sábado, maio 25, 2013

O analista elitista que não tira conclusões

Francisco José Viegas, um perdulário do senso comum, anda a esportular ideias avulsas. Uma delas é esta:

Se alguma coisa falhou não foi o país, foram as elites, afirma o ex-secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas.
O escritor, que falava este sábado no LeV - Festival Literatura em Viagem, em Matosinhos, considera que nos últimos 40 anos tem faltado empenho às elites.
“Os ricos portugueses andam especialmente tolos e eles são especialmente responsáveis por esta situação, porque podiam fazer e não fizeram. Se alguma coisa falhou nos últimos 40 anos foram estas elites, não fomos nós todos. Quando nós estamos a deslocar a culpa para nós que votámos ou que governámos, não. Quando me diziam: ‘ agora que já estás fora do poder, eu começava a rir. Poder? Qual poder?”, disse Francisco José Viegas.


Este pândego, Viegas, acha que o problema nacional tem a ver com as elites. Elites? Que elites, caro Viegas que nem conheço?

Nos últimos 40 anos essas elites forçosamente teriam que se mostrar nos nossos media. E afinal o que podemos ver, como "elite" , nos media dos últimos 40 anos?

Pessoal político de elite?  Sempre os mesmos: Cavaco, Soares, um PCP fossilizado, uma esquerda florida em bloco, fossilizada numa ideologia impossível, um AlegreFerroPedroso, uma direita inexistente fagocitada por uma esquerda utópica e sem remissão. É isto a elite política?

E a cultural? Deixe-me rir, caro Viegas que nem conheço. V. conhece alguma elite cultural, em Portugal?

O Esteves Cardoso? O Eduardo Lourenço? O Sousa Tavares "escritor"? O Lobo Antunes ressabiado? A Joana Vasconcelos dos sapatos de brilhantes? A Paula Rego que pinta lá fora? O Siza Vieira da pala? O cinema que só existe em segredo e para alguns?  Os jornais do jornalismo tipo " para quem é bacalhau basta"?  As televisões tipo anas lourenços dos balsemões vendidos ao poder qualquer que seja?
E a elite económica? Riso reforçado, caro Viegas que nem conheço. O Salgado da banca que assaltou a concorrência em tandem com uns governantes?  Os donos da distribuição de mercearias, como dizia o Valentim Loureiro ( outro da elite) erigidos nos grandes capitalistas nacionais para os fósseis bolchevistas tipo Arménio de voz de cana rachada? A Avoila? O Jerónimo?
O Jorge Coelho, o tal do "hádem" cooptado pelos patos bravos da construção civil das obras públicas? O Mota da Mota&Companhia? O Sérvulo, finório da advocacia de negócios, rei em terra de ceguetas, mas acompanhado por um séquito de galvõestelles, arnauts, verasjardins, lamegos, e tutti quanti vieirasdealmeida e vitorininhos?
Um poder judicial de cândidos pintosmonteiros e cunhas rodrigues, superiormenre acolitados por noronhas?

São esses a elite, caro Viegas que nem conheço?

Se são- e não vejo outras- estamos tramados.  A pergunta que há a colocar, caro Viegas que nem conheço, é uma: quem escolheu estas elites para mandarem em Portugal? Foi a democracia? Parece que sim...
Tire portanto as suas conclusões.

21 comentários:

Mentat disse...

"...quem escolheu estas elites para mandarem em Portugal? Foi a democracia? Parece que sim...
Tire portanto as suas conclusões."

A conclusão é óbvia:
Não vivemos em democracia, vivemos em Demagogia.
Porque numa coisa ele tem razão, a culpa é das "elites" (onde ele se inclui), que nos,… ou antes, que se governaram nos últimos 40 anos.
E se alcançaram o Poder, é porque o modo de o conseguir está viciado desde o início.
E não é só na função pública ou política.
Até no mundo privado, com excepção de algumas empresas, onde o Fundador ainda está no Poder, o mérito raramente é premiado ou reconhecido.
O que funciona é exactamente a mesma coisa, parentesco, apadrinhamento, falta de escrúpulos, lisonja e outras formas mais escabrosas de alcançar o poder.
.

