sexta-feira, maio 03, 2013

Como se chega a director de informação de um "país positivo"

O Diário de Notícias de hoje tem um suplemento- Notícias TV- que traz uma entrevista de nove páginas, com fotos,  ao director de informação da RTP, Paulo Ferreira. A entrevista é inenarrável- só lida.

O modo como PF entrou na RTP é explicado com a simplicidade das amizades pessoais: "Estava no Público e recebi um convite do José Alberto Carvalho para vir a ser editor de economia da RTP". Pronto, foi assim. Um convite de um pivot para integrar os quadros da RTP e está feito e a andar. Razões especiais para tal? Não são precisas, porque se explicam a elas mesmas.
Portanto,  Ferreira foi editor de economia da RTP numa altura em que Portugal se afundou em swaps de empresas públicas, despesas inauditas nos ministérios, com colunas maçónicas decorativas, duplicação da dívida nacional total, investimentos faraónicos em auto-estradas triplicadas, tgv´s a ver por um canudo em projecto, renegociações de PPP´s rodoviárias com motas-engis e quejandas.
Nada disso viu este santinho, editor de economia da RTP e "formado em Gestão", com especialidade no jornalismo económico.
O Correio da Manhã, único veículo de informação onde é possível saber-se de coisas que não se conformam totalmente ao "país positivo", contava assim a "contratação":

"Paulo Ferreira trocou o ‘Público' pela RTP três meses após o diário noticiar que a Presidência da República suspeitava de escutas por parte do governo socialista, liderado por José Sócrates. Uma notícia que surgiu em plena campanha eleitoral. Em Novembro de 2009, o atual diretor de Informação da RTP entrou no canal como editor da Economia, cargo que ocupou até substituir Nuno Santos à frente da Informação da RTP, em dezembro de 2012." 

Só isto é motivo suficiente para se desconfiar desta contratação e do modo como ocorreu, porque o episódio das escutas fantasmas, com criação diferida de facto político bem real e aproveitado por alguém que agora foi "contratado" para comentador da RTP, não se esclareceu devidamente. E muito menos o papel, nada despiciendo de Ferreira neste episódio e que o Público  relatava assim, com nomes do meio maçónico a pronunciarem-se. Aí aparece também o  Diário de Notícias como fonte da informação, o qual escrevera  ter sido Fernando Lima a fonte de informação...do Público! Inenarrável? Melhor que isso: típico de determinada politiqueirice jornalística, em que  Ferreira se viu envolvido e deveria esclarecer e, claro,  sair do lugar que ocupa, caso se confirmem suspeitas de envolvimento indevido. No final de contas esteve em causa a figura e a imagem do presidente da República. O mesmo que agora é atacado vilmente, todas as semanas, pelo fugitivo de Paris regressado à propaganda médica e televisiva, sem ponta de vergonha.

Mas...afinal de quem terá sido a ideia de contratar essoutro inenarrável para comentador da RTP? Explica Ferreira ( com um sorriso):

"Foi uma daquelas reuniões em que estamos todos a pensar e vão surgindo nomes e ideias. Em todas as redacções há destas reuniões. Estávamos a reflectir sobre o que fazer com os telejornais de fim de semana, que são aqueles que têm menos audiência na RTP."  E pergunta o entrevistador ( Nuno Azinheira que nem por um instante mencionou o caso do Público com as escutas de Belém...o que denota que também está no bom caminho do jornalismo do país positivo): Quem é que estava nessa reunião? E responde Ferreira:  Estava eu, estava o coordenador de fim de semana...e interrompe o entrevistador, no afã de conseguir mais um nome: o director-geral? E responde  Ferreira lapidarmente: "Não, não, o director-geral não participa nas reuniões da direcção de informação". 
Nem participa o director-geral nem o ministro tutelar, no caso o Relvas. Mas tal não impede que lhes sejam comunicadas, como efectivamente foram as decisões tomadas pelos vistos por...dois. Ferreira e o outro inominado, coordenador de fim de semana. Mai-los " pivôs de fim de semana, os coordenadores e a direcção de informação".
Quem são estas personagens na RTP de hoje? É muito difícil encontrar nos sítios oficiais da estação pública os nomes porque não há  indicação dos responsáveis e que possam ser escrutinados na internet. Talvez não tenham tempo para colocar lá a grelha dos nomes.  Assim, vai com pesquisa de Google.
Cristina Esteves, a pivô que ouve Sócrates todos os domingos é uma. Não me parece que tenha dado palpite decisivo.
Carlos Daniel é outro. Um jornalista desportivo fica mesmo a calhar para este jogo. Porém, não acredito que tenha vindo daí o golo na própria baliza. O indivíduo nunca passará de mero relatador de futebol jogado.
E os coordenadores, afinal quem serão?

