sexta-feira, abril 24, 2015

Os marinheiros do neo-realismo fantástico

O jornal Público de hoje traz em anexo os dois volumes fac-similados da revista Orpheu, de 1915.

Um dos textos do primeiro número é "o drama estático em um quadro", O Marinheiro, em onze páginas, escrito por Fernando Pessoa em 1913 e dedicado a João Franco.

Ficam aqui quatro em homenagem aos actuais marinheiros dos sonhos antigos e que surfam diariamente o realismo fantástico da poesia do nosso passado distante.
São uma espécie em vias de extinção e resignam-se à condição,  mas estrebucham quanto podem, mascarando-se de mitologia  para evitarem a realidade circundante.

Tal como Pessoa escreve, "porque é que se morre? Talvez por não sonhar bastante"...
Este marinheiros de agora que sonham os sonhos antigos querem ser imortais, já se vê. E esta singela homenagem é sentida porque não enxergam a ilusão e vivem no sonho perene da poesia distante, tomando-a como lema  e bússola de ideias fixas.




E estes sonhos de agora têm forma de alguma realidade passada? Talvez se reatarmos os símbolos...consigamos vislumbrar a sombra do que sonham.


39 comentários:

zazie disse...

Lembrei-me do "Sobre o rigor da Ciência" do Borges.

dragão disse...

Finalmente, imagens de jeito.

O termo "neo-realismo" é que está completamente desajustado. Alguém que te explique.

josé disse...

Neo-realismo fantástico. A expressão é assim.

O fantástico não está lá por acaso.

Quanto ao texto é preciso clicar nas imagem, abrir outra janela e ampliar para ler melhor.

josé disse...

Nós já tivemos uma Hollywood...e tal como a real era tudo em cenários. Simulacros de paisagens, pessoas e coisas.

Símbolos? Nem isso.

dragão disse...

«O fantástico não está lá por acaso.»

Pois, acredito. O neo-realismo é que está.

De resto, eu agradeço e tomo tudo isto como laudatório.

Só o "nós" é que me parece, mais uma vez, abusivo. Não sendo decerto majestático, aproveito para declarar, sobretudo para efeitos fiscais, que, da parte que me toca, não tive, não tenho nem tenciono ter Hollywood (nem Bollywood) nenhuma em tempo algum. Mais certifico que não fumo, a não ser em locais públicos e apenas no legítimo intuito de chatear as autoridades e respectivos acólitos.

Floribundus disse...

as exposições e cortejos do fascismo era de facto tanto quanto possível realistas.

o mesmo acontecia com os filmes

actualmente existe apenas ambiente virtual desfocado, irreal, computorizado, com algo de frankestein

na melhor das hipóteses o outro lado do espelho

nunca tive sonhos

vivi de projectos
que aprendi no tempo do fascismo, quando a escola era local de ensino

nunca aceitaria soluções do tipo Romeu e Julieta
não faltam sucedâneos

não me agrada a expressão neo-qualquer coisa, porque nada se repete como dizia Eráclito

josé disse...

Eu percebo que não queiras associar o neo-realismo ao fantástico.

Mas é isso mesmo que acontece: anos 40, antifassismo, Redol. Neo-realismo

Agora é isso mas ssociado ao fassismo, anos 40, Dragãozito.
Fantástico.

Tudo misturado dá o resultado.

Zephyrus disse...

O «sangue» e a ligação telúrica falam mais alto.

O cigano está por cá há séculos e a mistura é pouca, mais até por resistência do cigano.

O Zulu é muito diferente do etíope e este do negro do Congo.

O branco estende a mão ao «outro» mas por sua vez estará o «outro» disposto a virar a face ao branco?

Não conheço redes de escravatura em massa na Europa nos últimos 1500 anos. Mas mesmo hoje em dia existem em África, negros a escravizar negros.

Se tratam assim os da mesma raça, que fariam aos brancos?

Zephyrus disse...

Pela genética parece que algo sucedeu àqueles que viviam na Europa antes de chegar o homem indo-europeu.

De onde vieram os indo-europeus? Não se sabe ao certo. Afeganistão, Pérsia, Cazaquistão, há várias hipóteses.

Há quem diga que ao chegar à Europa, exterminaram a(s) outra(s) raça(s) que por cá havia. Depois estabeleceram-se.

Zephyrus disse...

Os EUA fizeram connosco o que estão a fazer agora com a Síria.

Era dizer adeus pois o povo por cá não compreendia os sonhos das miscigenações e do Quinto Império.

As mães de Portugal não queriam os filhos em África. E como diz e bem o Professor Arroja, Portugal é uma figura de mulher.

josé disse...

"As mães de Portugal não queriam os filhos em África."

