Salazar tinha como ideário inicial uma trilogia de valores supremos: Deus, Pátria e Família. Não queria ver discutidos na praça pública da algazarra mediátia tais valores. Por isso impôs censura a quem se atrevesse a questionar tais valores em modo irrisório. Mas não era uma censura radical ou inquisitória, como pretendem alguns, uma vez que a esquerda, segundo é aceite pela mesma ( ver o que Eduardo Lourenço escreveu há uns bons anos e que aqui deixei à mostra, em recorte) dominava o panorama intelectual desde os anos 40 e tais valores não eram propriamente o cardápio das discussões intelectuais e habituais do jacobinismo em modo de confirmação.
Estes valores acompanharam-no até ao fim, em 1968? Nem sei, mas acho sinceramente que não porque Salazar, tal como Kant que nunca saiu do seu lugarejo de nascença, apesar de não ser cosmopolita tinha ideias assentes e cabeça para pensar por si mesmo. Salazar não citava autores a eito, nem sequer grandes filósofos, mas o que escreveu é dessa estirpe de sábios.
Porém, em 1968 não pensava certamente como em 1948, a propósito de certas realidades que se lhe impunham como evidências, sendo pessoa inteligente. Não pensaria o mesmo em relação à Pátria e à sua integralidade, como não pensaria em relação à Família ( que aliás nunca constituiu por motivos de eventual renúncia pessoal) ou em relação a Deus.
Portanto, a evolução é própria do Homemm e mesmo quando tal se apresenta como involução ou regressão a outro ambiente, tal significa mudança.
Quem veio a suceder a Salazar foi Marcello Caetano. Segundo um livro recente, muitíssimo interessante e que recomendo vivamente ( Os Lugares-tenentes de Salazar, de Manuel de Lucena. Alethea, 2015) o delfim provável seria Pedro Theotónio Pereira mas tal não aconteceu. Conhecendo o perfil deste tal como o de outras personalidades próximas de Salazar, como Armindo Monteiro ou Franco Nogueira, detecta-se a impossibilidade de evolução de um regime sem mudanças. E essas mudanças teriam necessariamente que acompanhar o "ar do tempo", ou "os ventos da História" ou seja, a modernidade que se impunha ao mundo ocidental em que estávamos inseridos.
A negação de tais tendências só se tornaria viável no caso de Portugal se fechar sobre si mesmo, tal como uma Coreia do Norte o faz actualmente ou os países do Leste europeu o faziam com os resultados conhecidos.
Pensar que tal seria possível redunda num irrealismo que atinge as raias do paroxismo utópico e por isso perfeitamente ocioso discutir.
Assim mostre-se a quem quiser ler o que foi a acção política e o pensamento de Marcello Caetano. Para tal nada melhor que as suas palavras coligidas em livrinho de propaganda mas que se lêem como se fora reportagem jornalístima ou ensaio ligeiro, tal a clareza de linguagem e a limpidez de conceitos.
Os excertos que seguem vieram directamente do livro da Direcção-Geral de Informação do Governo de então, em Dezembro de 1972 e referem-se á actividade dp quarto governo de Marcello Caetano ( é assim que se designa o livro).
Por aqui se demonstra que Marcello não repudiou a herança jacente de Salazar. Apenas teve que pagar imposto sucessório porque o valor dos bens era elevado...
67 comentários:
MC herdou quase toda a herança do seu antecessor
com excepção da tropa fandanga que o lixou
o pior foi que reduziu a zero (à esquerda) o rectângulo
por falar em jacente
em alguns blogues comemora-se hoje
4 anos sobre aquele radioso dia em que o 44 pediu intervenção externa
o acompanhante num estava muito bem disposto
agora tem um monte ...
A negação de tais tendências só se tornaria viável no caso de Portugal se fechar sobre si mesmo, tal como uma Coreia do Norte o faz actualmente ou os países do Leste europeu o faziam com os resultados conhecidos.
