O Expresso publica hoje as perguntas que queria fazer ao
recluso 44 e não fez porque as autoridades judiciárias a tal se opuseram.
Conta ainda que intentou "ontem" uma acção, melhor
uma "intimação" com vista a anular a decisão ( judicial?
Administrativa ? Do juiz ou do funcionário administrativo das prisões? Não diz, mas percebe-se que é administrativa).
Mas já nem precisa. A partir de hoje, as perguntas são públicas e
quem quiser as pode fazer chegar ao recluso 44 que assim poderá escrever outra
carta a vermelho ou rosa carregado e responder tranquilamente às mesmas.
O Expresso levanta agora a bandeira rota da sua liberdade de imprensa e do direito sagrado do acesso às fontes como se isso fosse a última vaca sagrada que se respeita.
Desde quando é que o Expresso reivindica esse direito de acesso às fontes? O recluso 44 quando era Pm dava-lhes acesso a todas as fontes? E alguma vez intentaram intimações judiciais para tal?
O Expresso continua o mesmo, à imagem e semelhança dos seus actuais directores, ambos cretinos e ambos pró-socialistas. Basta ouvir os comentários na Antena um do Nicolau do laço e as inenarráveis tiradas televisivas do outro para entender.
Vejamos o conteúdo
das perguntas para perceber se eram mesmo perguntas ou apenasammais uma variante do "método socrático"
em que o Expresso se especializou ao longo dos anos com a ausência de
verdadeira investigação jornalística quando a mesma era importante, relevante e
essencial, relativamente à actividade político-governativa do agora recluso 44.
Neste método de perguntar, ensinado pelo Sócrates de Atenas,
as perguntas são meios de conduzir o aluno a responder em conformidade com o
que se pretende seja a resposta correcta.
Ou seja, tudo o que o Expresso sempre desejou, desde o início, ou não fora o
seu director Costa uma espécie de
apaniguado indirecto do antigo PM que lhe
empregou a mulher ( Cláudia Borges
foi consultora de comunicação do gabinete de
Ana Jorge, ministra da Saúde em 2008, com um vencimento calado, o que deveria ser motivo suficiente para abandonar a direcção de um jornal).
Assim, quando o Expresso pergunta coisas que já foram perguntadas no interrogatório
judicial e a que o mesmo jornal alude, tendo conhecimento do mesmo, ( eventualmente
através de falsa "fonte judicial" porque devem resultar de documentos
já em circulação por diversas pessoas e extraídos dos autos para diligências
diversas como os mandados de detenção, as buscas e a apreciação de recursos, etc) não
espera certamente respostas diversas daquelas que já conhece. Espera sim que o entrevistado adorne melhor
as respostas, justifique melhor as
eventuais contradições e esclareça ainda mais a sua "inocência".O Expresso, no fundo apenas quer fazer um frete ao recluso 44 e isso parece claro através do tipo de perguntas expostas.
Quando o jornal pergunta se o recluso 44 sabe quanto recebeu
de Carlos Silva já sabe de antemão a resposta que foi dada no interrogatório
judicial e que aliás o mesmo jornal publica hoje em manchete: "Sócrates
admite não saber quanto recebeu de Carlos Silva". Pergunta retórica, portanto e inútil a não
ser para o aperfeiçoamento do "método socrático" e a resposta conveniente.
Todas as perguntas essenciais colocadas por este método
socrático ao aluno recluso poderiam ter sido feitas antes, muito antes, na
realidade desde que outros órgãos de informação relataram suspeitas de investigação
criminal ao agora recluso e que mencionavam expressamente os nomes e factos
aludidos. Porque não foram? Nem é
preciso perguntar porque o Expresso não responde. Censura. Omite. Internamente.
Auto-censura-se. E percebe-se bem porquê.Não estão em causa os jornalistas das perguntas que suponho as poderiam fazer muito mais cedo. Está em causa a direcção deste jornal que aparece sempre como "referência" neste país cujas referências são estas. Ricardo Costa e Nicolau Santos, referências do jornalismo nacional! É assim, não é?
Ao tempo em que as perguntas deveriam e poderiam ser colocadas, ou seja há longos meses, Carlos Silva já era apontado como amigo; a empresa
Octapharma era conhecida como fonte do rendimento declarado; as notícias sobre
os empréstimos duvidosos eram conhecidas desde que o Correio da Manhã as
divulgou logo em finais de 2011. O apartamento de Paris era conhecido. A relação com Lalanda Castro era conhecida
como ainda haverá outros aspectos deste relacionamento por descobrir mas que o
Expresso não pretende saber. Por exemplo, o relacionamento com a Administração
Regional de Saúde de Lisboa e que também se pode ligar por notícias que nem
aparecem agora.
Essa investigação, tipicamente jornalística, o Expresso
nunca a fez, como nunca fez a investigação tipicamente jornalística e ao alcance dos meios disponíveis, para saberem o que aconteceu ao Sol ( com o seu anterior director, José António Saraiva) ou no caso Face Oculta, quando se tornou evidente o que o antigo PM andou a fazer para alterar o Estado de Direito. Alguma vez o Expresso se preocupou com a "liberdade de imprensa" nesta altura verdadeiramente ameaçada? Não.
