Um deles era a publicação de imagens de mulheres nuas. Por cá não havia. Não era permitido. A pornografia, então, nem pensar!-embora houvesse livrinhos rascamente ilustrados que se vendiam nas livrarias e quiosques, debaixo do balcão. Sei porque vi um deles que um amigo meu comprou na época e mostrou à turma, em 1972, por aí. Pornografia nórdica, rasca até dizer basta.
Portanto não havia cá Playboys, Penthouses e muito menos Hustlers. E nem sequer Lui, um magazine lustroso vindo de França e que os emigrantes traziam escondidos nas malas.
Então, à falta dessas cadelices, com que gatas caçavam os portugueses? Com imagens quase inocentes de uma nudez castigada em fatos de banho ainda "compostinhos" ou reportagens do estrangeiro.
Na Inglaterra, os jornais populares, tipo Sun, tomaram o gosto de apresentar as páginas três recheadas de curvas, para aplainar o voyeurismo bife.
Por cá, o melhor que se conseguia era isto:
Em 8 de Abril de 1967, o Século Ilustrado aproveitava a nova moda da "mini-saia" para apresentar quatro páginas de revista com boas pernas à mostra...
Em 22 de Fevereiro de 1969, a mesma revista dava ainda maior destaque a essa beleza particular.
Em 31 de Outubro de 1970, o Diário Popular mostrava a beleza mais sóbria mas nem por isso menos provocante de uma perfeição.
Em 1970, em Março já havia uma revista que pode ser assimilada de algum modo às revistas anglo-saxónicas com pretensões a servirem o universo masculino. A Mundo Moderno, quinzenal, de 1 de Março desse ano é exemplo disso e aproveitava o exemplo dos calendários ingleses" para fazer dupla página sugestiva.
Porém, o jornal que mais se aproximou da filosofia que as então feministas ( agora são todas do bloco...) apelidavam de "sexista", era A Capital, como mostra esta página capitosa da edição de 23 de Março de 1973.
Mais "sexista" que isto, havia? Havia, sim senhor. A revista de espectáculos, semanal, Rádio & Televisão, em 5 de Janeiro de 1974 já mostrava a dupla capa interior em poster para guardar e recordar. E havia outros pósteres ainda mais ousados...
Portanto, nessa época, havia outras publicações um pouco mais marginais e ditas "humorísticas" como as do Vilhena, completamente desavergonhadas e outras como "O Cara Alegre", e outras ainda mais avançadas nesse tipo de ilustração, nesse caso por um desenhador esquecido, Carlos Alberto.
Do tal Cara Alegre dos primeiros meses de 74 ( altura do festival RTP da canção) esta página onde se pode ver...nudez. Pela primeira vez.
Resta dizer, finalmente, que aqueles que julgam que o Portugal anterior ao 25 de Abril era um país sombrio e bisonho podem estar bem enganados. Em 1970, as raparigas que tínhamos, dispostas a concorrer a "miss contracapa" daquela revista "Mundo Moderno", tinham esta imagem fabulosa. Ahahahah!
ADITAMENTO:
A pedido de ninguém aqui ficam mais exemplares das nossas "misses" que concorriam a figurar na contra-capa da revista Mundo Moderno, em 1970:
Mundo Moderno de 15 de Maio de 1970
Mundo Moderno 1 de Junho 1970:
Mundo Moderno 15 de Agosto de 1970:
Mundo Moderno 1 de Setembro de 1970:
E a capa do Mundo Moderno de 1 de Junho de 1970:
Do mesmo número, estas duas páginas. A da esquerda sobre o grupo Chicago. Na da direita, este artigo que Daniel Ricardo não poderá compreender ou explicar como foi publicado...
27 comentários:
ahahahah A miss contracapa. Não me lembrava nada disso.
Mas estas são o máximo
":O))))))
nunca fui consumidor de imagens fixas ou em movimento de mulheres nuas. desde muito novo me habituei a ver as amigas todas 'pelachas' quando brincavam-mos aos casados.
mas tarde enfim ... não tive problemas de maior apesar de sempre ter tido horror à promiscuidade física.
a maior parte dos meus colegas e amigos de liceu e fac eram conquistadores. eu preferia ser 'adoptado'.
a indústria de tráfico de mulheres e das várias formas de prostituição tomou conta das revistas.
nunca compreendi porque razão não há pornografia destinadas ao sector feminino.
ando a escrever o ambiente Bíblico nas suas várias facetas da condição humana. procurei imagens na Net. fiquei estarrecido com a falta de dignidade humana como as prostitutas são exibidas nos vídeos. chocou-me o modo como algumas até parecem gostar.
como dizia Eclesiastes 'nada é novo debaixo do Sol'
A Crónica Feminina também tinha destas imagens, mas não guardo nenhuma...
A da esquerda parece de agora em versão bloquista-amaralista.
...vejo isto e lembro-me dos tempos em que o brazilian wax ainda não tinha chegado a Portugal e faço um esgar de dor.