O José desculpe, mas isto é o mesmo género de argumento que se usa para defender desde o acordo ortográfico, ao aborto, ao casamento homossexual, ou tudo quanto passe por "progressismo".
Ou seja, quem não acompanha o progressismo à guisa de progresso, é atrasado e fechado sobre si mesmo.
Não concordo.
Portugal não tinha nada que se fechar sobre si mesmo e comparar com a Coreia parece-me demagógico porque o objectivo do regime coreano era esse logo à partida...
Além disso, não vale a pena tergiversar porque o que aqui está em causa é o Ultramar e a nossa soberania.
Ora, esse argumento da negação das tendências diz que só somos um país e nação soberanos enquanto "as tendências" não disserem o contrário...
Se esse argumento colhesse em várias alturas ao longo de oito séculos...
E quanto à questão da responsabilidade, a minha visão é a seguinte:
O Estado tinha uma ordem constitucional de hierarquia de poderes. A responsabilidade é derivada dessa ordem.
Portanto, logo aí, a responsabilidade maior é a do Presidente da República. Depois a do Presidente do Conselho, e por aí fora.
Dentro da hierarquia militar, é o mesmo.
Se Marcello se viu encurralado, pois então é responsável por se ter deixado encurralar. Não naquele dia em específico, mas no que levou tal coisa a passar-se.
Aliás, vistas as coisas desse ponto de vista, a teoria de que o regime tinha que acompanhar as tendências, etc, cai por terra. Pois desde que Caetano chegou ao poder que o regime não fez mais que acompanhar as tendências.
Obviamente, e como Caetano estava consciente, quanto mais se cedesse às tendências, mais as tendências exigiriam, precipitando tudo.
É exactamente a mesma coisa com a questão das negociações do Ultramar e a razão pela qual nunca se fizeram prazos nem cedências.
Uma pergunta simples e para acabar com estes floreados, vale também para o Dragão:
V.s acham que hoje- em 2015, neste planeta, ainda poderíamos ter o Império?
Portanto, observando a forma como decorreu a guerra, em que nunca se cedeu e nunca se perdeu; e a forma como evoluiu o regime, cedendo muito e caindo por não ceder o suficiente; a observação parece sugerir que o melhor curso era precisamente não ceder...
O Marcello não cedeu.
Não houve um único passo, de espécie alguma, chamem-lhe autonomias ou outras tretas para cerder o Império.
Houve golpe militar (continuo na minha que foi militar e não de Estado, já que não há um único civil a aparecer em cena, e depois entregaram-no.
Marcello não cedeu nada. Foi retirado de cena antes de qualquer tipo de negociação que v.s até advogam para se conseguir manter.
Portanto, repito a pergunta:
Acreditam que em 2015 ainda poderíamos ter o Império que Marcello não entregou?
Não houve um único passo, de espécie alguma, chamem-lhe autonomias ou outras tretas para cerder o Império.
A sério?! Não me diga... Vai-se a ver e foi isso mesmo que eu escrevi...
Dizem que a "Direita" (o que quer que isso fosse) do Estado Novo e mais a Esquerda, até se aliaram com gente do Poder (que seria do Centro pela lógica GPS) e fizeram o 25 de Abril para entregar aquilo.
Portanto, se ambas as duas queriam golpada o resultado não era o mesmo?
Ou seja- o que me intriga ainda mais é o que poderia ser uma Direita à Direita do marcellismo a fazer valer ainda mais um Império que nem ele entregou.
Quiçá reconquistavam Olivença
":OP
A sério, foi?
Então qual é a resposta:
Ainda tínhamos Império em 2015?
Em resposta à pergunta concreta: hoje, parece-me difícil.
Mas o hoje é como é também por causa do que aconteceu em 74.
Em 74 era possível manter e é isso que importa. Em 75, 76 e daí para à frente logo se veria.
Na volta a culpa do Marcello foi não ter negociado a independência para não perder o Império.
Só veja a lógica desta batata.
