O novo relatório oficial e independente sobre os incêndios de Junho na zona de Pedrógão Grande foi entregue esta segunda-feira à tarde no Ministério da Administração Interna — e não poupa ninguém. O documento, coordenado por Xavier Viegas, do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, aponta o dedo à Protecção Civil, aos bombeiros, ao INEM, à EDP, à Ascendi, às autarquias e a proprietários privados.
O Expresso, que teve acesso ao relatório, cita um excerto: “Estamos convencidos de que se poderiam ter evitado algumas mortes e muito sofrimento aos feridos se este socorro tivesse sido mais pronto e melhor organizado“.
Primeiro, a Protecção Civil e os bombeiros: de acordo com o estudo, que aconselha um “grande cuidado na selecção dos quadros de Comando” de ambas as estruturas, tal como uma “melhor qualificação” dos agentes que no terreno asseguram prevenção e combate aos fogos, houve falhas graves de coordenação. E também de compreensão, por parte de toda a cadeia de decisão, daquilo com que se estava a lidar.
Diz o documento, ao longo de quase 250 páginas, que foi a falta de “percepção da importância deste incêndio” que fez com que “não fossem utilizados mais recursos, nomeadamente mais meios aéreos pesados, no seu combate, no período entre as 15h00 e as 18h00”. Conclusão: “A reacção ao agravamento da situação foi claramente tardia”. E o pior ainda estava por vir, a que não foram também alheias as sistemáticas falhas nas redes de comunicação. Sim, admite o relatório, houve “uma falha geral em toda a região, quer por limitações inerentes aos sistemas, (…) quer por sobrecarga de utilizadores, ou ainda por deficiente utilização de alguns dos sistemas”. Mas no final a história poderia ter sido outra, ou não tivesse o problema sido “agravado pela indisponibilidade de meios complementares devido à falta de planeamento.”
A coordenação das operações, que incluía o socorro às vítimas e o combate ao incêndio, foi claramente afectada, após as 22h00, quando se tomou conhecimento da existência de um grande número de vítimas mortais (…) Não foi prejudicado apenas o combate, como também o socorro às vítimas feridas. Não foi feita uma operação de busca e salvamento em larga escala – em condições muito difíceis – de ir junto dos feridos para os retirar para locais onde pudessem ser tratados”, acusa o relatório, citado pelo Expresso.Em declarações aos jornalistas, depois de entregar o relatório no MAI , Domingos Xavier Viegas, apontou algumas das causas que contribuíram para a catástrofe. À cabeça, o facto de o incêndio ter deflagrado graças a “uma linha eléctrica mal mantida”, responsabilidade da EDP.
No documento, a causa do incêndio é assim identificada: “deficiente gestão de combustíveis na faixa de protecção da linha, por parte da entidade gestora”. À Ascendi, concessionária da Estrada Nacional 236-1, onde foram encontradas grande parte das vítimas mortais, também são apontadas responsabilidades: a “falta de limpeza da envolvente das estradas permitiu que muitas pessoas fossem colhidas em plena fuga, pelo fumo e radiação do incêndio, pelas chamas da vegetação em redor e mesmo por árvores caídas na própria estrada”.
A partir do momento em que o incêndio deflagrou, garantiu Domingos Xavier Viegas aos jornalistas, tudo ou quase tudo falhou: “A percepção da gravidade do incêndio desde o início, o ataque inicial ao fogo, e a disposição de meios”. Depois, a trovoada que se fez sentir e a propagação que se seguiu tornou o incêndio “verdadeiramente incontrolável”.
O responsável apontou directamente o dedo aos autarcas da região por não terem “planos municipais de prevenção activos”, o que contribuiu para a falta de planeamento destes cenários.
“Há muita coisa que tem de ser feita. O país é vulnerável. É preciso uma melhor governação dos espaços rurais, um melhor ordenamento das florestas, uma maior sensibilidade das pessoas na utilização do fogo e uma boa qualificação dos recursos humanos”, concluiu Xavier Viegas, apontando como prioritária a profissionalização dos bombeiros.
No relatório entregue esta segunda-feira no MAI, os especialistas condenaram ainda a política de evacuações “compulsivas e generalizadas”, garantindo que só os cidadão inaptos (leia-se crianças, idosas e doentes) é que devem ser retirados dos locais de incêndio, devendo todos os demais ficar e ajudar a defender os respectivos bens. Outra conclusão: a prestação de apoio psicológico e socorro médico e hospitalar teve “deficiências que importa estudar melhor”, sendo evidente que a situação do país na prestação de socorro a doentes queimados graves é “ainda insuficiente para acidentes desta escala”.
No total, os especialistas do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra fixaram em 65 o número de vítimas mortais resultantes destes incêndios.
O melhor é fecharem para balanço. E nunca mais aparecerem nas tv´s. As mais de 100 mortes são-lhes imputáveis.
8 comentários:
Afinal este governo já conseguiu chamar os mortos e os feridos e os que perderam tudo de piegas.
Diz que são pouco resilientes. . .
E ainda não quebraram o segredo de justiça dos mortos, nesta última churrascada geral? Ou ficamos só pelas chamussas?
antónio das mortes
é um novo 44 no que respeita a apoios e a estar sempre certo
vexa não é um burgesso
possui esmerada educação
nenhum outro pm o igualou
a culpa morreu nos cuidados intenssivos
Linha eléctrica mal mantida? Então não foi a) uma trovoada seca; b) também julgo ter lido, origem criminosa? Hmmm… não gosto muito destas incoerências. O que faz deste relatório, algo definitivo?
Quanto ao Costa, é bom relembrar quantas vezes forem necessárias, que apesar de agora manter uma distância higiénica, foi o número 2 do 44, o mesmo que andava a banhos no Quénia quando o país ardia desta forma idêntica ou pior. E nunca viu nada, coitado. Nem aprendeu nada o palerma.
Diz o Henrique Pereira dos Santos "O que me traz é constatar que as conclusões a que cheguei não são de quem alguma vez esteve no inner circle de Sócrates, mas de quem, embora tendo tido alguma proximidade funcional a Sócrates" (Corta fitas).
E outra coisa do relatório… profissionalização dos bombeiros? Ok. E o exemplo espanhol? Com o exército com meios sérios, treino e conhecimento para combater incêndios de forma eficaz, ao ponto de atravessarem a fronteira para ajudar cá? Não são profissionais esses?
Na Califórnia onde ardeu e arde uma área incontável, há menos mortos. Os meios a coordenar são da ordem das centenas de veículos, mais de 70 aviões, milhares de bombeiros, alguns verdadeiras forças especiais, largados de paraquedas para tentar debelar os focos enquanto é possível, um trabalho perigosíssimo… até os reclusos treinam para combater as chamas como forma de reintegração (a ganhar $2 por dia, ou $1 por hora!). Será preciso reinventar tudo? Nunca foi por falta de relatórios que neste país não se faz nada. Aliás, relatórios é o que o PS quer, neste teve azar, mas o efeito vai ser nulo.
Sim, a "profissionalização" levanta algumas questões: implica uma responsabilização, também? E o que farão os profissionais durante a "época baixa"?
A GNR tem sapadores florestais que é o necessário. Não se entende porque não pode o Exército ter uma ou duas companhias com essa capacidade... Deve ser por demasiado barato...
Já lá vai o tempo dos magalas bisonhos mas baratos!
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