Cada jornaleco de esquerda vende agora sempre com uma "gaja" nua e abundantes anúncios de serviços com "gajas nuas". A esquerda via estas manifestações como uma decadência burguesa: agora usam, abusam e promovem a decadência. Até as prostitutas são elevadas a categoria profissional.
Não é novidade para mim, sou de 62 e antes do virar da década era muito usual ver as garotas de mini-saia. Era puto, não tinha mais de 6 anos, juro, porque ainda não andava na escola, mas lembro-me de, apesar de ser já corriqueiro, ter visto a subir a rua uma moça com uma mini-saia mais reduzida eeu não parava nem de olhar para trás... bati contra um lampãião. Não é brincadeira nem peta, nunca mais esqueci porque dei forte com a cabeça.
Conclusão, nunca mais gostei... de lampiões. Juro.
Sim, nessa altura era habitual. Os costumes mudaram em muito pouco tempo.
Um pouco antes até nem se podia ir de calças para a escola.
Mas eu fiz o exame da 4ª classe em calções. Isso é que ninguém fazia.
Assim como sempre fiz ginástica em maillot, apesar de ser obrigatória aquela farda com as saias pregueadas por meio do joelho e culottes por baixo
Ahah! ó Zazie, V. não leve a mal, mas faz-me lembrar a Narciza do "Bravo"!
‹‹A filha de um cabaneiro, que se creava por sua casa, era o passa-tempo do cego. Chamava-se a Narciza do «Bravo»,—alcunha paterna. Até aos treze annos andava vestida de rapaz, e media-se com os mais gaiatos a trepar á grimpa de um pinheiro, no assalto nocturno ás cerejeiras, em duellos á pedrada, no jogo do pao e no murro. Era virilmente bella, e bem feita; mas os meneios adquiridos nos trajos de rapaz desengraçavam-na vestida de mulher. Ella mesmo olhava para si com zanga e puxava a repellões as saias esfrangalhando-se. Pinto Monteiro dava tento destes phrenesis, ria-se muito, e contava-lhe casos de mulheres portuguezas que batalharam incognitas, cobrindo os seios com arnez de ferro. Estava no plano do cego cazal-a. Narciza dizia-lhe que não pensasse em tal, porque a primeira pirraça que o marido lhe fizesse, favas contadas, esmurrava-lhe os focinhos. Este programma não assustou Pinto Monteiro, visto que os focinhos ameaçados eram os do marido.
(...)
Quando soube que as senhoras do Porto usavam collete e gravata á laia de homens, exultou, como quem vê triumphar a sua idéa, e quiz vestir calções e botas á Frederica.››
C.C.-Branco, Novellas do Minho
José
Parabéns pela sua biblioteca que deve ser enorme e terá que estar muito bem organizada por temas e anos. Deve ter dado muito trabalho faze-lo, mas merece sem dúvida um grande aplauso.
Obrigado por nos proporcionar assuntos bem perdidos na memória do tempo.
Bem haja
Aceite os meus melhores cumprimentos
ftavares
ahahahaha
A Narciza do Bravo.
Eu era mais a Zé dos 5.
Mas nessa altura, da 4ª classe nem foi influência da E. Blyton. Acho que tinha a mania que era escuteira e usava a bata como capa do zorro.
Mas é verdade que ia para as aulas em calções curtinhos (fiz mais de metade da vida de calções) e com a bata, também muitio curta, por cima.
Mas, no dia do exame, como era na secção masculina e a rapaziada ia para lá espreitar, deu-me mesmo para pôr a bata atada ao pescoço e fazer exame de calções.
O gozo particular era a altura dos bordados- eu a bordar de calções ":OP
E no Dona Leonor também só usava maillot na ginástica (porque andava no ginásio de Alvalade) e a prof deixava porque assim eu até me oferecia para demonstrar exercícios às mais palermitas.
E ganhei medalhas e tudo. Fazia chantagem se não me deixassem vestir como eu queria.
Andava à luta com os ciganos. Isso sim. Porque o recreio era novo e ainda de terra batida e nem havia grande divisão.
Ah, e devo ter sido das primeiras pessoas a usar mochila às costas.
Foi a minha tia "freulein" que mandou "do estrangeiro".
Pois é! A Zé dos Cinco...
Já me nem lembrava dessa. É verdade, também me parece mais Zé dos Cinco que Narciza do Bravo... Mas foi por causa dos calções que me lembrou essa personagem.
Creio que antes do 25 de Abril já havia filmes eróticos ou porno nos cinemas. Perto da minha casa há um cine-estúdio construído nos anos 60 que passava matinés com filmes desses. Na terra conta-se que a única mulher a assistir era a Dona Lola, uma senhora de poucos recursos que era uma espécie de figura típica da zona.
Mas a Zé dos Cinco foi depois. Na altura nem sei se já existiam as histórias por cá.
Era para chatear. E tinha vários namorados a quem fazia negaças para os ver andar à porrada na disputa
ejeheje
A minha mãe ainda hoje conta o que ouviu quando me foi lá buscar, à secção maculina, no dia do exame.