Foi culpado e não deu um passo para qualquer autonomia e mesmo assim entregou-o.
Portanto, deveria ter tratado de ir entregando antes que lho roubassem e entregassem mal e procamente.
Ok.
Parece que é mais ou menos isso que outros defendem.
Eu nem sei. Só não entendo a lógica da tropa.
Portanto, se não tivesse havido o 25 de Abril aguentava-se mais uns anos.
Ok.
Mas houve o 25 de Abril, por se estar a aguentar há uns bons anos...
E não só. E não só.
Porque aguentar é tarefa militar.
Ora quem andava a preparar golpe eram os militares.
Por razões obscuras, salvo as que se sabem corporativas.
Mas os ultra também se preparavam para golpe.
Quais eram as razões destes, se não era para fazer força para entregar nem por mesquinhices corporativas?
Mas quem é que sabe se os ultras se preparavam ou não? Dizem que sim, mas cá para mim isso é uma grande tanga.
O que se viu foi que os ultras não tinham era nada preparado, nem na altura nem depois. Nada. Zerinho.
Bem, até o Kaúlza diz. Pensou-se mesmo que o golpe poderia ser de sentido contrário.
...........
Se quer o meu feeling é que esperaram todos que os palermas avançassem e depois era de quem agarrasse.
Agarraram-no os escardalhos que nisto são mais sabidos e os ventos favoreciam-nos, assim como os apoios políticos.
Não íamos ter uma palhaçada à América Latina entre Alcazar e Tappioca.
Tivemos apenas os tapiocas até deixarem.
Deixaram até ao 25 de Novembro.
Depois acabou-se a festa tapioca fardada mas continuou o resto em camisa.
Os lateiros vieram à frente e sem munições.
Uma festa. Realmente, como o Dragão disse, só faltou uma largada de touros.
No dia em que me explicarem o detalhe de terem vindo sem munições eu prometo que repenso a questão.
Vamos até ao fim, desta vez é para valer, mas esqueceram-se das munições.
Ok. Isso e maila palhaçada posterior no Ralis, até uma criança não acredita.
cara Zazie
aquilo foi um golpe no estado
feito pela fandanga
tanto quanto sei o básico da EPC que chegou ao Carmo não trazia munições
encontrou-se frente a frente na rua do Arsenal com um camarada de Lanceiros 2, por sinal bem armado
não sei quem estava por detrás do biombo Namban
o império estava condenado, tal como o 5º
merecia outro desfecho
lembram-se do chinfrin quando o Papa recebeu os turras
a guerra das Laranjas ainda não teve chegou ao fim
podiam devolver o calhau de Perrejil para o pessoal trabalhar para o bronze
Pois não trazia munições.
E eu pergunto porquê.
sempre me convenci que foi pura
Commedia dell'Arte
improvisou-se de parte a parte
perante a indiferença da quase totalidade da população
Acho pouco e não acredito.
Não estou a falar da população.
estou a falar de um golpe militar que se disse que era a valer e para levar até ao fim- acontecesse o que acontecesse.
E uns vêm sem munições?
Porquê?
Se calhar o que se improvisou em cima da hora foi quem estava por um lado ou por outro ou ia passar rapidamente para o lado dos que avançaram- mesmo sem munições...
Eles lá sabiam como arregimentavam "descontentamentos".
Ou "desmoralizações" como também lhe chamam.
Acreditam que em 2015 ainda poderíamos ter o Império que Marcello não entregou?
Goa
passou para a União Indiana
Timor
esteve nas mãos da Indonésia e agora é um satélite australiano
Macau
passou para o Império Chinês
Moçambique
exploração à moda do faroeste selvagem
Angola
foi cobiçada pelo império soviético e pelo império americano, o americano levou a melhor mas agora está a passar o testemunho ao império chinês.
Cabo Verde
abandonado à sua sorte
S. Tomé e Príncipe
abandonado à sua sorte
Guiné-Bissau
explorado por narco-traficantes
Brasil
o país do eterno futuro pois não dá nem quer dar valor ao seu passado
Impérios ainda os há por aí ao virar de uma qualquer esquina. Hoje a força dominante no mundo são os EUA mas num declínio acentuado enquanto a China se encontra em ascensão.
A diferença do império Português para os outros Impérios?
A maior parte dos impérios limitaram-se ou limitam-se a explorar e os Portugueses tiveram uma missão civilizadora e integradora.
Em 2015 o que temos mais é impérios...
...desde o Império da ONU
ao Império do Rei que vai NU...
Impérios que se recomendem é que são poucos.
Duas perguntas:
Com Salazar no poder, o 25A teria acontecido?
Com Marcello no poder, Botelho Moniz teria sido metido no bolso?
Essas duas perguntas carecem de melhor contextualização:
Como Salazar no poder teria havido necessidade de fazer um 25A?
Ou seja, os militares do QP estariam em vias de levantamento de rancho?
Sim, o 25A foi determinado por questões corporativas.
A tropa deveria ter sido invadida por milicianos como foi?
E Salazar onde iria buscar voluntários à força para as incorporações nas FA e combaterem nas Províncias Ultramarinas?
Mais: quem iniciou o processo de desmilitarização das FA, ao abrir fileiras a milicianos?
Não foi Marcello...
na 1ª república chamavam a isto
'uma quartelada'
slogan desta republiqueta social-fascista
'vais ter um lindo enterro'
«Sim, o 25A foi determinado por questões corporativas. »
Eu penso que a questão chave da divergência se encontra aqui.
>O José pensa que o 25 A foi feito pela tropa por questões corporativas.
>Os que se opõe pensam que foi uma conspiração com forças estrangeiras e personagens sombra ligadas ao governo e com a finalidade de entregar o Ultramar.
Eu inclino-me para a ideia do José.
O resto é contexto que existe sempre.
Mas esse contexto pode ter participação directa- instrumentalizando um golpe de Estado, ou não.
No caso não imagino que tenha havido instrumentalização directa da conjura militar.
Depois, sim.
« Significado de Quartelada
s.f. Movimento sedicioso, sem bases sociais, provocado por militares; golpe. »
'vamos deitar isto abaixo, depois logo se vê'
por detrás da quartelada
havia mandatários
Levantamento de rancho é mais castiço...
Pois é
":O))))
O Dragao tem razao o Marcelo foi um fraco (O maio de 1968 fudeu lhe o cerebro--um nescio ) . O Imperio sobreveria YES pla simples razao: O PETROLEO!
Josephvs:
A sua opinião reconforta a minha...
Por milicianos: todos os grandes chefões militares da abrilada eram do quadro permanente.
Quanto à cabalística lenda de uma conjura revolucionária com ultras e esquerdalhada no mesmo saco, é de partir o coco a rir. Mas já agora, vou deitar duas achas para essa infernal fogueira. Sabiam que, ao tempo, o pai do renomado intelectual da tropa Melo Antunes, que conseguira trepar de sargento a oficial, via curso de Águeda,era a segunda figura do Serviço de Informações da Legião Portuguesa? E que o seu chefe era o Engº Andringa, pai da consabida e muito sabida jornalista Diana Andringa? Como vêem não era só o pobre Otelo a dar instrução a velhinhos na Penha de França.
Outra questão, esta do domínio da fé: Acredito que houvesse quem arriscasse a vida por Salazar e por aquilo que ele representava e defendia. Já não garanto que o mesmo acontecesse com Marcello Caetano. Realidades que, em certas circunstâncias, podem alterar por completo o curso da História.
"Acredito que houvesse quem arriscasse a vida por Salazar e por aquilo que ele representava e defendia"
Em 1974? Um nome, por favor! Um só!
"Por milicianos: todos os grandes chefões militares da abrilada eram do quadro permanente."
Pois eram. O que só agrava o resultado.
