O Diário de Notícias de ontem publicou uma entrevista extensa ao presidente do BES que ainda há seis meses estava de saída da instituição bancária do regime que nos conduziu à bancarrota. Já não está e até parece reconfortado na cadeira do topo da administração
Na altura, em Novembro de 2012, as notícias eram preocupantes como uma nuvem negra que se abatia sobre o patriarca da oligarquia banqueira. O destino do banqueiro era muito incerto e a cadeia um paradeiro possível o que seria coisa impossível no Portugal que temos e somos. Em França, Alemanha ou outros países do género, provavelmente não haveria escapatória. Por cá, há sempre um RERT providencial, gizado por mão amiga enquanto os isaltinos expiam o bode. Se isto é Justiça, é coisa que os antigos não compreendem:
O Banco Espírito Santo (BES) está a discutir a sucessão de Ricardo
Salgado como presidente da comissão executiva. Apesar de o mandato do
economista apenas terminar em 2015, existem receios entre os accionistas
e os administradores de topo do banco de que os estilhaços do processo
Monte Branco possam atingir o banco, segundo fontes bancárias.
A operação Monte Branco, nome pelo qual ficou conhecido o inquérito
judicial a cargo do Departamento Central de Investigação e Acção Penal
(DCIAP), foi publicitada pela comunicação social em Maio passado aquando
da detenção de Michel Canals, Nicolas Figueiredo e Francisco Canas
(mais conhecido por “Zé das Medalhas”). Esta sociedade de direito suíço
dedicava-se à gestão de fortunas e tinha muitos clientes portugueses.
Canals e os seus sócios são suspeitos de liderarem uma rede de evasão
fiscal e de branqueamento de capitais que terá ultrapassado, segundo o
semanário “Sol”, a soma de mil milhões de euros.
Segundo a revista “Sábado”, o presidente executivo do BES terá estado
sob escuta no âmbito das investigações judiciais. Também José Maria
Ricciardi, membro do conselho de administração do BES e líder do BES
Investimento, teve as suas comunicações telefónicas interceptadas por
ordem do juiz de instrução criminal Carlos Alexandre. Ricciardi negou
duas vezes em comunicado o seu envolvimento no inquérito do DCIAP.
Ricardo Salgado é portanto um sobrevivente reconfortado pelo Ministério Público português em carta pública de limpeza de imagem e reabilitação: em 30 de Janeiro deste ano, o Jornal de Negócios anunciava que a PGR emitiu um despacho em que
considera que Ricardo Salgado não é suspeito no caso Monte Branco. E que
não existem indícios de crimes fiscais.
E pronto. Ricardo está pronto para outra...perdão, para outro RERT.
Ricardo Espírito Santo, cuja história de família, na Boca do Inferno, vale a pena ler, é o regressado do limbo por obra e graça do espírito gratificante do MºPº de um certo DCIAP e mostra outra vez de que massas é feito, dando palpites avulsos sobre a Economia, o dinheiro e tudo o que só o compadre mediático também sabe fazer.
Infelizmente a História é o que é e os documentos são uma arrelia para estas pessoas com memória selectivamente obliterada:
4 comentários:
"Se isto é Justiça, é coisa que os antigos não compreendem"
Caro josé
Eu já tenho 54 anos, mas não me considero um antigo (se calhar sou).
Mas eu, também não percebo mesmo nada, disso a que chamam "justiça", em Portugal.
É efectivamente uma "arte" exotérica que me escapa.
.
Mentat:
estamos na mesma faixa etária ( este blog, aliás, tende a concentrar "cotas" como nós, mas é mesmo isso que pretendo, rememorar o que foi para se alguém menos "cota" quiser entender que entenda. Ainda estamos a tempo) e por isso sobre Justiça o que se vê de vez em quando é isto. a relativização em função do poder. É o pior que podem fazer à Justiça e antes de 25 de Abril não havia disso. Pura e simplesmente não havia. Portanto até mesmo aí falhámos redondamente.
sexa prepara-se para o regresso do piésse ao desgoverno
não posso contar uma 'estória' sobre a 'boca do inferno'
que não envolve Sibilas
Ainda ontem não consegui resistir a ouvir o Camilo Lourenço a dar como inevitável o corte retroactivo das pensões. Não vou tecer juízos sobre isto mas já acho incrível a ideia de que "mesmo que se fizesse isto ou aquilo às PPP e afins, não chegava".
A imoralidade está aqui: MESMO que não chegasse e MESMO que fosse irrelevante, é preciso mostrar seriedade; nem tudo são, meramente, fórmulas económicas.
Isto do BES, é a mesma coisa...
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