Os obituários nacionais nos jornais do dia foram todos, mas mesmo todos, fruto de plágios sistemáticos de informações à voga na internet, eventualmente no sítio dos jornais estrangeiros. Uma tristeza e uma desgraça para o jornalismo nacional.
Esperei pela revista Sábado que na semana passada nada tinha sobre o assunto e esta semana continua a nada ter.
A Sábado, nestes dois números, coloca na capa assuntos de muito interesse- na semana passada sob um fundo de mar radiante, uma jovem em traje de fitness a exemplificar exercícios para aligeirar o físico até à época da praia, prestes a começar; nesta, outro fundo de mar e uma paisagem exótica para alimentar a esperança de quem gostaria de experimentar os mares das Caraíbas.
É nisto que se tornou a revista dirigida por Eduardo Dâmaso, que todas as semanas se esforça em editorial para mostrar que Portugal não é isso e temos muitas razões para nos preocupar com assuntos mais sérios que as férias de Verão ou os exercícios para manter a linha.
Provavelmente, os membros do Conselho de Administração da Cofina esperam resultados positivos nas vendas semanais e também com toda a probabilidade parece-lhes que a revista vende mais quando traz imagens desse hedonismo paradisíaco na capa. Os hooligans do Sporting não vendem.
Assim a revista travestiu-se na capa como produto para o que dantes se chamavam as sopeiras, ou seja as empregadas domésticas que liam nesse tempo a Crónica Feminina e se aventuravam na Burda alemã para aprender a costurar roupa caseira. No intervalo do almoço escutavam o Simplesmente Maria.
A variante actualizada dessa fauna de gente decente ocupa agora lugares de emprego público em secretarias de autarquias ou no ensino massificado, julgo, sem saber se a Sábado conhece o público a que se destina.
Provavelmente esse público nem lê os editoriais de Eduardo Dâmaso, os artigos oblíquos de Pacheco Pereira, apenas de encher espaço em página dupla e absolutamente prescindíveis por causa da repetição permanente e mesmo as crónicas recentes de Carlos Lima, acerca das idiossincrasias judiciárias. João Pereira Coutinho? Nesta semana incomoda-se com a casa de Pablo Iglesias e a de António Costa para falar de moralismo. Não chega.
Para quem escrevem estes que mencionei? Para os que lêem o assunto da capa? Não me parece. Então quem os há-de ler? Os que leriam o obituário de Tom Wolfe se tivesse algum jeito e maneira de ser. Por exemplo, escrito por Nuno Rogeiro, não se dera o caso de este nem mencionar o assunto no artigo de hoje.
Portanto, ficamos hoje com o obituário de página inteira de uma actriz de telenovelas brasileiras dos anos setenta, chamada Eloísa Mafalda. Ninguém conhece pelo nome, mas a personagem Maria Machadão já dirá alguma coisa a quem viu a Gabriela, em 1977.
Ninguém nesta redacção se importou com o assunto do obituário de Tom Wolfe, embora muito devam a Tom Wolfe e ao seu estilo inovador, no jornalismo. A Sábado, assim, com capas daquelas e artigos de conteúdo vazio, vai parar perto. Muito perto e é pena. Não sabe a quem se destina, anda a tactear e as contradições redactoriais aparentemente já são muitas e visíveis. Não tem consistência e parece uma revista de actualidades triviais.
Para a próxima folheio, vejo o editorial de Dâmaso e...passo à frente, sem deixar os 3,50 euros na caixa. E espero que o Francisco José Viegas substitua o Pacheco Pereira que deveria escrever na Visão, mais consentânea com a escrita continuamente rebarbativa do komentador permanente da Quadratura.
A Visão, aliás, também não conhece Tom Wolfe e hoje volta a colocar na primeira página um autor que vende muitas capas dessa revista: Miguel Sousa Tavares. Neste caso uma entrevista em que fala da sua vida pessoal passada, de acordo com memórias que passou a livro. Quem o não conhecer que o compre. Como a foto do presente já não deve vender capas, puseram a do passado.
Fica aqui o nome das pessoas que fazem a Sábado.
E aqui os da Visão:
Em contraste folheei a Time que apareceu ontem nos escaparates e vi logo que é outra loiça que por cá não temos. E podíamos ter porque a qualidade costuma vender, apesar de alguns pensarem que temos um mercado de sopeiras sofisticadas e actualizadas nos telejornais da Ana Lourenço.
O obituário de Tom Wolfe na Time é simplesmente genial. Em vez de escreverem o que vem nas wikipedias variadas, foram pedir a um antigo astronauta que também sabe escrever que alinhasse uns parágrafos sobre Tom Wolfe e resultou nisto:
Agora vou esperar pelos artigos das francesas.
Aditamento em 25.5.2018:
Pois...nada. As francesinhas não ligaram pevide ao desaparecimento de Tom Wolfe.
Aposto que para a semana dão duas páginas ao Roth. Afinal é da povo eleito...
3 comentários:
um dos raros jornalistas com interesse
na universidade de Coimbra até a Cabra já foi assediada
e continua a dar ao badalo
'mas que grande cabra!'
obrigada senhor José, sempre atento como um farol, belas publicações de imprensa-.
Na série The Wire, quinta época, na redacção, o editor menciona Tom Wolfe. É incontornável.
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