Porém, os milicianos fizeram a guerra. Queriam voltar a fazê-la? Haveria mais milicianos a eito?
A propósito da duração da Guerra do Ultramar, Salazar recordava que a Guerra da Restauração havia durado vinte e oito anos (1640/1668)…
Era hoje possível o Ultramar como ele existia em 1975? Creio que não, mas se tivéssemos porventura aguentado mais uns anos no terreno, por volta de 1980, com a chegada de Reagan ao poder nos EUA e de Thatcher em Inglaterra, e com a URSS a derrocar fragorosamente, julgo que muita coisa mudaria para melhor para a posição portuguesa.
Nesta medida - e faço agora um pouco de História alternativa - seria então possível o Ultramar ainda existir nos dias que correm, não na forma jurídica de que então se revestia, mas antes como um conjunto de estados independentes (Portugal, Guiné, Angola e Moçambique, talvez Cabo Verde e Timor, possuindo São Tomé e Príncipe, pela sua exiguidade territorial, um estatuto idêntico ao dos Açores e da Madeira), embora unidos num grande “Espaço Lusíada” que porventura dispusesse de políticas de defesa e de negócios estrangeiros comuns, que garantisse total e absoluta igualdade perante a lei a todos os seus cidadãos independentemente da respectiva raça, sexo ou religião (os quais beneficiariam de uma cidadania comum lusíada, para além da sua própria cidadania portuguesa, angolana, moçambicana ou guineense) e que permitisse a livre e completa circulação de pessoas, bens e serviços na integralidade do seu território.
Nestes moldes, não vejo por que razão o Ultramar não poderia ter subsistido e subsistir, sem descolonização e com um milhão de portugueses de origem europeia (e hoje já seriam muitos mais...) a continuar a viver em África. Claro que seria preciso tempo para construir este edifício, mas sem 25 de Abril de 1974, talvez hoje ele até já estivesse concluído…
José Lima:
tem o exemplo da Rodésia, ali ao lado das antigas províncias.
Perdurou alguma coisa da ligação à Inglaterra?
Angola e Moçambique actualmente, em paz e sossego depois de terem por lá tribos que se guerreavam por motivos rácicos?
Acha possível? Unita e Mpla?
Mesmo sem URSS continuariam a existir rivalidades tribais...
Não vale a pena vaticinar sobre futuros alternativos. Não sabemos.
Sabemos apenas que estávamos a aguentar aquilo e que esse sucesso era fruto de uma estratégia cujas circunstâncias determinantes não se alteraram.
Portanto, não havia razão para alterar a estratégia.
Em relação à motivação corporativa, não é explicação suficiente pois não explica o que levou oficiais superiores, com importantíssimas responsabilidades a apadrinhar e chefiar (oficialmente) esse movimento de reivindicação corporativa.
Os oficiais generais não seriam afectados pelo que constituía motivo de agravo para os outros.
Solidariedade? Acredite quem quiser...
Portanto, o que é preciso explicar - e já várias vezes insisti neste aspecto - é o que levou Costa Gomes (e Spínola) a chefiar um movimento cujo sucesso, corporativamente, lhes não traria nenhum benefício, embora pudesse trazer muitos dissabores e aborrecimentos.
Decorrem desta outras questões importantes: em que altura, exactamente, passou Costa Gomes a chefiar esse movimento?
Que dimensão tinha nessa altura precisa?
Que ameaça constituía para a ordem constitucional?
Esse é cerne de toda a questão e é o que permite concluir por uma ou outra.
Qual era o interesse de Costa Gomes?
Outra que deveria apurar-se: que património tinha nessa altura e depois quando morreu? Como e em que circunstâncias o adquiriu?
Costa Gomes é o suspeito-mor em toda esta questão e é, de todos, o menos esmiuçado se o foi de todo...
