sexta-feira, dezembro 10, 2010

O inquérito sobre o desastre de Camarate


O Jornal de 5 de Dezembro de 1980 ( no dia a seguir ao desastre) e o Expresso de 13 de Dezembro do mesmo ano. Nem ponta de suspeita de comportamento criminoso voluntário, na origem do desastre.

Segundo O Jornal "O PSD desmente boatos de sabotagem". Foi o próprio PSD a não acreditar na tese de atentado, na altura. Ninguém ousou sequer aventar a hipótese porque eram "boatos". É bom que se lembre isto agora, porque as memórias andam muito esquecidas.

Nos jornais de hoje fala-se politicamente na constituição de uma nova comissão parlamentar ( será a 9ª !) para investigar o que aconteceu em Camarate com a avioneta que se despenhou e matou Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa e outros ocupantes.

Santana Lopes, hoje no Sol, escreve sobre o apuramento de responsabilidades "quanto à investigação propriamente dita, às acções e omissões." E critica o facto de agora, por altura da efeméride, se pedir a opinião a Ramalho Eanes sobre o desastre. Acontece que Eanes esteve no local, como o prova a foto de O Jornal. E Santana, esteve?

Um político do tempo, precisamente Freitas do Amaral que anunciou a tragédia nesse dia 4.12.1980, à noite, na tv, para tranquilizar a população, disse que não havia suspeitas de comportamento criminoso. Agora pretende apurar o que se passou com o fundo do Ultramar, razão possível e motivo plausível para um atentado que Freitas agora acredita ter existido. Pelo que agora diz, acredita que houve atentado dirigido a Amaro da Costa. Na altura, nem isso.

Os jornais do tempo davam um panorama bem diferente do que hoje se ouve e lê. Acidente era a tese pacífica para o que ocorreu. Como se pode ver pelas imagens juntas dos jornais de época.

O Expresso de 3 de Janeiro de 1981, um mês depois do desastre, noticiava em primeira página a causa de morte dos ocupantes da pequena avioneta, em conformidade com o relatório de autópsia efectuado aos cadáveres. "Morte pelo fogo", era a conclusão. O Expresso ainda adiantava mais pormenores: "A queda do avião deveu-se à paragem do motor esquerdo, pouco depois de recolhido o trem de aterragem. ( ...) A falha do motor, por seu turno, teve origem , como dissemos em números anteriores, na falta de alimentação de combustível."

É clicar e ler as notícias de época que nos dão um panorama muito diferente do que hoje em dia, após oito comissões de inquérito, se fala à boca cheia: "atentado". Teria sido? Se foi alguém falhou, e muito, na investigação então realizada. Só por isso valeria a pena outro inquérito parlamentar, centrado nesse aspecto particular, mas com recordação do papel destas pessoas que agora falam e falam, com destaque para o próprio Freitas do Amaral.



2 comentários:

ferreira disse...

Não terá também por aí uns jornais dos dias seguintes aos abusos pedófilos na Casa Pia? dos dias seguintes à eleição de Sócrates para PM? dos dias segintes ao cometimento de qualquer outro crime?
Também davam um bom poste.

Karocha disse...

Pois!
Mais o preço do avião...

O Público activista e relapso