José** disse...

Uma noticia sem relação com o post de José mas de forma geral, com interesse para os leitores do blog.

http://www.lepoint.fr/societe/l-eveque-d-annecy-ecarte-un-pretre-franc-macon-24-05-2013-1672023_23.php

Sob pressão de Roma, o Bispo de Annecy descarta um Padre que pertença a Grande Oriente Francês.
Reparem que Annecy é a capital da região de Alta-Sabioa, uma região com um passado reformista e contra-reformista conflituoso.


Abç.

Rui disse...

para ver quem são as elites penso que basta olhar para os valores das reformas. as nossas elites sao:
1) politicos
2) militares
3) juizes
4)medicos
5) professores universitarios





josé disse...

Políticos:
e o mais simbólico é...Mário Soares.

Militares:
e o mais simbólico é...( deixo em branco)

Juízes:
e o mais simbólico é...Noronha Nascimento.

Médicos;
e o mais simbólico é Lobo Antunes.

Professores Universitários:
e o mais simbólico é...Freitas do Amaral

Mentat disse...

O Médico indicado é o único que se aproveita.
E se repararem bem, o seu convivio com os outros "elites" é raro ou inexistente.
.

Mentat disse...

Se estamos a falar do neurocirugião, é claro...
.

Rui disse...

eu concordo com o josé viegas. daí achar que em termos de repartição de custos/sacrificios se deve cortar significativamente nas reformas mais altas, pois direta ou indiretamente são os que têm maior responsabilidade na situação que vivemos atualmente.

naoseiquenome usar disse...

Sem ironia, mas bastante controverso: O melhor médico, quer dizer, que apresenta melhores resultados, neste momento em Portugal, atendendo ao modelo em que trabalha (Centro de responsabilidade) É Prof. Doutor Manuel J. Antunes http://www.uc.pt/cct/DezTitulo

Manuel de Castro disse...

O cerne da questão está no último parágrafo do post.

Foram os partidos políticos anti-patrióticos, que conluiados com a banca e o alto empresariado, colocaram Portugal no ponto em que hoje se encontra. A democracia foi apenas o veículo para tomarem o poder de assalto e meterem o país no bolso. Quem foi quem? Não seria difícil descortinar.

lusitânea disse...

A rapaziada das novas oportunidades que nos tem desgovernado a primeira coisa que fez foi extinguir das instituições tudo o que fosse "planeamento" porque eram forças de bloqueio.Agora vê-se de quê...
Como pequeno país, depois da entrega de tudo o que tinha preto e não era nosso, teria que ter sido em conta esse pequeno pormenor.Mas não.O Estado foi sendo alargado para albergar e dar empregos ao nível dos restantes grandes países.E entregando também a indústria e as pescas e fazendo campanha para abandono da agricultura para termos os índices "europeus".
Agora que temos a praça do império cheia de africanos, arregimentados pela RTPÁfrica, que nos vieram enriquecer numa de dar a outra face quem se vai lixar é o zé povinho conduzido pelos bem pensantes marxistas e internacionalistas de "o mundo agora é um só" e todos temos direitos...o que não vai acabar bem...

lusitânea disse...

Quando as nossas elites derivam dos radicais do "nem mais um soldado para as colónias", dos maçons, de judeus o zé povinho só pode encomendar a alma ao Criador...

Floribundus disse...

por muito que nos custe
ninguém aqui está à altura
de discutir a posição do 'sublimado' viegas em assunto tão transcendente

o meu filho atribui a culpa a D. Afonso I
pela minha parte foi Caim
por não ser 'cereal quiler'

Kaiser Soze disse...

Como acontece com alguma frequência, concordo com o FJV. Na verdade, fiquei espantado dele ter ido para o Governo e, depois, de lá se ter demorado tanto tempo.

Como o José, não gosto de utilizar a palavra "elites" para descrever esta gente porque nada têm de elites (a não ser que entendamos o termo num sentido blazé da coisa) e fico a meio da ponte quando a culpa de eles estarem onde estão ser atribuída a quem os elege.

