quarta-feira, fevereiro 11, 2009

O medo da verdade

Edmundo Pedro, o histórico do PS que Manuel Alegre colocou na presidência da RTP, em 1977-78, tem andado nas bocas políticas, ultimamente, por ter dito que há medo no PS.

Hoje, no programa da SIC-Notícias, Dia D, declarou à entrevistadora Ana Lourenço que conhece bem o tipo de campanhas que assola o actual PM, porque já foi vítima de uma, desse género. E era inocente e foi injustiçado e até hoje ainda não limpou a imagem.

De facto, parece que não.
Edmundo Pedro, anda há muitos anos com a sombra de contrabandista atrás da figura. Já por duas vezes, na tv, tentou afastar a sombra perniciosa, mas sem grande sucesso.
Porquê, esta sombra? Terá razão de ser?

Edmundo Pedro, em Janeiro de 1978 era presidente da RTP e foi preso pela PJ, em 12 de Janeiro de 1978, por causa de ter sido apanhado com 33 espingardas G3 que lhe tinham sido entregues em 25 de Novembro de 1975.
Segundo hoje declarou e já tinha declarado antes, as armas foram-lhe entregues por Ramalho Eanes ( outro que estes dias se manifestou sobre o medo), para a eventualidade de uma guerra civil com as facções da extrema-esquerda que tinham tomado conta da rua, durante o PREC, com apoio velado do PCP.
Muitos dos elementos dessa extrema-esquerda que na altura, seriam alvo dessas G3, andam por aí, feitos pigmeus, a papaguear os novos slogans.

Ainda assim, O Jornal de 13.1.1978, conta a história das G3 e também do contrabando de electrodomésticos de que Edmundo Pedro era suspeito. Por motivos que se podem ler, clicando nas imagens. Era o Expresso e era a sociedade de então, de Lisboa, a falar à boca cheia. E até um certo cronista da Gente, um tal MRS, escrevia e gozava com o assunto. É bom lembrar estas coisas, a quem parece esquecido. E não é por causa da idade.
O artigo de O Jornal não está assinado, portanto é da responsabilidade da direcção do jornal, na altura, de José Carlos de Vasconcelos. Anda por aí. Dirige o Jornal de Letras. De vez em quando vai à televisão. Porque não lhe perguntam porque escreveu o que escreveu? Porque não lhe perguntam se o jornalismo de então, assim escrito, era também de "campanha negra"?
Custa assim tanto, um telefonema?






10 comentários:

Joana Lopes disse...

Porque vi que linkou um dos meus blogues: encontrará aqui informação compementar e mais recente sobre os temas que aborda, relacionados com E. Pedro.

http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/2008/11/hoje-com-edmundo-pedro.html

Cumprimentos

lusitânea disse...

E já naquela altura quem se metia com o PS levava.O oficial responsável da Guarda Fiscal "lixou-se" até porque na altura o seu comandante era (e ainda é) pró-xuxa)

Unknown disse...

Só lamento a grande injustiça que fizeram a uma personalidade impar na sociedade portuguesa. Inaugurou com 17 anos o tarrafal, voltou para fechá-lo, esteve preso em caxias e em democracia, voltou a ser posto atrás das grades.

Tudo isto pela força de um ideal. Tudo isto pela força das convicções. Tudo isto pela crença de um mundo melhor.

AFF

lusitânea disse...

E os frigorificos?

Anónimo disse...

lusitânea,

Os frigoríficos estão comos os livros para Mário Soares. Não contam.

josé disse...

Conheço um indivíduo de quem sou grande amigo, cujo pai passou 17 anos no Tarrafal.
Ninguém o conhece, para lá do círculo de amigos íntimos e do partido, pois claro.

Conheço ainda um outro que ajudou o Cunhal a fugir de Peniche. Foi o condutor do carro americano usado na fuga.
o Pacheco Pereira, para o livro sobre a história do PCP até o entrevistou. É um médico de grande categoria moral e intelectual.
Vive da pensão de reforma, mínima e passa mal.

Nenhum deles teve problemas com a legalidade e a moralidade, para além da política.

São exemplos de integridade.

Não confundamos as coisas e não desculpemos tudo.

O problema de contrabando, nos anos setenta e oitenta, era um caso grave e punível com prisão efectiva.
Era um crime contra o Estado e a economia.