Por exemplo, o caso do "bijan" em que o então "prime minister of Portugal" manchou o nome do país numa montra de apparel de luxo, em Los Angeles. O Expresso nunca soube disto? Achou normal? Os jornalistas que agora fazem perguntas nunca quiseram saber disso? E porque não perguntam agora, com que dinheiro o então "prime minister of Portugal", pagou para deixar a mancha vergonhosa na montra de tal loja, impunemente?
Por motivos que me parecem óbvios, o Expresso não procura a verdade de factos que
conhece. Procura apenas o efeito jornalístico que se aparenta a tal e lhe permite aparecer como se fosse um paladino da liberdade de imprensa que não pratica, porque censura internamente. Não precisa de Exame Prévio, porque o auto-exame é suficiente. Sempre
foi assim, desde 1973. Contam-se pelos dedos da mão, ou sequer pelo mindinho,
as investigações jornalísticas que o Expresso desenvolveu ao longo destas
décadas para descobrir por motu proprio fosse o que fosse que mexesse no
regime. Tudo o que lhes interesse é a
panhache da entrevista, a mancha de primeira página com informações sopradas
pelas toupeiras ou o puro jogo da manipulação política. Sempre foi assim e
assim continua a ser.
Investigação a sério, separada da judicial, com entradas
firmes no mundo da corrupção politico-partidária ou apenas indagações com suporte factual, não há no
Expresso e nunca houve.
Para não ser injusto fui consultar os "anuários"
do jornal, destas décadas. O dos 15
anos, de 1987; o dos 25 anos, de 1998,
dos trinta anos, de 2004 e o dos 40, deste ano.
Tirando uma investigação jornalística sobre o assassínio de
Humberto Delgado, em 1977 que mais houve? Pouco ou nada. Nem sequer em relação
ao caso das FP25, em meados dos anos oitenta, o jornal foi alguma vez mais
longe que as autoridades judiciárias.
Tal como Jean Paul Sartre dizia ao mesmo
Expresso em 5 de Abril de 1975, "
a imprensa porruguesa de um modo geral não me parece muito boa. Ela não explica nada." Continua a ser verdadeira tal afirmação e ainda está pior que naquela altura de há quase quarenta anos, apesar das escolas de jornalismo onde parece que os professores são antigos jornalistas que...nada explicavam.
Os casos Melancia-fax de Macau, Costa Freire, Leonor Beleza,
corrupção com verbas da Europa? Nada que outros não fizessem melhor e primeiro.
Na última dúzia de anos, o jornal contribuiu alguma coisa
para a melhoria do país em termos de percepção da corrupção institucional? Pouco ou nada e de resto contribuiu para a
farsa que foi todo o consulado de José Sócrates e a tragédia que se consumou
com a bancarrota de 2011.
Houve uma coisa em que se distinguiu: na denúncia do caso
Ongoing porque afectava o patrão, outro inenarrável e com base em informações de toupeiras dos
serviços secretos serviu o patrão em vez da verdade.
Quanto a José Sócrates como governante serviu para evitar
isto que agora se vê e o jornal percebe perfeitamente a não ser que sejam todos
uma cambada de imbecis ( o que às vezes parecem , como agora com estas
perguntas...)?
Pouco ou nada. Aquando do caso da licenciatura do dito,
vergonhosa inacreditável e inenarrável, o jornal liderou alguma investigação ou
foi a reboque dos demais, anunciando até pretensas campanhas negras, através
dos seus comentadores avençados tipo Adão e Silva e quejandos?
O jornal, ao longo de décadas preocupa-se apenas com um
assunto: política partidária dos vários partidos de poder. Tão só. MFA, Sá
Carneiro, Eanes, Soares, Sampaio, Cavaco, Guterres, e tutti quanti que fazem parte desse mundo. Manobras de
bastidores, jogos florais, entrevistas e tem sido assim. Ir ao fundo das
questões com comentadores que não encham apenas papel? Não há disso.
Assim, as perguntas de hoje são apenas o corolário deste
jornalismo de caserna política. Não
procuram atingir qualquer verdade essencial, esperavam que o entrevistado desse
as respostas convenientes que aliás já foi dando e quanto aos aspectos de
pormenor como seja por exemplo o de perguntar se sabia que o amigo CSS tinha 23
milhões na Suíça, a pergunta é tão imbecil que até dói a imaginar a resposta. Tal
como a de perguntar se no almoço com Pinto Monteiro falou sobre a investigação
que corria contra si.
De resto quanto às perguntas sobre as circunstâncias da
detenção ou os que estão intimamente ligados aos processo, o recluso
nunca poderia responder e alegaria sujeição ao segredo de justiça. E se
respondesse, violando o dito, seria sempre para mentir. Ou seja, fazer o jogo de quem pergunta.
É para isto que o Expresso existe e quer fazer valer os
pergaminhos pomposos da alegação sobre a liberdade de informação e o
inalienável direito de acesso às fontes?
Se é, porque é que não as procurou quando o podia e devia
fazer? Porque é que sempre omitiu aos leitores os aspectos mais tenebrosos das
suspeitas que rodearam os governos do agora reclusoo 44?
Essa é que é a liberdade de informação que defendem? A de
protegerem os seus?
Se é, podem limpar as mãos à parede forrada a jornais das
últimas décadas.