Ontem o Público dava três páginas de propaganda política grátis ao Bloco de Esquerda. Sob o pretexto dos seis meses de "liderança conjunta" a jornalista Leonete Botelho mai-la jornalista Rita Brandão Guerra foram ouvir Catarina Martins e João Semedo para este dizerem de suas graças.
O discurso do Bloco de Esquerda lembra actualmente o discurso da esquerda radical no período imediatamente a seguir ao 25 de Abril de 1974, embora sem o radicalismo verbal da época. A essência, porém, é a mesmíssima de sempre destes trotskistas aggiornatos que nunca tiveram a ventura de governar fosse o que fosse, politicamente relevante, em qualquer país do mundo. Nem em Chipre e sabemos o que por lá sucedeu. Mas não desarmam, evidentemente, porque apanharam a chama acesa do marxismo-trotstkismo e estão apostados em levá-la a um pódio imaginário de ideias perdidas nas brumas do Prec.
A entrevista conjunta diz nada de especial ou relevante, a não ser que este governo não presta, a troika "que se lixe" e que o PS é um partido aproveitável à esquerda se a esquerda se deslocar para um centralidade imaginária que se torne alternativa. "O BE bate-se para que esse centro se desloque para a esquerda do PS", é o discurso político actual e táctico do BE.
E, porém, o que é a esquerda que o BE representa, verdadeiramente? As duas jornalistas do frete político não lhe perguntam nada sobre tal ponto essencial. Não perguntam e ficamos sem saber se não acham relevante ou apenas se consideram que basta que o BE mencione uma vaga ideia de "esquerda" para automaticamente se tornar consensual o entendimento a par do que pode significar igualmente tal ideia de esquerda para um PS imaginário e recentrado nessa margem.
Há muito tempo que o Público navega nessa água choca sem que se separem verdadeiramente as águas essenciais. O patrão Belmiro, capitalista e burguês, já avisou paternalisticamente, que não tolera muito mais tempo de prejuízos de um ou dois milhões ao ano e por isso o jornal é bem o paradigma dessa esquerda mítica que vive de ilusões com base em princípios que não ousam invocar ou mesmo evocar publicamente. Não ousam porque temem o efeito.
O Bloco de Esquerda, tal como o PCP, é uma esquerda comunista, em Portugal. É essa a verdade que importa discutir publicamente e saber se o comunismo, tal como o defendem- um na vertente trotskista e outro na vertente hard-core, neo-estalinista e saudosista de Cunhal- é viável, já não digo em Portugal mas em qualquer país da Europa ocidental, para não dizer do mundo. Há décadas que vivem nessa contradição escondida e oculta e fazem tudo para mistificar a realidade política em que vivem a fim de obter votos que lhes permitam minar por dentro " a burguesia". Estas ideias nem sequer são tão escondidas como isso porque basta ler o que publicam internamente ou para consumo militante ( O Militante, por exemplo) para se entender que o PCP ou o BE nada mudou nas últimas décadas, relativamente a essas ideias peregrinas que ninguém nos media de maior audiêndia parece interessado em expôr e denunciar como mentiras encapotadas para enganar os eleitores. Ninguém parece interessado e, pior que isso, tomam como absolutamente normais em termos democráticos tais partidos que não são democráticos como conhecemos a democracia porque têm um conceito da mesma completamente diverso. Vivem bem essa contradição porque actuam por fases. Esta fase actual corresponde sem tirar nem pôr, à fase do pós-25 de Abril de 1974, em que o capitalismo e a burguesia ainda mandavam no país ( os chamados "Donos de Portugal", como Loução lhes chamou em livro) e portanto o discurso de um João Martins Pereira, já aqui publicado e abaixo repetido, ainda se apresentava em pézinhos de lã politicamente delicada. Porém, logo a seguir ao 11 de Março de 1975 basta ler o que escreveram e disseram os mesmos para se entender o que pretendem, ainda hoje. Este blogue têm vários documentos de época em que tal é manifesto.
Assim, agora, como nesta entrevista, o discurso é táctico, encoberto, com os objectivos traçados no curto prazo ( abaixo a troika, não pagar a dívida, demissão do governo de "direita", eleições para captarem votos em conjunto com outra esquerda conveniente, no caso o PS férrico ou assim tipo Pedroso e ficam por aqui. Para já. Depois disso virá o tempo em que "as revoluções comem os seus filhos" e já está. O processo de aceleração virá depois. Por enquanto o compasso é de espera e mistificação com estes idiotas úteis dos media que lhes servem às mil maravilhas...