Um é um anódino tech & net. Obviamente não veio daqui a ideia luminosa.
Outro, poderá ser este rotário. Obviamente não meteu prego nem estopa na reunião dos rotários da RTPl com a maçonaria à espreita.

Então quem terá sido o autor da ideia luminosa? Resta um...que ficou entusiasmadíssimo com a brilhante ideia de dar um tempo de antena sem paralelo ao principal mentor da nossa desgraça dos últimos seis anos. Sem paralelo, também. Ferreira, no entanto, não lhe toca essa desgraça. Nem se apercebe da mesma. O que interessa são...audiências pelo que sendo o resultado dessa escolha o que tem sido, resta-lhe perder o contacto com as mesmas. Sair do lugar, obviamente.




No resto da entrevista, o entrevistador com currículo para o "país positivo" ainda lhe pergunta onde está a pluralidade se Sócrates está sozinho a comentar. Ferreira não se desmancha: "porque é a voz de um primeiro-ministro que esteve aos comandos do país durante seis anos, numa altura crucial para o país. É importante ou não ouvir a sua voz?", pergunta.
É, Paulo Ferreira, é importante ouvir a voz, mas não em monólogo,  porque tal coisa é mero exercício de propaganda política, "travestido" de jornalismo. E não é importante ouvir todas as semanas essa propaganda com intuitos perversos e não explicados devidamente, porque não somos ingénuos. Percebe ou faz-se desentender?
E que razões pessoais, particulares ou profissionais o fez pensar em tal "contratação" depois daquele episódio das tais escutas de Belém?  Foi só pelo pastel?

Ferreira, aliás, tem uma noção do pluralismo muito interessante para se ver o contorno deste país positivo. Em "espaços de opinião", Ferreira acha que se devem "contratar" pessoas com " notoriedade pública, capacidade discursiva e comunicativa. e capacidade de ter coisas para dizer que interessem às pessoas."

São esses os critérios para escolha de comentadores " dos partidos", para assegurar a "pluralidade".  E é por isso que temos quem temos a comentar na RTP que nos suga dos impostos, a todos nós, dinheiro que deveria ser gasto noutras coisas.
São esses que são escolhidos porque quem os escolhe também foi escolhido por eles. Ou seja, uma endogamia que nos abafa, mais que antes de 25 de Abril de 1974. 

Com Ferreiras assim, a RTP está sempre do lado do "país positivo".Só que não é o nosso: é apenas o deles.

7 comentários:

Floribundus disse...

esta revolução socialista é pior que o Zimbabué ou a Papua

não leio nem ouço intelectuais jornalistas
são gente que moram no 'outro mundo',
'campos elíseos' ou inferno

jcd disse...

Alguma injustiça neste post, porque se algum jornalista da RTP foi alertando para a situação económica foi mesmo o Paulo Ferreira. Recordo este documentário:

2010 - O ano em que chegou a factura.

http://www.youtube.com/watch?v=03c9I-ujQ20

S.T. disse...


Eh eh eh...somos o país do brainstorming , somos tão bons a pilhar que ainda acabamos murados e cercados de arame farpado , como aconteceu no ghetto de Varsóvia...

É esperar pelas eleições legislativas e presidenciais , com o Costa em S. Bento e o Pinócrates em Belém , o pedido de insolvência é fatal...

lol

lusitânea disse...

E o meu elevador a ter que pagar a taxa de televisão...

lusitânea disse...

Eles comem tudo e não deixam nada.Mas andam felizes a equipararem os seus eleitores a africanos acolhidos e nacionalizados às centenas de milhar...rumo a África e às suas virtudes...

Zé Luís disse...

Disse o roto ao nu... O Zé Alfretes do Carvalho e um bufo partidário do situacionismo. Como é que dizem os franceses das boas almas?

josé disse...

jcd:

Se foi assim- e terá sido- porquê o convite ao principal responsável pelo descalabro?

O que mudou?

O Público activista e relapso