domingo, novembro 23, 2008

O processo sumaríssimo do cavaquismo



















Imagens da revista do Expresso de 9.6.2007 e 24 Horas de 5.2.2007

Em Junho de 1986, Dias Loureiro, era um aparatchick do PSD. No caso, era Secretário-geral do partido. E nessa altura, nem havia oposição interna.
Em Julho de 1987, o PSD ganhou as eleições, com uma "vitória pela segurança", por maioria absoluta. O PS de Vítor Constâncio, teve pouco mais de 22%. Em Outubro, depois de Cavaco ,mencionar que na Bolsa se andava a vender gato por lebre, esta afundou. Quem ganhou dinheiro, na bolsa, perdeu-o nessa altura.
No ano seguinte, começaram as privatizações, incluindo a dos bancos, sob a batuta to PSD de Cavaco. Vítor Constâncio saiu da direcção do PS, com o pretexto de intromissão de Mário Soares. Freitas do Amaral quis accionar o PSD por causa das dívidas da campanha eleitoral. Vital Moreira e Zita Seabra sairam do PCP. As rádios locais, ganharam carta de alforria, com destaque para a TSF, da Cooperativa que dura até hoje.
Em 1989 e 1990 e 1991, com o Independente, começaram os casos sérios com o PSD e os seus governantes e também os do PS ligados ao presidente Soares ( Beleza, Saúde e Melancia).

Os casos do Fundo Social Europeu, viriam a seguir, em meados dos noventa, embora já em 1986, o jornal Semanário não tinha qualquer dúvida sobre as fraudes que já tinham começado.















Imagens do jornal Semanário de 7.6.1986 ( clicar na imagem para aumentar)

Logo em 1990, Oliveira Costa, Secretário de Estado dos assuntos fiscais de Cavaco e que introduziu as várias reformas fiscais em Portugal ( com destaque para o IRS e IVA), esteve sob a mira de um Inquérito parlamentar, sobre os célebres perdões fiscais ( o caso curioso da Cerâmica Campos de Aveiro e Alvarães, é um deles), mas os perdões foram de rebimba o malho ,no erário público.
Aparentemente, ninguém ligou muito, e há testemunhos que garantem ter sido Cavaco Silva, nessa altura, demasiado leniente para com esses desmandos e principalmente com os critérios de atribuição dos fundos e política de investimentos.

Há quem garanta ainda que o modelo de desenvolvimento então gizado e adoptado, está na raiz dos nossos problemas endémicos, que nos colocam sistematicamente na cauda da Europa, embora por breves anos tivéssemos a ideia propagandeada que afinal éramos um exemplo para o mundo moderno. Um oásis e um elemento do "pelotão da frente".

Em 1994, o desgaste do autoritarismo ( a "ditadura da maioria", denunciada por Soares), levou a um buzinão monumental, na ponte sobre o Tejo.
Dias Loureiro era o ministro das polícias, depois de ter passado por outras pastas de governo. Daniel Sanches, era o director do SIS.
Em 1995, Duarte Lima foi ouvido na PJ, sobre casos que envolviam o seu património, incluindo uma quinta perto de Soares e que este achou bizarra. Abílio Curto, foi detido por corrupção ( anos depois foi condenado em prisão efectiva, numa raridade quase única neste tipo de casos. Quando entrou na cadeia, declarou solenemente: "o dinheiro foi todo para o PS". Vital Moreira garantiu logo que não).
Em 1996, Sampaio, ganhou as eleições.
Nesses anos todos, um escândalo de proporções semelhantes ao do actual BPN, ocorria nos Açores, o da Caixa Económica Faialense. Emanuel de Sousa, primo de Natália Correia, era o centro das atenções e o processo acabou em nada, depois da falência escandalosa e de o BdP ter enterrado dezenas de milhões de contos.

Depois deste panorama escandaloso, com a entrada de mais dinheiro da CEE e depois UE, com os quadros comunitários de apoio, para estradas pontes, estádios e obras faraónicas ( a primeira foi logo o CCB), apareceu a banca privada e os negócios.

O BPN apareceu em 1993, integrando a Soserfin e a Norcrédito. Américo Amorim foi dos primeiros fundadores. Um escândalo fiscal, criminal, envolvendo o empresário ainda anda por aí.
Em 1998, a Sociedade Lusa de Negócios apareceu, sob a batuta de Oliveira e Costa. O BPN ficou-lhe associado desde então.
Em 2002, o BPN adquiriu o banco Efisa e Dias Loureiro era figura destacada. Tal como Augusto Mateus e Oliveira Martins, do PS. Nessa mesma altura, O BPN adquiriu também o Banco Insular de Cabo verde.

O resto, do que viria a seguir, são problemas a que Dias Loureiro, não pode fugir. E na Assembleia da República, alguém lhos há-de lembrar, para bem de todos, se assim for. E o pormenor da conversa de 19 de Abril de 2001, ás 4 horas da tarde, é mesmo isso: um mero pormenor.
Dias Loureiro, provavelmente, não virá a ser responsabilizado criminalmente. Dificilmente alguém, aí chegaria, porque a lei penal que temos não comporta o aproveitamento de lugares privados, de quem sai de lugares públicos, por mero efeito de... oportunidade política.



















Imagens do Expresso de 27.11.2004 e Sábado de 14.5.2004

O cavaquismo, o soarismo, o guterrismo, o blococentralismo está tão cheio destes fenómenos espantosos que seria altamente improvável, agora, um sobressalto ético para lhes pôr cobro. O melhor exemplo recente, é o de Jorge Coelho, um "irmão", para Dias Loureiro.
As componentes deste bloco, centralizado em interesses privadíssimos, organizou entretanto uma Cooperativa que funciona quase como a antiga União Nacional, em coesão e eficácia, em vários níveis, com um destaque elevado no jornalístico e de direcção de informação.
Em finais dos anos 80, ainda se falava numa mítica "Direita" que afinal nunca existiu: os seus elementos, de resto, integraram-se nos lugares devidos e em devido tempo.

Imagem da revista do Expresso de 29.4.1989

Dias Loureiro é o símbolo disso tudo. E vai pagar um preço por estas razões elencadas que aqui ficam e assim se ilustram, com um ênfase especial no artigo sobre a lei de Gresham. Chegou a altura de uma análise retrospectiva dos anos de ouro do cavaquismo e do mal que nos trouxe, disseminado e daninho.

A pior desgraça que nos foi acontecendo, nestes últimos vinte anos, tem um nome: incompetência. Ou incapacidade que vai dar ao mesmo.