sexta-feira, abril 21, 2017

Fátima para totós: a teopsia

  D. Carlos Azevedo, bispo-delegado do Conselho Pontifício da Cultura no Vaticano, ao Público:

D. Carlos Azevedo  defende que a leitura de Fátima não pode ser literal, mas teológica, “há uma interpretação a fazer” porque os fenómenos místicos “são naturais”.

Chegou o momento para falarmos com linguagem exacta. Joseph Ratzinger no ano 2000, quando fez o comentário teológico à última parte do segredo de Fátima, usou sempre a palavra visões e esse é o rigor teológico. O grande teólogo Karl Rahner também escreveu um livro sobre visões e profecias, usando a palavra visões. Esse é o termo exacto.

As visões, de vários tipos, são fenómenos místicos, espirituais, não físicos. Claro que uma pessoa ao descrever uma visão projecta os seus arquétipos, o que tem na sua mente, a sua memória, e na mensagem que recebe já entra a fé. Há uma mensagem que a transcende e que tem de ser interpretada. É a revelação particular que depois tem de ser interpretada à luz do evangelho e da doutrina, segundo as regras que a Congregação da Doutrina da Fé publicou em 2011, mas já conhecidas desde 1998.

Há muitos fenómenos de visões. Nós, párocos, conhecemos sempre alguém que nos vem dizer que tem visões. Estes fenómenos são naturais, sobretudo em períodos de crise, de dificuldade, ou da própria pessoa ou do mundo, em período de guerra, como foi o caso de 1917. É impressionante a densidade de factos do ano de 1917 em Portugal e no mundo.

Há uma interpretação a fazer e essa interpretação é a da presença maternal de Maria na vida dos cristãos, como disse João Paulo II quando foi a primeira vez a Fátima. Todos os cristãos sentem essa presença mas alguns podem-na sentir de modo mais intenso. Isso então é uma visão, uma experiência mística. A presença de Maria não vem do céu por aí abaixo. Essas descrições são mais simples, mais imediatas, para entender o que é uma visão mística, mas precisamos de usar a linguagem exacta para não cair no ridículo. Gostava que este livro servisse para quem não crê ter respeito para com o episódio, ainda que não acredite
.

Tal como dizia o outro padre Anselmo Borges, "é evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima", agora o bispo Azevedo também tem a sua interpretação sobre o fenómeno: tudo experiências místicas, visões particulares dos pastorinhos, pobres coitados, incultos e que não sabiam teologia e ainda as de dezenas de milhar de pessoas que viram fenómenos que não se compadecem com experiências místicas e mesmo assim passaram a sê-lo.

Esta explicação "racional" para os fenómenos de Fátima já tinha sido apresentada em livro, - a Senhora de Maio, da autoria de António Marujo e Rui Paulo da Cruz, edição Círculo dos Leitores, 2017- em modo um pouco mais elaborado:

 

Dá a impressão que a Igreja Católica tem vergonha de Fátima, por ser tão contemporâneo, ter sido testemunhado por crianças simples e sem instrução e não ter explicação racional aceitável.
Só me interrogo se não terá vergonha de alguns  fenómenos que são apresentados como verdade de Fé, alguns até no Credo...

Após a Paixão e Morte de Cristo na Cruz, a subsequente Ressurrreição, verdade de Fé, ocorreu, para o bispo Azevedo e outros padres Anselmos? E as sucessivas aparições de Jesus Cristo ressuscitado,  tê-lo-ão sido mesmo ou apenas "visões"?

Desconfio saber a resposta e não me agrada nada.