Isso pode ser verdade, mas ao mesmo tempo não se importavam tanto de os ter em França, Alemanha e EUA.

zazie disse...

Isso vale o que vale e para todas as guerras.

Não é por aí.

Agora há uma questão muito forte que em todas as guerras se pode pensar:

Se há estratégias políticas que podem permitir reviravoltas como justificar o sentido do sacrifício sem ser com o mito?

É que ir morrer num dia por um motivo e no dia seguinte esse motivo afinal já não estar na ordem do dia é um tanto complicado.

Ou seja- como prolongar uma guerra que se sabia que era para pactuar mais cedo ou mais tarde?

Eu entendo a ida para Angola e em força depois dos massacres.

Nem se trata de uma ideia mas de uma defesa a ataque.

Agora prolongar indefinidamente algo tendo em vista negociar é mais complicado.

zazie disse...

Quanto à Exposição do Mundo Português foi um momento ímpar de arquitectura.

E foi propaganda para o mundo em guerra.

Fez sentido na altura.

josé disse...

Por acaso não sei bem o sentido de tal empreendimento.

A ideia era peregrina e gostaria de saber quem a iniciou.

Não foram os republiquetas jacobinos de 1910...

josé disse...

Retomou-se em 1940 uma ideia "nacionalista" exacerbada.

Ora isso é uma ideia vinda de outros lados...

Vou tentar perceber, mas antes vou já atacar a raiz do problema.

josé disse...

Houve uma espécie de renascimento de mitos antigos que não tinham expressão nos séculos transactos.

Eça de Queirós ou Camilo não falam nisso.

josé disse...

Essa ideia de renascimento de mitos tem que se lhe diga.

zazie disse...

Pois pesquise que também me interessa.

O momento mais antigo, que me recordo, foi no reinado de D. Manuel.

zazie disse...

De todo o modo, o patriotismo monárquico também não é um absoluto como muitas vezes se diz.

A monarquia consiste sempre em alianças de casas por casamentos.

A república é que é uma ideia estapafúrdia com a mania de criar tudo de novo.

zazie disse...

A ideia de Nação é romântica e acaba por se ligar ao Estado por via republicana e não pela tradição monárquica.

josé disse...

A monarquia é um atraso de vida. Um anacronismo.


Quando me lembro do fantástico príncipe d. Miguel de Bragança...até tremo.

zazie disse...

ehehehe

zazie disse...

As monarquias que se mantiveram servem de símbolo. São um adereço que lá tem o seu sentido.

Entende-se isso em Inglaterra, por exemplo.

Mas aquilo já nem é monarquia. As últimas ideias de monarquia foram mais imperiais e republicanas que outra coisa.

E indo buscar o mito a Roma.
Aconteceu isso no Brasil, por exemplo.

josé disse...

A monarquia inglesa é uma desgraça. Total e sem remissão.

josé disse...

As outras, incluindo a espanhola são adereços para evitar eleições presidenciais.

Maria disse...

Por amor de Deus, José, se esta extraordinária Exposição, elogiada no mundo inteiro, Obra de folgo e de uma profunda beleza estética e de forma, trabalho arquitectónico fabuloso levado a efeito pelos melhores dentre os melhores da época e da qual, mesmo a esta distância, nos devemos orgulhar imensamente como portugueses de Lei, então não sei o que lhe devamos chamar...

Aos meus Pais, novos na altura, tinham-se casado dois antes, ouvimo-los décadas mais tarde falar maravilhosamente bem dela. Porém nós, filhos, sendo então muito miúdos, não lhes prestámos grande atenção. Pena tenho eu de, décadas mais tarde e já adulta, não lhes ter pedido para nos traçarem um panorama geral da que foi efectivamente e a que podemos designar sem receio d'errar, a maior expressão artística, reveladora de um patriotismo genuíno e sem pretensões a ser mais do que isso, realizada durante o Estado Novo e que tanto orgulhou os portugueses. E atrever-me-ia mesmo a acrescentar, numa apreciação
meramente pessoal, ter sido a maior, mais prestigiada e mais bem conseguida Obra Pública, com projecção internacional, realizada nos últimos duzentos anos em Portugal.

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Estou para enviar um comentário a propósito do seu tema anterior (era para ter seguido ontem mas fez-se tarde), que espero venha a ter a aceitação de sempre e seja lido com a objectividade requerida, a mesma que eu lhe quis imprimir e as minhas palavras traduzem, estas escritas com o coração nas mãos como é minha prática habitual.

zazie disse...

À falta de indústrias e tecnologias, nós tínhamos o Império para mostrar.

muja disse...

Oh, até parece que os ingleses não fazem coisa semelhante...