Formalmente, somos todos responsáveis por quem governa estar a governar mas não é menos verdade que somos confrontados com as escolhas de um determinado número de pessoas.
Podemos pensar que a escolha está limitada ou que nem sequer há escolha.

Há uma curiosidade que me assola há muito tempo: O que aconteceria se os votos em branco fossem na ordem dos 90%, por exemplo?

josé disse...

Kaiser:

Por mim coloco outra hipótese académica: imaginemos que o regime que temos era o de Marcello Caetano. Imaginemos só...

O que aconteceria nestes últimos trinta e nove anos.
Imaginemos que a esquerda comunista não tinha a preponderância que tem. Não tinha conseguido inverter o sentido de alguns valores, como os referentes à igualdade interpretada como essa Esquerda interpreta.
Imaginemos que o capitalismo português não tinha sido decapitado e os bancos portugueses teriam continuado a trabalhar como dantes trabalhavam.

Numa espécie de prognose póstuma, o que poderíamos ter neste momento em Portugal?

Evidentemente que ninguém poderá dizer ao certo porque as circunstâncias poderiam ser outras completamente diversas e com variáveis completamente baralhadas.

Uma coisa, porém,é certa: a Esquerda nunca teria a preponderância que tem relativamente aos valores.

O Ensino das luminárias do ISCTE não tinha a importância que tem. O ensino oficial seria outra coisa porque o ensino técnico teria o mesmo valor que tem na Alemanha, por exemplo e as empresas teriam aproveitado directamente disso.

O Estado teria o mesmo peso que tem na Alemanha.

As elites seriam assim, outras. Teríamos porventura grupos económicos fortes com implantação lá fora, por exemplo nas ex-províncias ultramarinas, em vez dos americanos, holandeses ou outros.

Teríamos os quadros técnicos como a França tem com uma formação académica digna de uma ENA. Teríamos uma sociedade civil com outro peso e no Norte teríamos a concentração da riqueza nacional, desenvolvida ao longo das últimas décadas.

O Porto seria mais desenvolvido e cidades como Guimarães e Braga igualmente.

Kaiser Soze disse...

O meu problema com este tipo de prognose póstuma é que é mais fantasiosa do que objectiva...falamos do que poderia ter acontecido e não no que aconteceu.

É um tipo de argumento ao estilo "amanhãs que cantam", um mundo idealizado que não tem, necessariamente, correspondência ao que teria acontecido.

É como um criculo que se fecha e faz tocar quem está mais à esquerda com quem está mais à esquerda.

Kaiser Soze disse...

PS. Vou dar na "Transição Impossível - a ruptura de Francisco Sá Carneiro com Marcello Caetano"

Leu este, José?

josé disse...

Tudo isso é verdade, mas há um mínimo de consenso possível, penso eu de que...

a minha proposta é esta: estaríamos melhor, económica, social e culturalmente. E porque digo isto? Pela simples razão de que "isto" bateu no fundo relativamente a valores. Hoje, quem manda, "rouba" descaradamente.

Contaram-me há bocadinho uma que é de bradar aos céus. E tudo legal...

Kaiser Soze disse...

Essa proposta parece-me inteiramente justa, concordando ou não com o resultado previsto, justa.

Também acho que os valores andam pela rua da amargura e correm o sério risco de se tornarem completamente demodé.
E isso é triste...

Vivendi disse...

José,

Para dar sustento às suas palavras não deixa de ser importante analisar as bases económicas que havia em 1974.

http://viriatosdaeconomia.blogspot.com/2013/04/os-amanhas-que-cantam.html

Em 1974 Portugal estava na 15º posição na lista de países mais prósperos do mundo. Hoje estamos em 43º com forte tendência para descer.

Unknown disse...

A Obra de Siza Vieira é muito mais que "o Siza Vieira da pala" ("pala" que nem sequer é "só" do Siza...).
Comparar a obra de Siza a "joanas" ("escritores" de apelido, etc.) é maldade (e/ou ignorância).

josé disse...

É ignorância sobre o nosso Pritzker. Mas uma ignorância esclarecida num simbolismo.

Quem não entendeu isso...paciência.

O Público activista e relapso