O jornal Correio da Manhã faz hoje 40 anos e publicou uma edição especial, na verdade um caderno a mais, no jornal, para comemorar.
Os fundadores foram estes que dizem agora terem sido "duros aqueles anos". Traduzindo: tinham pouco rendimento para a despesa. E devem ter pensado em receitas para a aumentar. Lá iremos...
A edição especial foi recolher a opinião de alguns notáveis da praça pública, incluindo como não poderia deixar de ser, o actual PR, mai-los anteriores, vivos e alguns outros que prestam testemunho abonatório sobre o jornal.
O editorial a preceito é este e começa com a correcção política da época: "cara leitora, caro leitor"...e continua por ali fora a proclamar humildade, assegurando que os valores fundacionais continuam os mesmos. Entre eles, o da simplicidade no tratamento dos temas mais complexos. Como se isso fosse possível em muitos casos e principalmente como se os jornalistas que por lá passaram e andam fossem de competência a toda a prova para tal tarefa. Humildade, portanto...no modo como atabalhoam certos temas ( judiciários, principalmente) e entregam ao leitor gato por lebre em boa parte das situações deste teor.
A última é sobre o juiz Neto de Moura, mas há mais.
O CM defende o dever de informar e de dar aos cidadãos o direito à informação. Poderia perguntar-se que informação e de que modo.
Quanto ao "que informação", vale tudo. Tal como o motto do New York Times, "tudo o que vem à rede, é peixe". Mesmo que seja carapau de gato ou sardinha moída. Dá-se-lhe uma pincelada no título e fica vivinha da costa. Um abanão de sensação e fica pronta a engolir sem espinhas.
É esta a ética verdadeira do jornal: o sensacionalismo para vender papel. Obter lucros, rendimento para a empresa. Tudo o que possam dizer e dizem no editorial é treta útil para compor o ramalhete do agradável que são os lucros ao fim do ano.
A prova disso mesmo reside na actual novela sobre o caso Rosa Grilo, uma despudorada e obscena exploração do sensacionalismo que passa pela violação sistemática do segredo de justiça, da privacidade de pessoas que ainda nem foram julgadas mas já estão condenadas e com violação da ética jornalística mais flagrante. A colaboração criminosa de alguns agentes da PJ é evidente e ninguém se incomoda porque a tal Rosa Grilo é uma desgraçada, seja ou não culpada. Não tem poder algum, é apenas carne para este canhão que são as vendas do jornal e a prosperidade do grupo Cofina. O interesse público neste caso é nulo e só é alardeado pelo jornal como justificação defeituosa de uma ética que ainda o é mais.
Dizer que estas imagens e notícia de hoje no jornal, é um nojo, é pouco. É uma miséria moral. Um reflexo de uma ausência de princípios. Um vazio ético.
Portanto, basta este pequeno exemplo para arrasar, um verbo de "pente fino", da jornalista que o pratica, toda a ética proclamada do Correio da Manhã e agora da sua extensão em video, o CMTV.
Na comemoração da efeméride mostram-se 40 capas de aniversário, tantas como o número de anos do jornal:
Vê-se aqui nestes títulos a "bold" alguma notícia exclusiva, que dê ao leitor a satisfação daquele "direito à informação"? Duvido. Vê-se de facto uma caterva de títulos que procuram chamar a atenção do leitor passante que compre o jornal pela sensação de poder ler algo apelativo.
Vê-se aquilo que Pedro Tadeu, o antigo director de outro tablóide concorrente, 24H que já se finou( fundado também por aquele José Rocha Vieira que também fundou e dirigiu outro pasquim do género, Tal&Qual, o precursor destes media de sensação permanente), dizia sobre os propósitos do pasquim: vender notícias sobre famosos, dinheiro e crime. Coisas que o mesmo assegurava não ler se fosse apenas leitor. Mas fazia tudo para outros lerem...apesar de ter falhado no propósito, por incompetência, naturalmente.
O que sobra então de positivo neste jornal? Para mim, o ser um repositório de acontecimentos dos dias que passam. Um registo histórico de desgraças, infortúnios e misérias humanas e sociais. Sem grande propensão para enviesamento político ou de seita. Ma non troppo...porque as causas politicamente correctas tem lá nicho certo e seguro. E sem grandes erros factuais, para além dos apontados. Não tem muitas notícias falsas mas tem uma esmagadora maioria de notícias inúteis e com tempo de vida curtíssimo. Menos que uma mosca.
Umas perguntas finais em tom de balanço: Portugal está melhor com o Correio da Manhã e por causa dele? Nem por isso. Se não existisse o jornal alguém sentiria a sua falta? Nem por isso. A diferença que terá feito nestes últimos 40 anos foi para bem da sociedade, ajudou a melhorar a mesma? Não tenho a certeza. Por exemplo, o caso Sócrates seria o mesmo sem o Correio da Manhã? Acho que sim.
Tenho para mim que o jornal Correio da Manhã tem tanto valor quanto tinha o defunto 24H, ou seja, muito pouco.
É um jornal do efémero e destinado a reciclagem de papel na maior parte das vezes. Mas continuo a comprar assiduamente porque além das notícias tem outras coisas como pequenas crónicas e relatos de algumas coisas que me interessam, com fotos e tudo.
O Correio da Manhã é um jornal "que se prova, mastiga e deita fora, sem demora", como cantavam os Taxi, um grupo musical do Porto que apareceu ao mesmo tempo que o jornal...em 1979.
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