Para quem não saiba, a TVI já foi uma estação de televisão em que o
jornalismo atento à realidade obscura da governação oculta tinha alguma
atenção. Este tipo de governação, como devia ser óbvio para qualquer
jornalista digno desse nome, é o core business da profissão de informar,
nesse campo específico do controlo mediático, como contra-poder
necessário numa democracia. Era isso que faltava antes de 25 de Abril,
em pleno, mas não in totum porque os jornais já estavam enxameados por
esquerdistas que assim se revelaram logo no dia 25 de Abril, nas
manchetes dos jornais e nos editoriais inflamados que mudaram a
linguagem corrente. Ou seja, antes de 25 de Abril de 1974 uma maioria de
jornalistas era do contra, como se costuma dizer.
Hoje,
paradoxalmente ou talvez não, a maioria dos jornalistas são da situação
e situacionistas. Os exemplos são às mãos cheias, particularmente nas
televisões, nas direcções de informação. Todos assumem os papéis dos
antigos directores da RTP antes do 25 de Abril. Tudo pelo poder, mesmo
fático e nada contra o poder. Anas Lourenços, Josés Albertos de Carvalho
e outros inenarráveis na RTP seguem o guião de um poder ideológico
adaptado ao tempo que corre por um motivo muito simples e prosaico:
dinheiro. Esses jornalistas que mesmo assim ainda se entendem como
profissionais do ramo, ganham mais que a média, muito mais, por causa
disso mesmo e enquanto desempenharem esse específico papel situacionista
e avesso a fazer ondas que não convêm a quem manda no momento. Por
isso é o dinheiro, salpicado de ideologia difusa, que manda nesse tipo
de informação. Como percebem perfeitamente tal esquema tácito,
vergonhoso mas que aguentam muito bem, recusam, por isso, qualquer
reportagem ou notícia que sendo recolhida por repórteres ainda não
arregimentados nesse percurso de panurgo, lá vão mostrando algumas
situações escandalosas do sistema político que temos e cujos guardiães
se ocupam em preservar da atenção da opinião pública. É o caso evidente
da jornalista da TVI Ana Leal, para citar o último. Enquanto esses
assuntos não aparecem nos media, pura e simplesmente não existem e daí o
esforço sempre renovado do poder político em domesticar quem manda na
informação. Os exemplos desta pouca-vergonha institucionalizada nos
partidos são por demais evidentes e recorrentes para merecerem
apontamento explícito. Um dos episódios mais grotescos desta saga
vergonhosa para a democracia ocorreu no tempo de José Sócrates e está
bem revelado no processo Face Oculta, apesar dos cortes de tesoura do
antigo PGR que simbolizam bem este estado de coisas.
O caso da
licenciatura vergonhosa do mesmo Sócrates é também um exemplo dessa
estratégia em que a democracia desta gente se especializou: enquanto não
foi notícia de jornal de referência não existia mediaticamente, apesar
dos factos concretos e precisos terem sido apresentados noutro lado, no
caso no blog Do Portugal Profundo.
Hoje a TVI envereda por esse
percurso panúrgico tendo como flautista o conde barão da estação, dono
esquisito com sócio da estranja. Segundo conta o Público de ontem,este
conde é um aristocrata da informação arreigada ao respeitinho pelos
poderes. Segundo o mesmo conde, o baronato dos jornalistas não alinhados
neste rebanho, não presta. Não é boa informação. Boa, mesmo boa, para o
conde, é a informação do tal José Alberto Carvalho, por exemplo. E da Judite de
Sousa, claro, esse exemplo ímpar do jornalismo nacional que tem como única
rival a exemplar Fátima Campos Ferreira do Prós & Contras da RTP.
Isso sim, é jornalismo "sério e competente". O outro é de latrina ou
abaixo de cão. "Travestido" como dizia o outro tratante. Mouras Guedes ou Anas Leais ou outros da mesma laia são jornalistas de terceira divisão, sem honra de seriedade garantida pelo conde do baronato.
O
jornalismo "sério" da mesma Judite de Sousa é aquele que convida um
expoente da nossa indústria exportadora, no caso o chefe da BIAL, Luís
Portela, para o mesmo explicar a excelência da sua empresa exemplar (
até agora, mas logo se verá). Este tipo de jornalismo era o típico que
existia antes de 25 de Abril de 1974, no tempo do regime de
Salazar/Caetano. Era o jornalismo do jeito a quem de direito, sem explicitar a intenção e da
manipulação publicitária travestida de informação.
Judite
de Sousa antes de ter entrevistado (?) o tal Portela, ontem, na
presença de Medina Carreira ( como é possível que este ainda não tenha
percebido a farsa?) foi convidada do mesmo Portela para apresentar um
programa, um "fórum", assim, realizado no final do ano passado: "No Fórum Bial Cardiovascular 2012, a jornalista Judite de Sousa moderou
um debate sobre as doenças cardiovasculares, reunindo médicos
especialistas em Medicina Geral e Familiar.
O que significa este tipo de jornalismo, afinal?
Significa o mesmo que o do País Positivo, um suplemento que de vez em quando aparece junto a alguns jornais ( o Público et pour cause) em que jornalistas daquele tipo "sério" se encarregam de entrevistar chefes de empresas públicas e privadas a quem dão tempo de antena escrita para dizerem o que bem entendem sem qualquer entrave do jornalismo "travestido".
É este o jornalismo típico que o conde quer para a sua TVI. E que as anas lourenços praticam há muito e na RTP sempre foi norma caseira.
Esta miséria não há meio de acabar.