Pacheco Pereira, um tempo biógrafo do comunismo português em três tomos, concede hoje uma entrevista ao i para comemorar os 50 anos do início do Maio de 68 em França.
A entrevista é interessante porque relata o ponto de vista de um antigo militante da extrema-esquerda m-l perante tais acontecimentos.
Ao ler a entrevista surpreendemos a afirmação de que " as organizações marxistas-leninistas mais ortodoxas eram contra o Maio de 68, As que existiam antes".
Falando de Portugal as que existiam antes eram as dissidentes do PCP, que tinham saído em oposição ao abandono do internacionalismo proletário, como fora o caso da FAP de um tal Martins Rodrigues. Eram mais comunistas que os comunistas porque queriam o comunismo em todo o lado e mais além.
Portanto, estes ficam de fora dos apoiantes de Maio de 68. E os comunistas tradicionais, como o PCP e o PCF? Também. E então os PC de P ( m-l) de que Pacheco Pereira era militante clandestino, mais a OCMLP e depois o MRPP gritavam ao povo que o Maio de 68 era uma revolução burguesa.
Assim, devemos concluir que o Maio de 68 não teve mão comunista, nem de perto nem de longe. Se ainda por cima soubermos que os anarquistas antigos que em Portugal tentaram matar Salazar, desfizeram a traquitana política precisamente nesse ano, estamos perante um problema transcendental: afinal de onde veio o Maio de 68?
Pacheco Pereira, historiador nas horas vagas tenta explicar: a coisa não pode dissociar-se do que acontecia na América por essa altura, com a guerra no Vietname; os resquícios da guerra na Argélia, quase dez anos antes ou as "lutas no Terceiro Mundo", em Cuba, com o "comandante" Che Guevara e também a Revolução Cultural Chinesa e ainda os acontecimentos na Hungria, em 1956.
Ora isto é que é uma amálgama formidável! Até admira que Pacheco não meta o Concílio Varicano II ao barulho...
Todos esses fenómenos tiveram inspiração marxista, ortodoxa ou não. Mesmo assim, aqueles m-l da estimação de Pacheco, ficam de fora da carruagem histórica que parou em Paris, durante o mês de Maio de 68, na estação Sorbonne e outras localidades francesas. Os comunistas ortodoxos que não embarcavam em aventuras, ao contrário daqueles, também não iam na carruagem.
Segundo a análise de Pacheco Pereira, o Maio de 68 foi assim algo incompreensível e por isso o mesmo o não compreendeu...e quem não compreende as coisas não as sabe explicar bem. O trotskismo nunca existiu porque os lambertistas não queriam nada com as pedras da calçada do Quartier Latin.
Se formos ver bem, segundo Pacheco, talvez tenha sido obra dos Weathermen americanos, esses perigosíssimos meteorologistas que anunciavam a mudança dos ventos.
Mas afinal, quem se admira disto? Alguma vez Pacheco Pereira explicou algo com meridiana clarividência? Não é assim em todas as perlengas sobre seja o que for?
Se formos ver bem quem eram os m-l e outros ortodoxos mais ortodoxos que os da ortodoxia, reparamos em nomes que sentem agora a filiação bastarda no Maio de 68. Mas não conhecem os pais, sendo apenas uns filhos da mãe.
Visão de 24.3.2013:
Bem como não é por aqui que aprendemos alguma coisa, resta ler o que se publica em França.
Marianne, última edição: