrítica, mas não foi um fenómeno duradouro. As crónicas no Independente que se seguiram às de O Jornal e no Expresso estiolaram rapidamente numa modorra estilística porque MEC não é um escritor. Não é um Salinger ou sequer um O´ Rourke ou mesmo um Tom Wolfe. MEC é um cronista, apenas.
Desde os tempos do Independente, os melhores textos de MEC são crónicas sobre gastronomia. Lembro-me de uma sobre as "andouilletes" francesas que tem já uns anos e que foi publicada no Público, sendo do mesmo género antológico daquelas sobre "dar ares de jazo", dos anos setenta.
É isso o melhor de MEC, a meu ver e nada mais para além de uma escrita escorreita que aliás nunca me impressionou por aí além. Nesse aspecto, Lobo Antunes chega para ele, sem esforço de maior.

Mesmo assim MEC conseguiu impor-se nas letras nacionais, bastante pobres, e pairar acima de uma média muito baixa e agora tem uma entrevista ao jornal i em que em determinada altura diz isto, sobre a sua actividade radiofónica antes de 25 de Abril de 1974:

Fazia programas de rádio e tinha de levar as coisas aos censores. Cortava as músicas do Elton John, do James Taylor, do Neil Young. Parecia uma coisa dos anos 30.

Permito-me duvidar e muito do acerto desta afirmação. A Censura prévia proibiu a passagem de músicas de Elton John, antes de 25 de Abril de 74?

Vejamos. Elton John até então tinha publicado sete discos. Partindo do pressuposto que tal terá ocorrido entre 72 e 74, temos três discos- Honky Chateau; Don´t shoot me, i´m only the piano player e Goodbye Yellow brick Road.
Nenhum deles contém temas que a Censura dos nosso coronéis reformados tivesse cuidado em preservar dos ouvidos sensíveis do auditório nacional de rádio. E quem diz Elton John pode dizer James Taylor ou Neil Young. Nunca ouvi que uma coisa dessas tivesse acontecido e lembro-me de ouvir no rádio da época as músicas desses músicos.
É provável que MEC tenha motivos para o ter dito, mas não o explicou e devia. Até lá tomo a afirmação como resultado de má memória. Pelo menos.

Questuber! Mais um escândalo!