sexta-feira, novembro 28, 2008

O meu credo.

Creio em um só Deus. Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Esta crença, separa-me irremediavelmente dos incréus e jacobinos que são legião, no Portugal público e mediático, com maior influência. Mas como é uma crença, respeito as crenças alheias, desde que respeitem uma outra: creio na tradição e no costume e na evolução lenta da sociedade, por fenómenos que a sociologia pode, quando muito, explicar a posteriori.
Creio na Família como unidade fundamental da sociedade que temos. Logo, tudo o que atenta gravemente contra a família, tem a minha oposição de princípio. E mesmo com as contradições inerentes a quem é divorciado, não abdico desse princípio.
Creio ainda, numa Pátria em que nascemos e que durante séculos tem sido cristã, católica mesmo, com separação dessa confissão, de um Estado que, porém, não deve atentar contra a mesma.

Depois disto, que é a base fundamental, creio num regime político de democracia ocidental, em que a liberdade de iniciativa individual, no campo da economia, é também fundamental, porque dai decorre "a imaginação e o dinamismo para ultrapassar a estagnação social", no dizer de Marcello Caetano. Político que admiro, relativamente às ideias fundamentais de organização do Estado ( com a ressalva que incluo, do normal pluralismo político e partidário), a quem se atribui um estatuto regulador, reduzido ao mínimo indispensável, mas de qualidade acima de toda a dúvida nos sectores essenciais que lhes devem ser reservados: a Justiça e a Segurança e ainda a regulação e supervisão de certos sectores da actividade económica.
Creio num Estado social que atenda às dificuldades imediatas dos mais pobres e carecidos, com apoio à maneira social-democrata, efectiva, real e de inspiração cristã.

Isto é o fundamental. O que vem por acréscimo, depois deste crédito, é o elenco das virtudes, por contraposição à denúncia dos vícios da vida pública e do Estado.

Não creio num Estado em que os partidos políticos, são dirigidos por grupos que se cooptam e permanecem dezenas de anos no âmago do poder e dos locais onde o mesmo se reparte. A regra da alternância, em democracia, fica totalmente submersa nesta ficção de governo do povo para o povo. Não creio no exercíco do poder político, por grupos que se escolhem no segredo de reuniões de organizações que não se mostram a todos, como a Maçonaria e a Opus Dei e que funcionam como parlamentos paralelos e preponderantes, apostando e ganhando, na designação dos seus membros para presidentes da verdadeira Assembleia eleita democraticamente.

Não acredito num Estado e num Governo cujo chefe executivo, reconhecidamente, tirou um curso de modo totalmente inaceitável, segundo as próprias regras burocráticas desse mesmo Estado e que ainda se gaba do feito, tomando toda a gente por um bando de parvos.

Não acredito num Estado e em Governos, que ao longo de dezenas de anos, pouco ou nada fizeram de efectivo e eficaz, para estancar a corrupção no próprio seio da Administração, tal como tem sido denunciado ano após ano, por quem a conhece e por quem lidou com a mesma directamente.

Não acrecito num Estado e em Governos que por não terem capacidade organizativa, continuam a experimentar esquemas artificosos numa área fundamental para qualquer nação civilizada: a Educação.

Não acredito num Estado e em Governos, cujos membros, ao longo dos anos, têm organizado as leis, particularmente as de índole penal, de modo a beneficiarem directamente com as dúvidas que as mesmas suscitam aos aplicadores, numa perversão de todo um sistema legislativo, pensado por catedráticos de um sistema estranho ao nosso país e cultura e que não admitem críticas, por se julgarem num Olimpo intelectualmente inatingível pelos comuns.

Não acredito num Estado e Governos que instituiram sistemas de Saúde públicos ( e privados) que exaurem os recursos financeiros e não melhoram os serviços públicos. Não acredito num Estado e Governos que ao longo dos anos, não tem conseguido melhorar significativamente o nível de vida da maioria das pessoas e pelo contrário, contribuem para o piorar e tornar o pior dos parceiros comunitários.

Não acredito nas pessoas que ao longo destes anos, têm participado nesses governos e gizado esses sistemas e que passarm a fazer parte de uma grande Cooperativa de interesses privados, por vezes demasiado pessoais e que usufruem do mesmo, estendendo os privilégios aos seus próximos, num exercício prático de nepotismo declarado.

Acredito que a crítica acerada e constante aos fautores e actores deste regime e sistema que ja se instituiu como tal, pode melhorar um pouco as coisas.

Acredito que o exercício de livre expressão dessa atitude e direito, pode ser garantido pela reivindicação da sua legitimidade plena, mesmo em tonalidade sarcástica e maledicente.

Por um motivo, além de todos os outros, caro Joaquim:

Ridendo castigat mores.

PS: Vasco Pulido Valente, acaba de radiografar na TVI de Manuela Moura Guedes, o ataque ao cavaquismo, rompante. Para dizer que o presidente deve sofrer , por ver que afinal os dez anos do seu governo, estão a ser lançados na lama da suspeita de ilegalidades , desmandos e até corrupção, ligadas aos seus mais próximos colaboradores, particularmente os que afinal vieram a enriquecer pessoalmente, por causa desse poder político que detiveram.

Pois será, Vasco Pulido Valente. Parece mesmo que será essa a verdade essencial, indesmentível até. Aliás, quem é que escreveu um ensaio que intitulou "Os devoristas"?


3 comentários:

portolaw disse...

pois, jose, os principios que o regem sao os meus, e tudo isto se resume a pouco: humildado, bom-senso, respeito pelo proximo. O problema e que ja nao temos pais para - tentar - por uma sociedade baseada nestes principios em pratica. Alias, actualmente nao sei onde tal acontecera. E dai o seu refugio ser o meu, nao va o cepticismo corroer-nos..."ridendo castigat mores"

Ana disse...

Que excelente texto!
Leio-o exactamente no dia em que um partido português(?) se reúne em congresso no Campo Pequeno.
Tinha acabado de pensar, observando as imagens na televisão, o extraordinário que é ver tanta gente adorando uma bandeira e um ideário e demonstrando, afinal, um fanatismo que diabolizam nos crentes de qualquer culto religioso.

Cada qual tem os seus credos.
Os meus estão em quase total concordância com os que leio aqui.

Sinto-me livre, entretanto, para admirar escritores, poetas, pintores, músicos ou outros artistas que perfilhem ideias diferentes das minhas e neles incluo os que adoram a referida bandeira.
Sabendo, embora, que o inverso é coisa impossível de se lhes pedir.
Pergunto-me, por isso, se aquilo não será uma espécie de escravidão
consentida.

alexandre o médio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

A obscenidade do jornalismo televisivo