1º) Como o José sabe, o caso da Rodésia era diverso do Ultramar Português, já que decorria de uma independência unilateral proclamada pela população de origem europeia contra a metrópole britânica (ainda que porventura com muito maior assentimento da população negra do que à primeira vista se costuma supor, pois na Rodésia - recorde-se - nunca vigorou qualquer “apartheid” jurídico): ora, não sendo este o espaço para discutir as vicissitudes do caso rodesiano, sempre direi que a situação da Rodésia terminou como terminou devido à queda do Ultramar Português e à falta de tempo que a partir daí o governo de Ian Smith (abandonado pela comunidade internacional, até pela África de Sul, de B. J. Vorster…) teve para fomentar qualquer política de séria e consolidada de transição, e não apenas para inglês metropolitano ver. Da sorte do Ultramar Português dependia a sorte da Rodésia; se a deste tivesse sido diferente, diferente teria sido também a da Rodésia.
2º) MPLA e UNITA? Pergunto eu: no dia 25 de Abril de 1974, o que eram o MPLA e a UNITA? Existiam no terreno com alguma capacidade bélica minimamente ofensiva? O MPLA existia sequer, independentemente de qualquer capacidade?..
3º) Claro que mesmo sem URSS continuariam a existir rivalidades tribais, mas a Portugal caberia então o direito e o dever de as arbitrar, minimizar e erradicar num quadro de integração lusíada, como, de resto, já então começava a suceder. E, na verdade, se essas rivalidades no passado não impediram nem a presença portuguesa nem a sua obra civilizadora, por que motivo a impediriam num futuro que seria certamente melhor do que aquele que a descolonização apressada feita em cima dos joelhos trouxe às populações ultramarinas?..
Claro que isto são só especulações mais ou menos bem intencionadas: o que aconteceu, bem ou mal, já ninguém o consegue alterar; mas podemos sempre fantasiar o que poderia ter sido e não foi...
Só chamo à colação o caso da Rodésia para provar que nem mesmo se tivéssemos concedido a independência previamente a Angola e Moçambique teríamos sossego e nem esses povos o teriam.
Não é preciso imaginar muito para concluir que os pretos de Angola e Moçambique a partir do momento em que a independência fosse um graal prometido pela comunidade internacional ( como aconteceu com a África do Sul nos anos oitenta e noventa) iriam querer mandar naquilo sem brancos por perto.
E portanto o que sucedeu foi isso mesmo, atabalhoadamente e sem cuidado algum para com os nossos 500 mil cidadãos que lá estavam.
E nisso é preciso pedir responsabilidades a Mário Soares e ALmeida Santos e ao MFA.
José, parabéns pela preciosa informação que, através dos artigos dos diversos jornais da época, aqui vai publicando.
Desculpe, mas estou plenamente d'acordo com tudo quanto escreveu José Lima e particularmente no que diz respeito ao seu comentário das 20.07
Do mesmo modo que concordo com tudo quanto Muja tem escrito sobre uma temática, esta, que nos causou na altura e continua a causar, passadas que são quatro décadas, tanta dor física quanto espiritual.
A génese do povo inglês era/é muito diferente do povo português. Até pela sua ancestralidade no Continente africano, o que já por si o tornaria diferente, o nosso povo não é racista (com as excepções que confirmam a regra) como o é e sempre foi o povo inglês. A Rodésia e os seus problemas que a levaram à independência, aliás verificada, como o José diz e bem, em consequência das lutas independentistas que se iam travando em Angola e, qual rastilho, àquele país propagadas, não tinham nada que ver com os problemas que pudessem ter existido na nossa Província e de facto eles inexistiam. Os que posteriormente vieram a verificar-se foram lá introduzidos por gente exterior àqueles povos e até àquele Continente ou seja, pelos dois internacionalismos ávidos de se apoderarem daqueles territórios e das suas incomensuráveis riquezas, como hoje é perfeitamente lícito afirmar-se, incluindo a instigação ao racismo entre tribos e entre brancos e negros bem como as lutas fratricidas artificialmente fomentadas e despoletadas entre os mesmos. Dividir para reinar... É neste terreno fértil, a que se juntam mil e uma promessas e todas elas vãs (de riqueza, liberdade e prosperidade para todos e para sempre e que jamais serão cumpridas) que foi lançada a semente para que as auto-determinações pudessem germinar. E é pela mão desses elementos comandados à distância pelos internacionalismos e com objectivos bem definidos, que, infiltrando-se e insinuando-se no seio das populações pacíficas e ordeiras, ingénuas e crentes, eles foram ganhando mais e mais adeptos com o decorrer dos anos. Daí às independências dos territórios longamente cobiçados, os nossos e outros, tenha ele sido em África ou noutras partes do mundo onde elas têm vindo a acontecer a um ritmo imparável e aterrador, vai a distância de um pequeno passo.