Pelo amor de Deus... A diferença é que o fazem há tanto tempo e tão frequentemente que toda a gente acha normal.

Basta ver a televisão deles. Não um dia, um dia só, em que não haja um documentário de semelhante nacionalismo exacerbado - que só o é quando o fazem os portugueses...

zazie disse...

Foi o que eu disse.

Fizeram primeiro eles, depois os franceses, depois foi na América.

e eram todas mostras de técnicas e indústrias.

Quando calhou a nossa, tínhamos um Impériozinho em miniatura para mostrar.

Faltou-nos o resto- a tal tecnologia e indústria que mais tarde passou para a FIL.

Pergunta:

Até 1940 que tipo de Exposição Mundial existiu do teor da nossa?

zazie disse...

Pode-se é fazer uma pergunta macaca- o atraso industrial e tecnológico era ou não era compensado pelo "Império"?

josé disse...

Mas...quem é que aqui está contra o Nacionalismo?

Eu estou é contra o Nacionalismo bacoco. Esse mesmo que se mostra nos Mitos se o desgarrarem da época em que foi produzido.

Nos anos 40 foi fantástico, esteticamente, mas chega. Ficaram as pedras, os livros, imagens e os símbolos que são apenas a poesia do tempo.

E isso basta. Não é preciso repristinar a História pregressa como se estivéssemos a reviver essa nostalgia.

josé disse...

E com o Salazar é a mesmíssima coisa.

Salazar, hoje, não se reconheceria nos salazaristas.

josé disse...

Nós não precisamos de outro Salazar para coisa nenhuma.

Precisamos é de quem tenha conhecido bem Salazar e seja capaz de pensar naquilo que fez de bom, para voltar a fazer nos dias de hoje, se tal for possível.

Por isso é que pergunto se o corporativismo seria possível...
E a minha pergunta não quer dizer não. Quer apenas ser isso: pergunta.

zazie disse...

Claro que foi fantástico.

Também me farto de dizer que artisticamente nunca mais tivemos nada de semelhante.

Não tenho a menor vergonha nem gozo com a Exposição do Mundo Português.

Mas nem tudo vive de reactivas.

também importa saber o que foi ela, em comparação com as outras- com as que começaram no Palácio de Cristal em Londres.

Eram todas exposições de indústrias.

A nossa calhou em tempo de guerra e teve um efeito de propaganda.

Mas essa propaganda mítica nem nos anos 60 fazia já sentido.
Muito menos querer mantê-la numa redoma fora do tempo.

josé disse...

A Censura foi a maior estupidez e erro de Salazar.

E isso não tenho medo nenhum de o afirmar.

zazie disse...

Nem de outro Salazar, nem de reizinho para resolver tudo, nem de escudo para ficarmos novamente "orgolhosamente sós", nem de reviralho algum para restituir esse mito que mantêm na redoma da fantasia.

zazie disse...

A censura também criou mitos e deu alimento a muito do presente.

O poleiro está cheio de heróis anti-facistas.

Maria disse...

"E isso basta. Não é preciso repristinar a História pregressa como se estivéssemos a reviver essa nostalgia. Nós não precisamos de outro Salazar para coisa nenhuma.
Precisamos é de quem tenha conhecido bem Salazar e seja capaz de pensar naquilo que fez de bom, para voltar a fazer nos dias de hoje, se tal for possível." (José)

José, estarei a ver mal ou nestas suas duas afirmações contradiz-se um bocadinho?
Mas então se não precisamos de outro Salazar (poque Salazar só houve um) e de facto não o podemos ir buscar nem sequer algum filho, neto ou afilhado, porque o primeiro já nos deixou há muito tempo e os outros sinplesmente inexistem. E, repare, muito do que Salazar deixou como doutrina tanto política como económica para demonstrar ao mundo, sim, ao mundo de então, o que na sua visão de Estadista sagaz, inteligente, conhecedor profundo do seu País e do Povo, era o método óptimo de ou para governar uma Nação, além de outros ensinamentos extraordinários de natureza cívica e moral - e este é um facto comprovado que ninguém pode negar (excepto a esquerda, da moderada à extrema, invejosa, traidora apátrida) - os quais seriam muito bem-vindos nos tempos actuais, para não dizer nas últimas décadas que temos vindo a atravessar.
Já no seu outro parágrafo, concorda que seria bom que aparecesse alguém conhecedor das qualidades que Salazar possuía e citando-o:

"Precisamos é de alguém que tenha conhecido bem Salazar e seja capaz de pensar naquilo que fez de bom, para voltar a fazer nos dias de hoje..."

