O antigo ministro das Finanças, Silva Lopes, sai em defesa das taxas que o Governo pretende aplicar sobre as pensões.
O economista, que falava esta terça-feira à margem de um debate sobre o Orçamento do Estado e a Constituição, em Lisboa, diz que a geração mais nova está a ser asfixiada pelos mais velhos.
“A geração grisalha não pode estar a asfixiar a geração nova da maneira como tem feito até aqui. Não pode ser. Eu sou pensionista, sou da geração grisalha, quem me dera a mim que não toquem nas reformas, mas tocam, vão tocar e eu acho muito bem. Não há outro remédio”, defende Silva Lopes.
O antigo ministro considera a Constituição e a interpretação que o Tribunal Constitucional faz da lei podem contribuir para o agravamento da crise em Portugal.
“Sou a favor da contribuição de solidariedade social, sou a favor desta taxa que o Governo agora promete e que, se calhar, também vai ser declarada inconstitucional. E digo uma coisa: se nós temos a Constituição e a interpretação do Tribunal Constitucional a impedir estas coisas, isto rebenta tudo”, adverte Silva Lopes.
Sobre este personagem socialista, verdadeiro "pai" dos economistas do keynesianismo socialista, reverenciado, antigo ministro de Soares, é preciso dizer um pouco mais, relembrando o passado. Como foi dos "pais fundadores" da democracia que temos, teve sempre direito às honras inerentes dos conselhos de administração. Sempre. Acabou a vida profissional reformado como ninguém, pago por todos nós, sempre, apesar dos descontos que fez. Mereceu? Alguém o diga.
É ler o que já escrevi aqui sobre o assunto, ilustrado com esta imagem. Após o 28 de Setembro de 1974, com a "reacção" ( Spínola, um herói nacional ainda no mês anterior...) rechaçada pelos comunistas de todas as esquerdas, Silva Lopes e o inefável Melo Antunes ( o militar informado e lido que os demais respeitavam por isso) gizavam um "plano" ( era o mote, então) para a nossa economia de "transição". Transição para quê? Para o socialismo, voilà! E Silva Lopes cavalgava a onda, como outros.
Há quem se interrogue sobre o modo
como passamos de uma economia tipicamente capitalista, com mínima
intervenção do Estado ( mas com empresas privadas "protegidas" pelo
mesmo) antes de 25 de Abril de 1974, para uma economia mista com grande
prevalência de um sector público, numa inversão completa de valores
económicos e até sociais, logo nos primeiros meses de 1974 e que
culminaram nas nacionalizações de 11.3.1975, a caminho do socialismo e
da "sociedade sem classes" como ficou a constar na Constituição de 1976.
Há documentos de época que o mostram e são curiosos porque esquecidos. Não foi apenas o PCP e a esquerda extremada que fizeram a transição revolucionária do PREC. Há outros menos conhecidos e que ficam bem na fotografia.
Há documentos de época que o mostram e são curiosos porque esquecidos. Não foi apenas o PCP e a esquerda extremada que fizeram a transição revolucionária do PREC. Há outros menos conhecidos e que ficam bem na fotografia.
No início de 1975 havia um governo com ministros como Maria de Lurdes Pintassilgo, Rui Vilar ( actual administrador da Gulbenkian), Vítor Constâncio ( sempre na ribalta) e Silva Lopes, o actual reformado do Montepio que acumula reformas como quem junta cromos. E no centro de todos, o falecido Melo Antunes, do Conselho da Revolução, um dos órgãos de poder no Portugal de então. Um grande poder que só viria acabar anos mais tarde.
No artigo da revista que se estende por três páginas, titula-se muito claramente, ainda antes das nacionalizações e com o apoio sorridente daqueles ministros " Da Social democracia ao projecto de socialismo". O que aí se pode ler é apenas o plano antecipado das nacionalizações que viriam dali a um mês. Mas o plano estava já delineado. O que os comunistas fizeram, afinal, foi lançar as redes ideológicas que apanharam muito peixe graúdo, como os que figuram na foto.
O caso de Silva Lopes, então, é emblemático. Quem o ouve falar hoje em dia, sobre reduções de salários na função pública e não só, esquece que foi um dos obreiros técnicos da miséria a que chegamos. Mas nunca se deu por achado.
