sexta-feira, fevereiro 20, 2009

As contas de Sócrates

O jornal Público de hoje retoma o tema das "casas de Sócrates".

O tema já foi glosado pelo Correio da Manhã, no mesmo tom: saber como foi possível a Sócrates, em 1996, adquirir um apartamento no centro de Lisboa, por 235 mil euros, pagos na altura (?) e escriturados dois anos depois, quando na mesma época, apartamentos idênticos no mesmo prédio, custavam mais 20% sobre esse valor, no mínimo.

O que o Público relata são factos. Factos relacionados com um indivíduo que é primeiro-ministro e na época já era governante ( secretário de Estado e depois ministro-adjunto do PM).
Logo, factos com relevância pública e que nada autorize que esse mesmo indivíduo declare que " qualquer insinuação no sentido do incumprimento das minhas obrigações fiscais só pode ser considerada como caluniosa e difamatória", tal como escreveu ao jornal.
Mas está enganado, o PM. Aquilo que está em causa não são as tais "obrigações fiscais", em princípio.
É outra coisa que toda a gente tem o direito de saber porque se trata de algo relacionado com alguém que exerce funções públicas do mais alto relevo no país. Manda em muita gente, toma decisões que afectam muita gente e foi eleito para dar satisfações a muita gente. Tem que as dar, por isso mesmo.
Não é do zé-da-esquina que estamos a falar, se bem que o visado julgue que se pode colocar a esse nível para pedir batatinhas e até ameaçar desenvergonhadamente os que o questionam.
Então. vamos a isso mesmo.
Em 1995 e 1996, altura do negócio, eram estes os rendimentos de José Sócrates
Ano de 1995:
CARGO: Secretário de Estado adjunto do Ambiente
RENDIMENTO ANUAL: 8 082 700$00 (40 413 €)
PATRIMÓNIO IMOBILIÁRIO: Casa na Calçada Eng. Miguel Pais, em Lisboa
VIATURA: Não há registo
DÉBITO: 15 347 065$00 (76 735 325 €) ao MG, por 20 anos

ANO: 1996
CARGO: Secretário de Estado adjunto do Ambiente
RENDIMENTO ANUAL: 12 914 083$00 (64 570 €)
PATRIMÓNIO IMOBILIÁRIO: Na Rua Braamcamp, uma casa no Edifício Castilho. Casa de 95 foi vendida
VIATURA: Rover 111 sl
DÉBITO: Empréstimo do MG foi liquidado no dia 27 de Fevereiro de 1996

ANO: 1997
CARGO: Ministro adjunto do primeiro-ministro
RENDIMENTO ANUAL: 13 531 740$00 (67 658 €)
PATRIMÓNIO IMOBILIÁRIO: Apartamento no 3.º piso do Edifício Castilho, na Rua Braamcamp, em pleno centro de Lisboa
VIATURA: Rover 111 SL
DÉBITOS: Empréstimo de 15 000 000$00 (75 000 €) da Caixa Geral de Depósitos (CGD), em Janeiro de 1998, para compra de habitação, com a duração de 12 anos.

O que vemos aqui, muito claramente visto, é o seguinte:
José Sócrates já declarou várias vezes que não é rico e que só ganha e ganhou "da política". Portanto, os bens e rendimentos de Sócrates não podem nem devem ser mais do que estes que aqui estão.
Segundo declarou ao Público, agora, a propósito desta notícia que o mesmo toma como eventualmente difamatória, pagou a casa da rua Braancamp que lhe custou 235 mil euros, logo que a comprou, em 7 Março de 1996.
Teria sido quando a "contratualizou através de contrato promessa" ou então, em 2 de Março de 1998, logo que a escriturou, por motivos "imputáveis ao vendedor". Deixou passar este esclarecimento em branco, tal como outros.

O certo é que em 1996 já declarou como seu património imobiliário o apartamento na rua Braancamp. Logo, ou já o tinha pago ou confiou no contrato promessa como atribuição de direitos reais. Pode não ser, mas é estranho. Explicações, precisam-se.
Segundo se vê pela declaração de rendimentos, contraiu um empréstimo de 15 mil contos em Janeiro de 1998, por doze anos.
Mas tinha liquidado outro empréstimo de um pouco mais de 15 mil contos, ao Montepio Geral, em Fevereiro de 1996, na altura em que alienou outra casa, em 1995.
Como o dinheiro não estica e não veio de outro lado, como é que comprou em 1996 uma casa de 235 mil euros ( 48 mil e quinhentos contos)?

Parece fácil de explicar: ou vendeu o apartamento antigo que tinha ,por valor suficiente para tal.; ou arranjou empréstimos particulares ( e ninguém tem nada a ver com isso, a não ser que tenha...) ou então não temos explicações cabais.

A um primeiro-ministro, entalado por estas coisas, a única resposta que é possível dar é simples: mostrar as contas e os dinheiros.
E tentar dar uma explicação cabal para o desconto de pelo menos 20 %.
Sem se queixar de difamadores, caluniadores e outros cabalistas e malfeitores.

3 comentários:

Anónimo disse...

José:
este artigo ( como muitos que escreve, aliás) é verdadeiro serviço público.
Realmente a situação de JS num país a sério, há muito que tinha dado demissão do PM, mas welcome to Portugal......

Luís Bonifácio disse...

E o Mercedes topo de Gama?

Pêndulo disse...

Seria interessante saber qual o valor de venda declarado da anterior casa. Era capaz de ser até muito interessante.