quinta-feira, setembro 08, 2011

O sermão de Pedro Lomba aos jovens

Pedro Lomba, no Público de hoje apresenta um exórdio dirigido a candidatos ao ensino superior. Ou seja, aos "rapazes e raparigas deste nosso Portugal" que "dentro de algumas semanas estareis, muitos de vós, no primeiro ano das faculdades, começando uma vida nova."
E diz que "há vinte anos o enredo era mais simples e previsível. Cursávamos sem drama, encontrávamos emprego sem drama e por lá nos arrastávamos também sem drama."
Depois de uma série de conselhos que se afiguram inúteis, Pedro Lomba termina a dizer que "aprender seriamente significa ficar exposto a uma derrota possível, a um erro possível. O que não tem de ser um problema. Conheçam as vossas fronteiras."
Primeiro equívoco: duvido que alguém de 17-18 anos leia o Público e particularmente o exórdio de Pedro Lomba. E se o lerem nem percebem exactamente o que pretende dizer porque lhes soará paternalisticamente como um discurso de "seca".

No meio do texto há uma passagem que realço: " Leiam tudo. Leiam a Ética a Nicómaco de Aristóteles para perceberem o significado de "virtude". "
Ora, ora, Pedro Lomba! A Ética a Nicómaco é que serve de manual virtuoso para o ensino da disciplina?
Aos 17 anos a virtude ainda se pode ensinar, mas não exclusivamente com livros e leituras ou mesmo com filmes. É mais com o exemplo e com o que se acumulou de trás na educação parental e escolar. O ambiente social e familiar em que se nasce e cresce se calhar é mais importante que todas as leituras que não se fazem.
Aliás, o que será " a virtude" para um jovem de 17 anos? Estudar? Poupar o dinheiro dos pais? Não aldrabar ou mentir sobre coisas importantes e essenciais? Aplicar os talentos naturais que todos de algum modo detêm? Procurar a autonomia que liberta a independência?
Confesso não saber exactamente o que seja, para além da regra básica: liberdade com responsabilidade e limitar a nossa acção sempre que contende com a liberdade e respeito alheios.
Conheço da catequese cristã, as virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Mas estas têm a ver com a cristandadae que herdámos e que tem a noção de Deus como fundamento. As demais, também chamadas cardeais são a prudência, a justiça, a força e a temperança. E a que se opõem os vícios...o chico-espertismo, a aldrabice, a mentira, a iniquidade, a injustiça, a temeridade, a cobardia, a pusilanimidade.
Por isso mesmo acho que as virtudes que se ensinavam na catequese antiga eram verdadeiramente essenciais a uma vida social digna e dignificante.
E seriam essas virtudes que deveriam voltar a ser ensinadas nas escolas e em casa. Como dantes eram.

16 comentários:

zazie disse...

As virtudes católicas têm muito de herança greco-latina. Mas, de acordo, são perfeitas e deviam continuar a ser ensinadas.

Wegie disse...

Eu substituiria a designação de força por coragem nas qautro virtudes cardeais clássicas. E que foram integradas no catecismo cristão pelo Papa Gregório.

zazie disse...

Força tem esse sentido- perseverança. Por isso é que era representada por uma figura feminina com um escudo.

zazie disse...

Mas é verdade que a ética católica foi buscar estes conceitos à tradição greco-latina.

Por isso é que o Dragão diz, e muito bem, que não se trata de legado "judaico-cristão" mas de helénico-cristão.

zazie disse...

Mas quem melhor as sistematizou foi Prudêncio, muito antes de Gregório Magno.

Floribundus disse...

um dia dormem em casa da mãe
noutro em casa dos pais
depois nas dos avós

a maioria não sabe escrever,
nem pensar

alimenta-se de telenovelas
e futebol

a ética é escrita pelos ronaldos e pintos da costa

hajapachorra disse...

