Essencialmente será isto: um grande amigo de infância emprestou-me dinheiro durantes estes últimos anos. Não sei quanto foi porque um amigo é assim mesmo, não precisa de contabilizar milhões que empresta a outro, a troco de amizade. Uma generosidade sem limites conhecidos, confirmada pelo amigo de sempre, provavelmente ímpar na história da humanidade tal como a conhecemos.
Este amigo único e a sua história de empréstimos a fundo perdido é a defesa do actual recluso 44, perante os factos que lhe apresentaram. E não são todos os factos, como agora se sabe.
As coincidências? Os empréstimos escondidos de toda a gente? O modo formigueiro como aconteciam e com intermediários para as entregas? Os cuidados tidos com esse modo de entrega secreto e discreto? Tudo efabulações dos "pistoleiros do costume". Um amigo é um amigo é um amigo. E se o mesmo diz que é, assim é.
É esta a justificação para o dinheiro que o recluso 44 recebeu do mesmo amigo ao longo dos últimos anos.
O que importa neste caso é apresentar uma justificação minimamente plausível e que convença os que se querem convencer e com isso se bastam.
Se tal justificação atenta contra o senso comum é coisa de somenos. Se atenta mesmo contra a lógica das coisas mais simples que todos compreendem, tal lógica muda-se para que o arguido seja inocente.
Há pelo meio delitos menores como fuga ao fisco e à segurança social ( ordenado pago ao Perna por baixo da mesa e sem declaração para efeitos de segurança social, por exemplo) mas isso tudo se perdoa a quem deu tanto a ganhar a tantos e tantos. Como por exemplo ao amigo de sempre que enriqueceu dezenas de milhões quando o amigo era primeiro-ministro. Mais uma coincidência? Claro. Mário Soares assim o afirmará em julgamento ou fora dele.
E a opinião pública como reagirá a estas coincidências e a esta amizade sem limites que ninguém conhece igual? É fazer uma songagem a sério. Não daquelas que foram pagas para mostrar quem era melhor para liderar o partido...
E há outro argumento de peso: se chegar a julgamento que peça um júri...
E que lhe seja perguntado por exemplo isto: se tinha o apoio incondicional e ilimitado de um amigo com pelo menos 23 milhões de euros na Suíça e ao dispor, porque é que fez os empréstimos à CGD em condições que se desconhecem? Sim, por uns míseros cem mil euros a pagar em dois anos, não era preferível pedir emprestado ao amigo, como aliás já pedia?
É nos pormenores que o diabo se esconde...