sábado, maio 04, 2013

A liberdade de Imprensa actual

Antes de 25 de Abril de 1974 a liberdade de imprensa era, em muitos casos, uma simples miragem. Os jornais de oposição ao regime, congregando já a Esquerda comunista e cripto-comunista na pele dos jornalistas e directores ( Ruella Ramos e Raul Rego, por exemplo) escreviam entre-linhas a mensagem que pretendiam transmitir e os leitores informados descodificavam. Como diziam numa sondagem dos primeiros meses de 1974, já aqui mostrada, no Diário de Lisboa, "tiravam umas pelas outras". A maioria, porém, não tirava nada, a não ser o que lhe mostravam as capas e notícias. De resto, a situação económica do país era promissora e de esperança e politicamente estávamos em guerra contra o comunismo, em África. Como Marcello Caetano avisava e como se veio a demonstrar nos meses restantes de 74 e seguintes de 1975, e que os retornados conhecem muito bem.
O discurso político-social  na imprensa e media em geral, em Portugal, era situacionista, arreigado ao respeitinho pela situação política do marcelismo. O melhor exemplo de tal jornalismo é o Diário de Notícias e particularmente a imagem mostrada, da edição de 25 de Outubro de 1973, escassos meses antes do 25 de Abril e ainda antes do livro de Spínola, Portugal e o Futuro que prenunciou o golpe militar e o justificou em certa medida. Esse livro que poucos leram mas todos perceberam a mensagem implícita, foi o sinal primeiro do canto de cisne do regime. A partir daí, nada ficaria igual na política e sociedade portuguesa porque todos se aperceberam que havia nas Forças Armadas quem pensasse que a guerra tinha que acabar e fizesse algo para tal suceder. A esperança que tal comportava para os milhares de jovens e pais que previam uma futura e próxima incorporação militar com destino à guerra, foi um rastilho importante do 25 de Abril.
Pois bem: o que diziam ou escreviam os jornais da época? Reflectiam tal estado de espírito nacional? Não, de todo, por causa da censura prévia e da censura interna dos jornalistas que então escreviam, incluindo os de esquerda nos jornais da dita: Diário de Lisboa, República, até a Capital que depois foi de Balsemão e mesmo o Diário Popular de familiares de Balsemão e tutti quanti, mais correio da manhã de uma elite que já nao há,  que outra coisa.

Esta primeira página do Diário de Notícias mostra todo o estilo jornalístico da época: respeitinnho sempre e notícias do "país positivo" sempre também. Nem uma réstea de abertura a uma pequena contestação que fosse às ideias do presidente do Conselho, no caso Marcello Caetano que entendia muito bem estas limitações à liberdade de imprensa, mas as achava necessárias a preservar o país do comunismo ou anarquia. Era esta a única razão para a limitação de tal liberdade. Teria Marcello Caetano razão de fundo? Nem por isso, uma vez que uma sociedade livre de pensar por si e com liberdade de escolha esclarecida não iria optar por votar numa escravidão como a vivida nos países de Leste. Tal erro de Marcello Caetano, custou-lhe o cargo e o exílio.  Marcello entendia que os portugueses ainda não estavam preparados para a Liberdade de poderem ler artigos comunistas explícitos como apareceram depois naquele Diário de Lisboa, onde já havia o Mário Castrim, um comunista bem fossilizado,  a fustigar todos os dias os programas de tv que achava do "país positivo". Escrevia crónicas manhosas mas de uma escrita límpida e estilosa que me agradavam ler e coleccionava. Como esta, da mesma altura, Diário de Lisboa 3. 10. 1973,  deliciosa em que malhava num prócere da direita por causa das eleições:


Hoje em dia o panorama mediático é muito mais confuso, mas nem por isso menos claro na profusão de manhosos que abundam nas redacções e direcções. Actualmente, o problema não é tanto político-ideológico, porque essa batalha já a venceram há muito, de facto, logo no dia 25 de Abril de 1974, mas sim económico, resumidamente, de dinheiro e de ganhos salariais e rendimentos condizentes.

O Diário de Notícias de hoje publica uma página sobre um "debate" que reuniu vários intervenientes no espaço mediático, mormente televisivo e a conclusão que podemos ler é que afinal continua a haver censura "interna", "psicológica", auto-censura e pior que isso, encobrimento de factos graves que constrangem a liberdade de informação de forma grave.



Um tal Fausto Coutinho ( de onde é que aparecem estas pessoas?) director de informação no rádio da RDP até diz que "os constrangimentos não podem servir como argumento para limitar a liberdade de expressão e de imprensa". Que quer isto dizer?
Que o que ganha ao fim do mês, como director, não pode servir de desculpa para colocar uma jornalista tipo Maria de São José a soletrar as ideias da oposição ao Governo ou da Esquerda em geral, escolhendo os entrevistados-flash tipo militantes do BE? É isso?

Antes de 25 de Abril quem lia os jornais já sabia que tinha que tirar umas pelas outras. Hoje em dia é bem pior: apresentam-nos as notícias como espelho da realidade sem ocultações, mas com uma evidente carga ideológica que a maioria dos leitores, ouvintes ou espectadores não capta ou desconhece, tomando-as sempre pelo valor facial dos sofismas. E isso permanentemente como política redactorial.  É essa a Liberdade que preferem?

O director da informação da RTP, Paulo Ferreira, aqui neste blog mostrado como a bête noire desta miséria jornalística, que diz sobre isto? Diz que "quanto mais dependência, menos liberdade editorial". E está certo, faltando-lhe tirar as devidas consequências desse modo de pensar  por alto.

O jornalismo actual depende de forças económicas que dantes não eram tão importantes? E então, terão maior independência? Terão mesmo? Porque é que os media em geral não expôem com toda a clareza o que se passou com o BES de Ricardo Salgado, o BCP de Santos Ferreira, a CGD de Vara e Bandeira e as manigâncias do assalto ao poder mediático expostas no Face Oculta?
Esses factos conhecidos mereciam não só um Prós & Contras mas um levantamento de rancho nas redacções. Porque é que tal não sucedeu e temos sucessivamente os Paulos Ferreiras nas direcções de informação, os Josés Albertos de Carvalho a capar veleidades informativas de repórteres ou as mediocridades judíticas? Porque é que a RTP conserva um programa da Campos Ferreira que se assemelha aos do marcelismo televisivo do país positivo? É que nem sequer consegue ser um   No  Dia em que Você Nasceu, do saudoso Artur Agostinho.
Porque é que temos de aguentar isto que nos saiu em rifa? 

Estaremos hoje, 39 anos depois do 25 de Abril de 1974 que nos devolveu a plena liberdade de imprensa tão almejada pela Ala Liberal de um Balsemão de então, melhor que antes no que se refere à efectiva liberdade de escrever sobre assuntos que supostamente tal liberdade permitiria?
Não me parece.  Os media, hoje em dia, têm medo de Ricardo Salgado e outros e dantes não tinham. O Governo não deixava que tivessem. Tinham medo do Governo, isso sim. Mas tal era conhecido e já sabiam dar-lhe a volta...

Não há meio de dar a volta a isto para ficarmos melhor informados do que estamos?



Questuber! Mais um escândalo!