Paulo Morais, um activista do combate à corrupção, em vias de profissionalização, acha agora que "a corrupção não é um problema da democracia" mas que vinha da ditadura, considerando que o regime "falhou completamente" a combatê-la e organizou-se para a fomentar."
E mais: "A corrupção não é um problema da democracia, é um problema que já vinha do tempo da ditadura. Quando se dá o 25 de Abril, no manifesto do programa do Movimento das Forças Armadas, na primeira página, um dos combates que é lá preconizado é o combate à corrupção", recorda."
Ora bem. Vamos ser directos e consequentes: Paulo Morais não sabe do que fala, quando fala assim. Ponto.
Ao discursar deste modo, perante um Marinho e Pinto ( olha logo quem!), precisava de apresentar factos e nomes, como faz relativamente aos pretensos protagonistas da corrupção em Portugal, actualmente, sendo certo que Paulo Morais confunde desvios morais ( ou éticos) com crimes de corrupção. E não sabe distinguir, aparentemente.
Portanto, ao dizer publicamente que a corrupção é problema que já vem do tempo da ditadura não se percebe o que quer dizer. Porém, ao falar assim, vai ganhar respeitabilidade acrescida porque é assim o discurso corrente do politicamente correcto ambiente.
Por mim, conheço muito poucos casos de corrupção clara e flagrante vindos desses tempos. Um deles, muito falado, tem a ver com um certo major que vendia batatas ao Regimento, ficando com os trocos.
Porém, sobre contratos de armamento, por exemplo e num tempo de guerra no Ultramar, nada se fala...ou se falou. E hoje? Que dizer do caso dos submarinos ou dos casos avulsos do SIRESP, etc etc?
Sobre negociatas entre empresas de obras públicas e o Estado haveria muitos jorges coelhos a falar fassista? E sobre as firmas de advogados da consultadoria permanente em parecerística, havia sequer disso?
E na Assembleia Nacional quantos deputados havia com interesses particulares em firmas privadas?
E sobre os governantes, haverá algum que tenha sequer tido suspeitas de casos tipo Face Oculta ou fax de Macau?
Estamos a brincar, quando tentamos sequer o paralelismo...
Se Paulo Morais quer falar dos corruptos morais que então existiam, em paralelo com os de hoje, vai ter muita dificuldade em encontrar exemplos concretos, porque um deles, apontado como tal, era o Almirante Henrique Tenreiro. Apesar do perfil que lhe é traçado pelos falsificadores ideológicos da História, há factos contra os quais não há argumentos: morreu pobre, destituído de honrarias militares e tudo.
É certo que há muito poucas pessoas a contarem a História, porque esta foi capturada pelos Rosas e Flunsers que adquiram o monopólio narrativo. Mas ainda vai havendo quem se lembra e saiba contar...e Paulo Morais devia ler, em vez de fazer estas tristes figuras desnecessárias.
Será que se pode dizer o mesmo de certos figurões, tidos como patronos da actual democracia? Onde foram buscar o que têm?