Mas houve já ocasiões em que esse discurso de separação de águas foi bem enunciado e vale a pena recordar, porque o líder na sombra, Louçã, continua presente. "Ele é o mesmo de sempre", dizem os entrevistados. Olá se é! E como é?
Assim, sem tirar nem pôr ( a não ser para as leonetes e ritas que preferem não saber muito bem como é que estas coisas depois funcionam na prática. Não viveram o PREC e a ideia de "esquerda" serve-lhes para o imaginário político, o BE e o seu guru Louçã já se confessaram claramente a quem quis ler e agora prefere não lembrar. Em Agosto de 2009 à revista Sábado, esta entrevista muito reveladora dava conta dos segredos escondidos do comunismo caseiro à moda trotskista:
Para que não restem dúvidas e as leonetes e ritas ( e as lourenços da sicn, etc etc) tenham maior pejo ou vergonha em não mistificar ainda mais o que é preciso desmistificar de vez, já em tempos escrevi aqui o seguinte, em Agosto de 2009:
Diz assim Louçã, sobre a essência ideológica do BE, depois da pergunta "Em que é que o BE acredita?":
"Numa
esquerda socialista. (...) Para nós o socialismo é a rejeição de um
modelo assente na desigualdade social e na exploração, e é ao mesmo
tempo uma rejeição do que foi o modelo da União Soviética ou é o modelo
da China. Não podemos aceitar que um projecto socialista seja menos
democrático que a "democracia burguesa" ou rejeite o sistema
pluripartidário. Não pode haver socialismo com um partido político
único, não pode haver socialismo com uma polícia política, não pode
haver socialismo com censura. O que se passa na China, desse ponto de
vista, é assustador para a esquerda. (...) Agora, a "esquerda
socialista" refere-se mais à história da confrontação, ou de alternativa
ao capitalismo existente. Por isso o socialismo é, para nós, uma
contra-afirmação de um projecto distinto. Mas, nesse sentido, só pode
ser uma estrutura democrática."
O que dizia Louçã em 2005 a este propósito? Isto:
"O
BE é um movimento socialista ( diferenciado da noção social-democrata, entenda-se-nota minha) e desse ponto de vista pretende uma revolução
profunda na sociedade portuguesa. O socialismo é uma crítica profunda
que pretende substituir o capitalismo por uma forma de democracia
social. A diferença é que o socialismo foi visto, por causa da
experiência soviética, como a estatização de todas as relações sociais. E
isso é inaceitável. Uma é que os meios de produção fundamentais e de
regulação da vida económica sejam democratizados ( atenção que o termo
não tem equivalente semântico no ocidente e significa
colectivização-nota minha) em igualdade de oportunidade pelas pessoas.
Outra é que a arte, a cultura e as escolhas de vida possam ser impostas
por um Estado ( é esta a denúncia mais grave contra as posições
ideológicas do PCP). (...) É preciso partir muita pedra e em Portugal é
difícil. Custa mas temos de o fazer com convicção."
Quem
comparar os discursos percebe imediatamente a aldrabice inerente: a um
discurso radical de alteração das estruturas sociais vigentes e a
substituição de um modelo de produção que implica uma autêntica
revolução e um PREC, Louçã apresenta hoje um discurso edulcorado e
mistificador cuja essência se entende melhor quando Rogeiro lhe pergunta
o que é o "modelo económico" do BE. Repare-se na (não) resposta:
"Queremos fazer grandes correcções ( já não quer a tal revolução profunda?), que contribuam para a justiça na economia ( afinal já desistiu de substituir o capitalismo por "uma forma de democracia social"?). E é tudo o que diz sobre o tal modelo alternativo. Sem que Rogeiro adiante nada mais...
Ora
isto é um grande embuste de Francisco Louçã. Tal como Jerónimo de
Sousa, o verdadeiro esquerdista português, dizia em Janeiro de 2008: o
Bloco de Esquerda "é um partido social-democratizante disfarçado por um radicalismo verbal esquerdizante, caindo muitas vezes no anti-comunismo".