Ser suspeito desse crime, mesmo sem ser condenado, é em si mesmo, grave.

Andar por aí a tentar branquear as coisas, de modo a que tudo seja o que não pode ser, é imoral.

É o que está a acontecer com o caso da Casa Pia: fazer de conta que as vítimas não existem, não dizem o que dizem e passar tudo como se fosse uma grande cabala para destruir o Partido.

Esta cegueira e sectarismo é, além de irracional, sinal de intolerância ao que é recto e justo. É uma corrupção moral, pior do que a outra.

Defender os nossos amigos é uma obrigação. Mas tudo tem um limite e o limite para essa defesa, é a verdade.
Se não sabemos bem qual seja, e aceitamos a que nos parece mais favorável, então...silêncio nessa defesa acéfala.

Joana Lopes disse...

Gostaria de responder ao José.

1º Decaração de interesses: sou amiga pessoal, embora recente, de E. Pedro (como se pode ver seguindo o link deixado no 1º comentário). Não o conhecia quando se passaram os factos aqui referidos, mas não posso entender frases como:
«Ser suspeito desse crime, mesmo sem ser condenado, é em si mesmo, grave.» Ser suspeito é grave? Desde quando?

2º- Não entendo o que é que a fuga de Peniche nem os seus protagonistas possam ter a ver com este assunto, embora me seja um assunto póximo. Para sua informação: sou viúva do condutor de um dos carros (houve dois, como sabe), também médico. Mas em que é que a «heroidade» de uns serve para atacar outros?

josé disse...

Não me compreendeu bem, Joana Lopes.

O que quis dizer, nesse aspecto, é apenas isto:

A heroicidade passada, na luta contra Salazar, não pode servir de salvo conduto para quem quer que seja apresentar e passar a ser considerado acima do comum dos mortais.

A heroicidade dos exemplos que apresentei é apenas o testemunho de que essas pessoas seguiram esse caminho: lutar contra o Salazar e o que apelidavam de fascismo.

Respeito essa luta ideológica, como respeito as pessoas que a seguiram.
Mas também respeito a luta daqueles que se lhe opunham e eram do regime.
Em Portugal, nesse tempo, como alguém já disse, havia uma guerra civil, fria, não declarada.

E portanto, cada lado tinha as suas tropas. É assim que eu vejo o problema.

Quanto à inocência de suspeitos:

Quanto a mim, depende das suspeitas. Não preciso de uma condenação com trânsito em julgado, para perceber que alguém possa ser mais do que suspeito.

No caso concreto, nem sequer cheguei a esse ponto.

Cheguei apenas ao ponto de perceber que em 1977-78, Edmundo Pedro tinha um grande problema com as suspeitas de contrabando e que vinham de gente do próprio partido.
Se ler a notícia de José Carlos Vasconcelos ( não é um qualquer Pedro Tadeu...), há-de reparar que as suspeitas não eram absurdas nem muito menos infundadas.
Dá-se conta até de uma condenação anterior ( será falsa? Gostava de saber se o era inteiramente).

De resto, o contrabando de electrodomésticos em 77-78, era uma actividade criminosa de grande sucesso. E não só a de electrodomésticos.

Quer um exemplo de alguém que nunca foi condenado e era altamente suspeito dessas práticas?

O comendador Gonçalves Gomes, vulgo, Samarra que vivia em Monção e era amigo de Ramalho Eanes e de Pinto da Costa.

Serão as suspeitas sobre esse indivíduo, condenáveis só por serem suspeitas?


Outro exemplo de escola: Al Capone nunca foi condenado pelas actividades de que era suspeito.
Foi por fuga ao fisco.

Todas as proporções tomadas, julgo que será suficiente para responder às suas dúvidas.

Há uma coisa que prezo acima de tudo: a verdade simples.

Quem for capaz de a dizer, é livre.

Jack disse...

Depois de ler este post ainda me levantei para ir à garagem e retirar de um caixote de livros antigos o Processo das armas de edmundo pedro, e relê-lo. Acabei por não o fazer, não tive parrocha.

josé disse...

Não adianta muito. O problema não reside nas armas. Está algures.

Bem visível, para quem quiser e souber ler.

A obscenidade do jornalismo televisivo