quinta-feira, maio 30, 2013

A Visão reincide na falsificação da História

A revista Visão, herdeira da aventura jornalística de O Jornal, saído em Maio de 1975 publica de vez em quando uns suplementos sobre História.
Hoje, o assunto é "1973/1974- os últimos meses do Estado Novo" e como habitualmente o que se lê é o habitual chorrilho de versões históricas da nossa Esquerda enraizada nos media. Não há um único artigo que se possa ler e alguém que viveu o tempo possa dizer: "foi assim". Nem um! A perspectiva histórica desta gente está seriamente amputada por preconceitos ideológicos já tão marcados que a simples lavagem cerebral não explica tudo. É demais e sempre foi assim. Em primeiro lugar a referência ao Estado Novo, quando em 1973 se falava já noutra coisa e o regime tinha efectivamente mudado, desde 1968. Enfim.

O artigo de Daniel Ricardo, um veterano destas andanças, então, é mesmo exemplar do facciosismo ideológico e desprovido do mais singelo recuo temporal para poder escrever sobre o que foi o tempo de 1973, ano do nascimento do Expresso.
Todo o artigo foca a Censura/ Exame Prévio, como entidade capadora da Liberdade de imprensa que agora parecem gozar. Agora, pelo menos, não há entidade externa que censura porque lhes basta a censura interior e interna. Assim, com factos e verdades, mentem e enganam que lê. Escreve Daniel Ricardo, citando um livro de outro prócere ideológico, José Pedro Castanheira, que "nos 68 números do Expresso saídos até ao 25 de Abril houve 1856 artigos censurados, com 4 447 cortes, 469 integrais."
Gostaria de saber, só em relação ao último ano, de 2012, quantos artigos terão sido censurados, perdão, omitidos, perdão redigidos no politicamente correcto, perdão, evitados interior e internamente.



Mas enfim, que havia Censura é um facto. Mas não o é entender como certo e indiscutível  que "Era proibido noticiar casos de vadiagem, libertinagem, uso de estupefacientes, suicídio e crimes violentos", por muito que seja citada a legislação da época ( 1972) emitida das autoridades ( Secretaria de Estado da Informação e Turismo, de César Moreira Baptista).

A prova? Está aqui e vai já a seguir:

O Diário Popular de 6 Novembro de 1970 relatava um crime violento. Bem violento. Sem censura e muito melhor relatado do que o jornalismo actual sabe fazer.

 A Capital de 29 de Maio de 1972 ainda é mais explícita no desmentido do escrito de Ricardo. A notícia vem acompanhada de foto que segundo Ricardo nunca poderia ter sido publicada.

Em 17 de Fevereiro de 1972 no Diário Popular aparecia outro tema proibido, para Daniel Ricardo: a droga. É ler o desmentido.
Em 5 de Setembro de 1972 A Capital publicava esta notícia que não poderia ser publicada, depois daquelas instruções de Moreira Baptista...


Em 7 de Maio de 1973 na A Capital nova notícia sobre "drogas"...


No Diário Popular de 30 10 1973 há a notícia de um...infanticídio. É verdade que não é de um aborto, mas foi o que se pôde arranjar. E tal notícia seria de publicação impossível para quem ler o que Daniel Ricardo escreveu.


E esta notícia então é que seria mesmo impossível de passar no crivo da Censura. Fala numa "Frente de Libertação Nacional" e num possível atentado terrorista. Vem no Diário de Lisboa de 2 de Novembro de 1973, com foto e tudo da fábrica chamuscada. Ai, Daniel Ricardo...
De resto sobre acontecimentos de natureza política, o tempo era um horror "fassista". Não havia liberdade nenhuma e as eleições de finais de 73 foram uma farsa, como é discurso corrente.

Não obstante, a Capital de 14 de Outubro de 1973 dava várias páginas em suplemento ao assunto. Aqui ficam duas em que a palavra Oposição e a palavra CDE não foram censuradas...



E se julgam que eram apenas estes jornais, desafectos do regime ou do governo que tratavam estes assuntos, assim em liberdade informativa a contrariar as instruções de Moreira Baptista que Daniel Ricardo aproveita para levar água a um moinho ideológico que já cansa de tanta manipulação e falsificação histórica, havia também outro bem afecto ao regime.

O Século de 1 de Janeiro de 1974 publicava uma notícia que Daniel Ricardo não entenderá como foi possível...



De onde vieram estes exemplos, há mais. Por favor, antes de escreverem sobre a nossa História, informem-se. Consultem documentos. E não mintam às pessoas porque já cansa tanta falsificação em nome não se sabe bem de quê. Da Verdade não é certamente.

10 comentários:

zazie disse...

Maravilha: em minutos cala-os logo.

Vivendi disse...

Pois. A verdade é como o azeite e vem sempre ao de cima.

JC disse...

Muito bem.

Não sabe este palhaço que é apresentado como historiador (só se for de histórias da carochinha) que há quem tenha guardado jornais da época?
Era esfregá-los com eles no focinho do estafermo.

Ainda estou à espera que um dia, numa qualquer televisão, um destes embusteiros seja confrontado, em directo, com as mentiras que nos tentam impingir.

Ali mesmo, desmascarados, com as provas à frente.

Iria ser delicioso.

Floribundus disse...

para eles a verdade é a força.
se a tivessem já nos tinha abatido a tiro.

sobre o largo dos ratos não me lembrei em comentário anterior:
em Maio de 74 na qualidade de militante 29 do PPD assisti às sessões de organização do partido no edifício entre a capela e a D.João V (R/c).

futuro GM do Gol distribuiu inúmeros Irmãos por vários partidos
na impossibilidade de formar o PSDI.

hajapachorra disse...

Estou fascinado com a colecção de dilemas, ser ou não ser deputado. De que se trata exactamente, José?

hajapachorra disse...

Está na folha de 7 de maio da Capital. Por que razão Sá Carneiro aparece desencaixado? E a encaixar seria entre aqueles quatro?

josé disse...

Sá Carneiro integrou a Ala Liberal mas queria mais do regime. A questão é essa.

O Diário Popular andava a publicar em 1971 vários artigos de Sá Carneiro sobre a revisão da Constituição de 1933 que nunca tinha sido revista senão em modo "ordinário" e pontual.

Tenho alguns desses escritos ( dois ou três).

Mas agora vou publicar outra sobre o Mário Soares. Deliciosa...

hajapachorra disse...

Não percebo é por que diabo ele está desencaixado e o Magalhães Mota agarradito a Casal Ribeiro e Aguiar e Silva...

lusitânea disse...

Os nossos Goebles internacionalistas do Homem Novo e mulato têm cá uma "superioridade moral" do caraças...

hajapachorra disse...

Afinal parece que vão ser incomodados:
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=25&did=109450

O Público activista e relapso