José, o último parágrafo do seu comentário que antecede este meu, encerra sem mais os nomes dos dois principais culpados e traidores, a que se juntou um MFA igualmente traidor à Pátria, da tragédia sem nome que se abateu sobre o nosso querido País e o seu bom Povo. Duas criaturas verdadeiramente malditas que, como frisa e todos os portugueses de bem concordarão, devem ser responsabilizadas e enquanto ainda vivas, pelo Mal irreparável e imperdoável que diabólica e intencionalmente causaram a Portugal e aos portugueses.
Insisto que havia portugueses capazes de arriscar a vida em defesa dos valores que Salazar defendia e representava. Conheci vários, sou desse tempo e sei de quem falo. Nomes? Para quê, se não eram vedetas da política ou da alta militança? Eram portugueses genuínos. Alguns morreram a combater no Ultramar como voluntários. Milicianos, mesmo.
E em que é que esses valores diferenciavam dos valores que Marcello defendia?
Morreram no Ultramar em nome de que diferença?
Mesmo admitindo que chefes distintos possam invocar valores idênticos, acontece que uns nos arrastam, outros nos deixam indiferentes. Por algo será. Não por demérito dos ditos valores em si, é claro.
Se continuavam a ir para guerra é porque eram arrastados por dever.
Se deixaram de continuar a sentir esse dever, foi por outros motivos e derivam de alteração efectuada no tempo de Salazar e não no de Caetano.
Defende-se uma nação por honra à Nação é por ser "inflamado" pelo chefe.
Isso é para a bola.
"Da sorte do Ultramar Português dependia a sorte da Rodésia; se a deste tivesse sido diferente, diferente teria sido também a da Rodésia."
Aconselho-o a ler o que publiquei aqui há uns dias sobre a Rodésia e que vinha no "pasquim" Observador...
"alteração efectuada no tempo de Salazar"? Explique lá isso que é capaz de ter piada.
"Defende-se uma nação por honra à Nação..."
Significa isso que foi a nação que mudou e não os chefes?
“No dia em que me explicarem o detalhe de terem vindo sem munições eu prometo que repenso a questão.” [Zazie]
Para que queriam eles as munições se não tinham armas e as poucas que havia, a maioria dos homens não as sabia usar?
As principais forças do MFA (no mínimo 80% do total dos homens) eram constituídas por instruendos (futuros aspirantes e furriéis milicianos) com dois ou três meses de “recruta” (menos de metade do curso). Boa parte das unidades envolvidas eram escolas (EPC, EPA, EPI, EPAM) e não quarteis operacionais, pelo que, além de terem um número reduzido de munições, porque só as usavam para instrução, têm poucas armas, a maioria das quais não estão em boas condições de operação.
Recordo, a título de exemplo, que a força comandada por Salgueiro Maia (da EPC), com cerca de 160 homens, à qual (sabe Deus porquê) Marcello se rendeu, saiu de Santarém com um jipe, duas ambulâncias, 12 camiões de transporte de pessoal e 10 veículos blindados, a saber: 4 Chaimites V 200 (para transporte de tropas), 3 Panhard EBR e 3 Panhard AML, uma das quais não funcionava. Basicamente, em caso de confronto, tinham 5 veículos blindados com que poderiam contar (se os soubessem disparar e tivessem munições), mas que seriam pouco úteis em combate urbano.