Com o devido respeito, José, então em que ficamos?
Afinal Salazar, apesar dos seus defeitos (todos nós os temos e ele não poderia ser a excepção), foi ou não foi um Governante competentíssimo, além de polìticamente sério e íntegro até ao mais ínfimo pormenor - incomparável com os pulhas que tomaram d'assalto o poder em 25/4 e onde se têm mantido, com as excepções que confirmam a regra, até aos dias de hoje à custa de mentiras monstras e corrupções gigantescas e de traições imperdoáveis - defensor acérrimo da independência do seu País e do Povo, tendo sido intransigente toda a sua vida com quem, independentemente do país (e/ou seitas que efectivamente os governam) a tentasse subverter, inflexível quanto à alteração da ordem e dos costumes, tudo isto de resto demonstrado à saciedade enquanto permaneceu à frente dos destinos do País, tendo sido por diversas vezes elogiado em todas estas áreas governativas por vários dirigentes mundiais dignos, assim como por intelectuais estrangeiros insuspeitos. Vistas as coisas a esta distância e colocando-as no seu devido lugar, podemos concluir sem margem para qualquer dúvida serem estas afinal as premissas ideais para bem governar um país, o nosso País. Como de facto foi.
(cont.)

Maria disse...

(conclusão)

Deixemos a questão da censura de parte (apesar de tudo não tão férrea assim, contudo a necessária naqueles tempos, como mais tarde se veio a comprovar dramàticamente para o País após a sua suspenção), pois que, como o José tem frisado frequentemente e bem e hoje/ontem publicou um exemplo paradigmático, afinal ela não era tão rigorosa como se propagava. Na União Soviética e países sob a sua alçada aí sim, é que ela era a doer e de que maneira, os russos ainda vivos podem bem testemunhá-lo. Mas esta realidade os comunistas têm-na vindo a esconder desde sempre e eles lá saberão porquê. Muita literatura comunista, supostamente proibida pelo Estado Novo, era não obstante vendida livremente e adquirida por quem o quisesse fazer. As que não se encontravam à venda em Portugal, para possuí-las bastava ir-se ao estrangeiro.

E, mesmo a propósito, contràriamente ao que continuam a propalar ainda no presente os hipócritas comunistas e seus primos-irmãos socialistas, a verdade verdadinha é que durante o anterior regime toda a gente que o quisesse podia sair e entrar no País sem o mínimo problema - já no paraíso soviético e seus satélites, ninguém, fosse ou não contra o regime, o podia fazer e quanto à censura, aí sim, era total e absoluta e verdadeiramente a doer para quem a furasse, no mínimo o seu destino imediato era o Gulag, quando não a pura e simples elimiação física - só não o podia fazer quem conspirasse contra a Pátria ou atentasse contra o Regime. E ainda bem que assim foi enquanto essa política restritiva perdurou, tendo em consequência sido possível, durante todo o consulado de Salazar, manter a nossa total segurança e em simultâneo uma completa e permanente ausência de violência e/ou perturbação públicas em todo o território nacional. Pena que tal só tenha sucedido enquanto Salazar governou.

Pode-se perfeitamente imaginar a tragédia que nos teria acontecido como País e Povo, caso estes pulhas tivessem obtido permissão, durante os seus governos, de entrar e sair de Portugal a seu bel-prazer... Infelizmente o mesmo não veio a acontecer com Marcello Caetano no poder, que neste particular pecou por baixar as defesas do regime deixando-os regressar ao País (sem os conservar debaixo d'olho, tendo em conta o seu passado traidor) para então já livres que nem passarinhos e, afastada a 'repressão fascista', puderem conspirar alegre e perfeitamente à-vontade, como de resto o fizeram com sobras. O resultado de tão funesta decisão têmo-la vindo a sentir na pele e de que maneira desde há quatro décadas.

Ainda uma nota final (aproveitando a oportuna deixa de José) para a actual e inquaificável brigada do reumático, esta, sim, que o é com todas as letras e vergonhosa e descaradamente continua a arrotar postas de pescada com a democracia e a liberdade na ponta da língua e a mentir alarvemente sobre o regime anterior, quando pelo menos um dos que nela participou, o poeta Alegre (faltando naquele cínico debate sobre o golpe de Estado traidor, dois ou tês pulhas dos ainda vivos e desgraçadamente muito nossos conhecidos, para completar o quadro negro do que de mais baixo a raça humana foi capaz de produzir), que foi um dos principais responsáveis pela mais Alta Traição à Pátria alguma vez cometida no nosso País nos seus quase 900 anos que leva de História e do subsequente genocídio por ela originado em territórios portugueses de África. Crimes monstruosos e sem perdão, estes, a exigirem penas máximas de prisão e que escandalosa e inacreditàvelmente continuam impunes.