O que aconteceu em 11 de Março de 1975, na sequência do golpe da esquerda, foi apenas o corolário do ambiente ideológico criado ao longo do ano. As nacionalizações fizeram jus ao "programa económico" patrocinado por aqueles. "dinheiro do povo para o povo" titulava a V.M. de 20.3.1975. Vítor Constâncio e Silva Lopes não diziam menos que isso. Por isso mesmo foram sempre funcionários diligentes na gestão do "dinheiro do povo" e por isso mesmo é que acabaram ricos, enquanto funcionários públicos. Os demais que se amolem. Que não fossem parvos, ao votar neles e dando-lhes sempre o benefício da dúvida.
Para sustentar o ambiente deletério em que se vivia contra o capitalismo e o "fassismo", havia os media. Para comprovar que eram todos de esquerda, basta isto: um artigo de um tal Luís de Miranda Rocha, na Vida Mundial de 5.12.1974 a informar que " a direita" andava à procura da sua informação. Para bom entendedor...
Nota apócrifa: Luís de Miranda Rocha, segundo o google,já falecido prematuramente, era um poeta-jornalista. É exactamente o paradigma desse tempo: poesia no jornalismo. A realidade entre parêntesis.
Como se pode ler acima, em finais do ano de 1974 a putativa e mítica "direita" portuguesa nem sequer um jornalzinho decente tinha para se afirmar e combater as doidices da esquerda comunista. Nada. Todos os media dos joões paulos guerra da época estavam tomados. E ainda hoje estão, porque nada aprenderam e nada esqueceram.
Para terminar e ainda sobre Silva Lopes vale a pena rememorar esta historieta contada pelo Sol há uns tempos e que já transcrevi aqui, ocorrida escassos dois anos depois de 25 de Abril e numa altura que o Estado controlava toda a economia que interessava aos comunistas: indústria pesada nacionalizada, banca e seguros nacionalizados, Constituição a a afirmar o caminho irreversível para a sociedade sem classes e parvoices ideológicas do género. Ainda assim não conseguiram fazer um décimo do que a economia "burguesa" dos fassistas de Caetano lograva, com taxas de crescimento de fazer inveja hoje em dia.
Será que esta lição não lhes serve de nada? Será que não aprendem com as asneiras graves que praticaram? Silva Lopes nunca se desmanchou com isto, como bom socialista democrático que sempre foi. E ai de quem o fizesse que tinha logo Silva Lopes a chamar "fassista" ou seja lá o que for...
Com estes exemplos todos, o que esperar da esquerda portuguesa senão desgraça e mais desgraça? Será que não aprendem?
"Normalmente, o ministro das Finanças, quando se dirigia para o seu gabinete, passava pelo Banco de Portugal. Várias vezes, sempre ao princípio da manhã, entrava e subia ao segundo andar para trocar impressões com o Governador. Consegue adivinhar quem era? Silva Lopes, precisamente. O sítio ficava na rua do Comércio e o economista, num dia dramático, mostrou-lhe uma espécie de folha de caixa onde constavam 61 milhões de dólares. Medina Carreira ficou atónito porque com aquele dinheiro em tesouraria o país não conseguiria pagar ordenados no final do mês.
O ministro telefonou de imediato para a embaixada americana e a secretária de Frank Carlucci informou-o que o embaixador estava a caminho da Galiza- Medina Carreira pediu-lhe para o avisar que não atravessasse a fronteira sem com ele falar. Telemóveis não existiam e os dois, ministro e governador, pediram um avião particular ao Banco Português do Atlântico e perto de Viana do Castelo alugaram uma carrinha cinzenta, o mais discreta e impessoal que conseguiram. Com Medina Carreira a guiar dirigiram-se ao Hotel de Santa Luzia e subiram ao terraço. Carlucci esperava-os. Ouviu-os com atenção. E não precisou de lhes dizer que iria contactar a Casa Branca. Considerava impossível resolver o problema. Portugal, na sua opinião, deveria pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional. Tudo o resto eram lenitivos.Regressaram no seu carro discreto e o Governo não demorou muito tempo a cair. A moção de confiança pedida por Soares foi derrotada no Parlamento com os votos do Partido Comunista e de toda a direita. "