Pedro Lomba, no Público de hoje apresenta um exórdio dirigido a candidatos ao ensino superior. Ou seja, aos "rapazes e raparigas deste nosso Portugal" que "dentro de algumas semanas estareis, muitos de vós, no primeiro ano das faculdades, começando uma vida nova."
E diz que "há vinte anos o enredo era mais simples e previsível. Cursávamos sem drama, encontrávamos emprego sem drama e por lá nos arrastávamos também sem drama."
Depois de uma série de conselhos que se afiguram inúteis, Pedro Lomba termina a dizer que "aprender seriamente significa ficar exposto a uma derrota possível, a um erro possível. O que não tem de ser um problema. Conheçam as vossas fronteiras."
Primeiro equívoco: duvido que alguém de 17-18 anos leia o Público e particularmente o exórdio de Pedro Lomba. E se o lerem nem percebem exactamente o que pretende dizer porque lhes soará paternalisticamente como um discurso de "seca".
No meio do texto há uma passagem que realço: " Leiam tudo. Leiam a Ética a Nicómaco de Aristóteles para perceberem o significado de "virtude". "
Ora, ora, Pedro Lomba! A Ética a Nicómaco é que serve de manual virtuoso para o ensino da disciplina?
Aos 17 anos a virtude ainda se pode ensinar, mas não exclusivamente com livros e leituras ou mesmo com filmes. É mais com o exemplo e com o que se acumulou de trás na educação parental e escolar. O ambiente social e familiar em que se nasce e cresce se calhar é mais importante que todas as leituras que não se fazem.
Aliás, o que será " a virtude" para um jovem de 17 anos? Estudar? Poupar o dinheiro dos pais? Não aldrabar ou mentir sobre coisas importantes e essenciais? Aplicar os talentos naturais que todos de algum modo detêm? Procurar a autonomia que liberta a independência?
Confesso não saber exactamente o que seja, para além da regra básica: liberdade com responsabilidade e limitar a nossa acção sempre que contende com a liberdade e respeito alheios.
Conheço da catequese cristã, as virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Mas estas têm a ver com a cristandadae que herdámos e que tem a noção de Deus como fundamento. As demais, também chamadas cardeais são a prudência, a justiça, a força e a temperança. E a que se opõem os vícios...o chico-espertismo, a aldrabice, a mentira, a iniquidade, a injustiça, a temeridade, a cobardia, a pusilanimidade.
Por isso mesmo acho que as virtudes que se ensinavam na catequese antiga eram verdadeiramente essenciais a uma vida social digna e dignificante.
E seriam essas virtudes que deveriam voltar a ser ensinadas nas escolas e em casa. Como dantes eram.