sexta-feira, março 15, 2019

Morreu Augusto Cid, o nosso maior cartoonista contemporêneo

Augusto Cid foi um desenhador de pequenos apontamentos de humor que por vezes valia editoriais.

Foi assim que o jornal Independente o escreveu no último número em que se publicou, 1 de Setembro de 2006:


Lembro-me de começar a ver esses desenhos, pequenas vinhetas e depois ilustrações de página, na antiga revista Observador que começara a publicação em Fevereiro de 1971 e durou até aos primeiros meses de 1974, cerca de 160 números depois. Foi aí, num desses últimos números que apareceu  a polémica entre os capitães e generais a propósito de uma lei sobre vencimentos que espoletou o golpe do 25 de Abril de 1974. Um dia publico.

O primeiro desenho que vi, de Cid, nessa revista foi este, no número de 18 de Agosto de 1972  com capa dedicada à música pop. O desenho mostrava o assunto do momento, o duelo Boris Spassky-Bobby Fisher, no campeonato do mundo de xadrez que decorria nesse mês.

Esse primeiro desenho ilustrava a rubrica Coisas da Vida, assinada por Zeca Viloso e que costumava ser ilustrada por Duarte, aliás um bom desenhador. Ao contrário do desenhador principal da revista, Quito, cujo talento ficava a léguas de Cid.


Antes disso tinha visto ilustrações de Cid na mesma revista em publicidades à TAP. Por exemplo no número de 14 de Maio de 1971.


Estas publicidades apareciam também em jornais mas o Observador tornou-se o lugar de publicação das ilustrações de Cid, nessa época.

9 de Setembro de 1972, já a cores, aguarelada e um estilo inconfundível e sólido, de traço seguro:


Em  29.12.1972:


7.9.1973:


9.11.1973:


E por fim, em 15 de Fevereiro de 1974, num dos últimos números da revista, uma alusão às desventuras de Nixon no caso Watergate ( nº 157)


Depois de 1974 Cid passou a desenhar no O Diabo, semanário saído em Fevereiro de 1976. No nº2 desse semanário, de 17 de Fevereiro de 1972,  a ilustração era esta:


O jornal, porém, não tardou a ser proibido pela censura democrática ( precisamente por causa do artigo "o senhor gomes de chaves", referido ao então p.r. Costa Gomes) , obrigando a mudar de nome. Passou a chamar-se Sol, durante alguns números e Cid colaborou desde o primeiro número, de 9.3.1976, logo com três cartoons:

Uma imagem do primeiro número de O Sol que julgo ser um cromo difícil de encontrar hoje em dia:







Esses tempos de PREC foram depois reunidos num livro editado pela Verbo em 1977:


O jornal O Diabo, em 2 de Outubro de 2012 prestou uma homenagem de três páginas ao desenhador, quando o mesmo se reformou.  Mesmo assim queria ainda "bater  no Borges", o economista-mor do PSD de Passos Coelho e que pouco depois morreu de cancro. Devia ser por causa dos "cortes nas pensões" que Cid lhe queria bater...
Assim ( um desenho como aquele do Machel, hoje seria proibido e alvo de queixa-crime...):


Antes disso, e de "bater no Borges" bateu naquele que foi o principal causador de tal desejo e recolheu o assunto em livro, de 2009, da editora Guerra e Paz:


No final dos anos oitenta, Cid colaborava activamente no Independente, como acima se dá conta, na rubrica CãoTraste.

Muitas das últimas caricaturas e cartoons foram publicadas no semanário Sol, último poiso do desenhador, antes de se reformar.

Sol de 31.12.2009, um Pinto Monteiro que foi várias vezes caricaturado:


26.2.2010:


Agora, para finalizar repare-se na penúria informativa destes dois obituários. Foram recolher informação a um desenhador, Luís Afonso, tecnicamente sofrível e que só se lembra de acompanhar a obra de Cid, "desde miúdo", mas pouco ou nada informa.

 Público:



E outro do Correio da Manhã:


Um jornal diz que morreu com 77 anos; o outro, com 78. É este o rigor informativo, em Portugal. Para falar de um cartoonista salientam o lado político...e fica tudo dito de mais esta miséria jornalística.
É verdade que Cid publicou um livro sobre o caso de Camarate, logo em 1987 e dedicou muito esforço e tempo ao assunto. Mas isso é um pormenor na carreira artística deste grande ilustrador português. Tão grande como os maiores americanos ou franceses.



Talvez amanhã o Sol tenha a hombridade de lhe fazer uma homenagem decente. E o Diabo na semana que vem porque hoje nada traz.

Veremos.

E já vi. O SOl faz uma bonita homenagem, por José Cabrita Saraiva, embora muito insuficiente. Esperava mais.


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