Mas além da falta de armas, munições e, sobretudo homens dispostos a combater, também faltava combustível e, ao que consta, a água e comida também não abundavam, portanto, as munições até seria o que menos falta faria.
Sim. Foi a sociedade e foram as tropas.
Quem se rendeu a essa força comandada pelo Salgueiro Maia foram outras "forças militares" e não o Marcello.
Renderam ou borregaram, ou fizeram-se ceguinhos, só por coisas.
Confundir o Marcello com os militares que borregaram é o vício de raciocínio de quem não quer admitir o levantamente de rancho.
Foi isso mesmo que sucedeu: quem se rendeu, aderiu ao MFA. Logo. E isso significa levantamento de rancho por mimetismo.
Digam lá que não e apresentem argumentos que gostaria de ler.
Mas deixem o Marcello em paz porque não é para isso chamado.
“Quem se rendeu a essa força comandada pelo Salgueiro Maia foram outras "forças militares" e não o Marcello.” [Zazie]
Para sermos exactos, o Marcello rendeu-se ao Spínola, falta-nos saber se antes ou depois de começar o circo.
Que forças é que se renderam ao Salgueiro Maia, exceptuando meia dúzia de homens (como o Major Pato Anselmo) em nome pessoal?
Antes de se oficializar a rendição de Marcello não ouvi falar de nenhuma rendição na DGS, na GNR, em Lanceiros 2, em nenhuma unidade da Força Aérea, em nenhuma unidade da Marinha. Ou está a escapar-me algo?
“Confundir o Marcello com os militares que borregaram é o vício de raciocínio de quem não quer admitir o levantamento de rancho.”
Não estou a confundir nada. Num “borreganço” colectivo a responsabilidade maior tem de ser atribuída aos líderes. Naquele dia, na “arte” de borregar, três mortais elevaram-se acima dos demais:
Américo Tomaz (porque era o Presidente da República e deveria ter dado ordem para acabar com a palhaçada);
General Luz Cunha [porque era o CEMGFA e nunca se declarou aderente ao MFA, tendo sido afastado do cargo a 28 de Abril. Esteve, de manhã, retido no interior do Ministério do Exército, na Praça do Comércio (seria interessante saber a que horas da madrugada lá se foi (com os restantes) enfiar) e quando saiu, ao deslocar-se para o quartel de Lanceiros 2, deve ter-se dado conta da debilidade dos revoltosos e, após ouvir o Chefe de Estado devia ter autorizado os homens de Lanceiros a neutralizar a força de Salgueiro Maia];
Marcello Caetano [não tanto por ser o chefe do Governo, mas porque insistiu em ficar no Carmo para se render a Spínola, mesmo sabendo que só ele, o MNE, Rui Patrício e o Ministro da Informação, Moreira Baptista, (que tinha “fugido” do Ministério do Exercito, durante a manhã, para ir ter com ele) é que estavam “cercados”, quando tinha duas alternativas: deixar que o esquadrão da GNR neutralizasse a força de Maia (ele justificou o afastamento desta hipótese com o querer evitar derramar sangue) ou sair do Carmo deixando, de novo, os golpistas sem objectivo].
Portanto, independentemente do elevado número de borregos, Marcello fica inevitavelmente associado à maior “borregagem” porque (subitamente possuído pelo espírito de objector de consciência) não percebeu que para neutralizar o golpe nem era preciso disparar um tiro, bastava ter saído do quartel deixando Maia a cercar coisa nenhuma. O golpe militar resume-se à (e consuma-se com a) teimosia de Marcello em se render, o resto são umas centenas de palermas a brincar aos golpes.
Mas se lhe quiser chamar levantamento de rancho, nada a opor. São “vistosos”, mas terminam todos quando a fome aperta. Este, sem a rendição de Marcello, teria o mesmo fim.
Enviar um comentário