O
discurso de Louçã, hoje em dia, leva à letra uma táctica trotskista
conhecida de gingeira: a integração de outras realidades práticas e
contextuais, no interior de uma força política atenta ao fenómeno e com
habilidade política suficiente para passar por muito natural e
integrado, o que representa uma revolução social com custos
incalculáveis. Nada de grandes proclamações revolucionárias. Isso fica
para depois, quando os tansos votarem e se aperceberem, tarde demais,
do logro em que caíram. E não haja dúvidas que é nisso que Louçã aposta
forte: "Não teremos [votos para ganhar]nestas eleições, mas chegará o
dia em que havemos de os obter". É assim, a falta completa de vergonha
no embuste. E não se vê muita gente a denunciar este aldrabão político.
Apenas Vasco Pulido Valente e mais um ou outro.
Mas...atenção! Este gajo é perigoso. Muito perigoso, para a democracia. Porque utiliza o discurso aparentemente democrático para convencer papalvos. E papalvos não faltam.
Mas...atenção! Este gajo é perigoso. Muito perigoso, para a democracia. Porque utiliza o discurso aparentemente democrático para convencer papalvos. E papalvos não faltam.
O
discurso de Louçã, hoje, não se distingue uma vírgula que seja do
discurso social-democrata deste PS adepto, também ele, de um "socialismo
democrático".
Então
o que distingue essencialmente o discurso político BE ,do do PS? Para
mim, uma simples realidade: o grau de aldrabice política, no BE, é muito
superior ao do PS. Com a subtileza de que o discurso do BE é
completamente falso. O do PS apenas mistificador de uma realidade que
nunca praticaram: o socialismo.
De resto para se enquadrar todo este modo de pensar ideológico é necessário retomar o discurso de um João Martins Pereira, recentemente publicado aqui e enunciado logo a seguir ao 25 de Abril de 1974. Claro que as circunstâncias eram outras, politica e economicamente. Porém, os princípios são exactamente os mesmos, enunciados em modo semelhante e que agora passam como se fossem da nossa plena democracia burguesa.
Não haverá ninguém que lhes esfregue com isto na cara mentirosa, a esta gente da esquerda nacional-comunista? Não basta o que fizeram em Março de 1975? Querem repetir a dose, agora em modo de farsa? E com uma agravante de tomo: estes idiotas úteis que aparecem nos media a promover esta ideologia não sabem o que estão a fazer? Acham que isto é normal? Vêem disso em algum outro país europeu?
Se julgam que vêem, então leiam o Le Nouvel Observateur, a Marianne, já para não falar das revistas mais à direita.
Acham que na Inglaterra o Economist ou o Guardian dão guarida a este tipo de gente, como aqui, em Portugal? E na Alemanha, a Der Spiegel?
Porquê, esta miséria repetida, década após década em Portugal, de conceder a esta esquerda fóssil todas as honras da casa mediática se os mesmos só aparecem para nos roubarem o que há no frigorífico?
Est modus in rebus, como se costuma dizer. A democracia implica o respeito pelas ideias opostas, contrárias e até ideologicamente perversas. Em Portugal, a democracia abrange apenas a ideologia esquerdista com extensão a umas franjas de uma certa direita que nem sequer se assume como tal porque dificilmente o poderia fazer. E o resto do espectro político?
É isto a democracia que temos, com a agravante de essa esquerda radical tomar literalmente conta do espaço mediático actual com a complacência dos diversos directores de informação? Essa gente é ignorante, idiota ou o que é exactamente?
Os patrões mediáticos, Balsemão e Belmiro não sabem que é assim? Claro que sabem porque o que dizem quando dizem é exactamente isto porque são capitalistas e burgueses que vivem de explorar o trabalho alheio, na retórica marxista. Acham porventura que esta gente os pouparia num futuro próximo se tomassem o poder político? Se acham, o melhor é estarem atentos ao discurso do bolchevista Arménio, esse tresloucado do neo-prec nacional.
Como é que esses capitalistas toleram as leonetes e lourenços que acaparam esta gente sem qualquer pudor ideológico, não se sabendo se por ignorância ou pura parvoíce? É por isto ser democracia? Mas isto é alguma democracia, conceder tempo de antena quase exclusivo a quem nos quer desgraçar uma vez mais? Se assim o entendem porque não concedem o mesmo tempo de antena ao lado oposto? Acham que os media franceses concedem o mesmo tempo de antena a Marine Le Pen e a Mélenchon? Pois aqui deviam fazê-lo porque democracia, nesse conceito idiossincrático, será isso.