Com seiscentos demónios! As virtudes teologais não têm que ver com porra nenhuma de gregos e romanos e essas é que são as 'virtudes católicas', nesse vosso dizer pitoresco. As virtudes morais, ds diálogos platónicos, da Ética a Nicómaco, ou da outra, a Eudemo, do Dos Deveres ciceroniano, pouco ou nada têm que ver com o cristianismo. A melhor tradução para a magnitudo animi não seria fortaleza - nunca força! - nem sequer coragem, mas mesmo magnanimidade. mas quem é que hoje sabe o que é 'grandeza de alma'? O texto do Lomba é bom e recomendável, para jovens que saibam ler e esses são poucos, há que dizê-lo. Os outros, a multidão de caixas e de 'assistentes operacionais' que estamos a criar, que oiçam o menos 'paternalista' Alexandre Soares dos Santos, que diz o mesmo que o Lomba mas sem essa chatice dos livros e dos antigos.

zazie disse...

Sim, é verdade que as teologais são cristãs mas a noção de caridade não tem exclusividade.
Mas opunham-se à Idolatria, Inveja e Desespero.

Mas, na prática, a transmissão destas virtudes sempre se misturou com a herança helénica.

Um dos melhores exemplos desta complexidade encontra-se no fresco de Giotto da capela de Arena em Pádua.

zazie disse...

A fortaleza era a Fortitude- a força da alma:

http://farm3.static.flickr.com/2535/3693755424_4d65180bc7_o.jpg

josé disse...

S. Tomás de Aquino estudou Aristóteles e podou os ensinamentos.

Não foi assim?

zazie disse...

Foi, mas muito antes dele já Prudência havia estabelecido a psicomaquia dos Vícios e das virtudes.

O hajapachorra tem razão quanto à natureza cristã das teologais. Mas a Caridade é tradução de várias questões onde entra o amor e agape greco-latino.

Depois a popularização delas é que não é nada pacífica. Antes pelo contrário- é mesmo fruto de mistura com tradição pagã e variantes populares.

zazie disse...

Mas é um facto que a ética cristã tem ensinamentos simples e também é mais que óbvio que ninguém anda a ler a Ética a Nicómaco aos 17 anos para saber o que deve e não deva fazer.

O texto do Lomba tem coisas com piada mas não tem destinatário- é um jogo floral.

hajapachorra disse...

O texto do lomba tem um destinatário que, obviamente, não é a rapaziada com 17-18 anos, porque essa simplesmente não lê o Público. O destinatário é a rapaziada dos 50, a que ainda consegue ler aquela pessegada do PS e da Dona São José, a queque tola. Ora a rapaziada dos 50 devia ler a Ética a Nicómaco e deixar-se de merdas, deixar de ler a gazeta da sonae.
Zazie, a caridade não tem nada de grego, embora a palavra o seja, com a fé e a esperança nada têm de romano, apesar de serem termos latinos. Os cristãos não fundiram a tradição judaica com a cultura greco-romana, antes se serviram desta como os israelitas dos despojos do Egipto. É assim na obra dos mais clássicos dos Padres, Jerónimo, Agostinho ou nos Capadócios. A fortitudo, com -o- no fim, não se confunde com a magnanimidade, como, aliás, a prudência é péssima tradução da prudentia latina, que melhor seria verter por sabedoria.

zazie disse...

Pois é verdade, hajapachorra.

Quanto aos vícios e às virtudes, deixo-lhe aqui um texto muito interessante acerca do fresco do Giotto.


http://www.box.net/shared/static/mcmpzpjek9h5mxzgcxbi.pdf

Há sempre uma grande distância entre o que foi escrito e o que foi divulgado. Por isso é que geralmente filósofos e historiadores nunca se entendem.

zazie disse...

Só uma nota: em parte alguma eu disse que os cristãos fundiram a tradição judaica com a helénica.

Disse é que o cristianismo se entrosa com o legado helénico.

O fresco do Giotto é exemplar a este propósito.

Portas e Travessas.sa disse...

Os Gaiatos em 1 ~mês ficam prof doutores como Maques Mendes

"Isaltino Morais nomeou Marques Mendes para Universidade Atlântica à margem da lei"

http://www.publico.pt/Política/isaltino-morais-nomeou-marques-mendes-para-universidade-atlantica-a-margem-da-lei_1295778

O Público activista e relapso