Estavam as mães a falar de mim com uma empregada.
E, às tantas, depois de uns piropos onde era apresentada como a terrorista minorca da escola, a minha mãe diz quem é.
E a empregada ficou muito atrapalhada e acho que disse- "A senhora desculpe; não sabia que era a mãe desse diabo; uma autêntica terrorista"
aahhahah
Mas o Mujah nem imagina como sempre adorei andar de calções. Mandava-se fazer e tudo, para serem de todos os estilos possíveis e imaginários.
Lembro-me de uns em pied-de-poule com bolsos com botão.
Tinham de ter bolsinhos para guardar as traquitanas
De resto o autor Jorge de Sena desmistifica bem a coisa. Nós nunca fomos puritanos, e quando a Esquerda fala do Estado Novo como uma espécie de Regime que castrava a sexualidade mente. A diferença entre os portugueses e outros povos europeus no que diz respeito à sexualidade é outra. Nós somos tradicionalmente discretos e não gostamos de «escândalo público» ou «exposição».
E como agora andam alguns a descobrir, dentro do Regime a vida sexual da cada um não era tema importante, desde que se mantivesse o devido recato e não houve «escândalo público».
Os americanos quando querem afastar alguém da vida pública vasculham a vida privada, procuram aventuras fora do casamento ou na juventude e fazem o «escândalo público». Por cá não há disso, quer dizer, a Esquerda já o fez, com Sá Carneiro!
*houvesse
É capaz de ser isso, Zephyrus.
Eu vejo fotografias da minha mãe e família na altura e aquilo era mesmo muito mais liberal.
E a minha tia que nos anos 50 usava biquini na Costa da Caparica.
Depois, aí pelo final dos anos 60 é que a coisa ficou mais cretina na cidade.
Acho que foi devido às famílias mais pequenas que depois querem ascender socialmente e se tornam puritanas nos costumes.
Isso e as reitoras dos liceus.
Mas, na escola da câmara onde também andei- em Alvalade, a directora era super-liberal e eu vestia assim nas calmas sem ninguém chatear.
E nunca andei na Mocidade Portuguesa!
Nunca!. Em parte alguma. Por isso é que me admiro de quem fala disso como exemplo doa fascismo obrigatório.
O meu irmão é que ainda ia lá aos sábados fazer "castelos" e coisas assim. Uma coisa muito suave só da parte da manhã.
Mas eu, nunca. E ia ao 10 de junho porque era uma maravilha. Tinha-se semanas de dispensa das aulas para se treinar em Monsanto.
E depois era tudo junto e óptimo para namorar.
Como sempre fui boa em ginástica e canina, fivava na primeira fila da coreografia e até se via na tv.
Mas, mesmo no 10 de junho, só levava mini-saia às preguinhas e tirava o lenço que devia ser colocado à cabeça e atava-o ao pescoço.
O melhor comentário do fum-de-semana: «É absolutamente extraordinário como o pós-moderno Manuel Sérgio contribuiu tão pouco para a dívida nacional». Tal e qual, no malomil.
A propósito do que diz o José sobre as mulheres aparecerem nas revistas portuguesas bem despedinhas no 'antigamente', é verdade. A minha mãe guardou vários tipos de revistas: Burda, Vogue, Elle, Marie Claire, etc. Entre elas conservou meia dúzia de Plateias (por motivos engraçados que não vêm agora ao caso) datadas de 1960/1/2. Fui ontem rebuscá-las ao fundo da arca e nas Plateias, no seu interior e em duas capas - nestas aparecem duas actrizes inglesas de pernas completamene à mostra - lá estão as meninas, portuguesas e estrangeiras, actrizes do cinema e do teatro, todas de pernas ao léu e até algumas delas com bastante mais à mostra.
Por conseguinte a censura no Estado Novo não é o que a propaganda esquerdista, incluíndo as feministas (que mudam de opinião d'acordo com o regime em que assentam arraiais e os ventos que sopram no momento) propagandeavam e quando calha ainda o fazem para achincalhar o 'faxismo'. Mas não só, os verdadeiros objectivos eram outros muito mais graves.
Reparem bem, estas fotografias aparecidas na Plateia datam de 1960/1/62.
Coitadinhos dos paneleiros que nesse tempo a lei considerava criminosos.E arredava de quase tudo.Mas a ditosa constituição democrata julgo que ainda feita sob a vigência dessa lei afinal tudo permite...pois como é bom salvar os paneleiros dos outros e assim ficar com um poder de compra superior, coisa que é atribuída a esses eternamente perseguidos pela sociedade tenebrosa dos outros tempos
"The world tells us to seek success, power and money; God tells us to seek humility, service and love." Pope Francis (@Pontifex) http://emmanuel959180.blogspot.in/
Publiquei:
http://historiamaximus.blogspot.pt/2013/06/costumes-capitosos.html
História:
Publicou e fez muito bem que isto já é do domínio público.
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