Ontem no Expresso havia um artigo original acerca do Maio de 1968: o dos nossos emigrantes em França. Assinado por Daniel Ribeiro, "correspondente em Paris" é uma vergonha de escrito.
Mas há um aspecto saboroso que passo a referir: a relação dos nossos emigrantes "económicos" com os fugitivos do regime por motivos políticos e ideológicos. José Mário Branco era um deles e já cantava, em 1968, embora os seus discos mais interessantes sejam posteriores a essa data.
Não seria por isso, no entanto que os concertos que tentava dar em França, para instruir os emigrantes no palavreado comunista eram sempre um fracasso, no dito do próprio.
Motivo? Muito prosaico e que o "correspondente em Paris" nem percebe muito bem: enquanto o cantor de intervenção ia lá para passar a arenga contra a "guerra colonial", era geralmente corrido a gritos de "Angola é nossa!".
Escreve o dito que " os seus espectáculos, muitas vezes, nem chegavam a começar". Devia ser a Pide infiltrada no Bataclan...embora se diga também que os emigrantes não iam na cantiga comunista. O escriba diz que os emigrantes eram "manipulados pelo consulado, pelos bancos e pela igreja"...
Se há assunto que tenha sido tratado mais vezes e em modo sazonal, nas revistas portuguesas da época foi o dos emigrantes em França.
Em 7.12.1968 e no número seguinte, a Século Ilustrado até escrevia uma espécie de pequeno relato neo-realista pela pena de um tal Waldemar Monteiro.
Em 26.12.1970 a revista até lhe deu a capa, em artigo não assinado e com fotos de Fernando Baião:
Em 25.12.1971 já havia cores, na reportagem de Carlos Plantier e Eduardo Gageiro, um esquerdista que depois registou muitas imagens "naquela manhã de Abril":
Como o lamento de José Mário Branco se estendeu para lá de 1968, é provável que estes emigrantes de 1971 tivessem já percebido a natureza do comunismo e lhe tenham dito: a mim não enganas tu...
Para se perceber melhor a profunda desonestidade do artigo de Daniel Ribeiro, do Expresso, basta ver a foto de um Salazar dos anos trinta, para ilustrar notícias de 1968, pouco tempo antes de abandonar efectivamente o poder.
Os artigos do Século Ilustrado da época, mesmo escritos pelos esquerdistas ( que nem se esqueciam de mencionar os sindicatos aos emigrantes...) são mais próximos da realidade desse tempo do que esta porcaria do Expresso passados 50 anos.
A imprensa da época relatava factos e mencionava realidades que todos viviam e compreendiam. Agora, este artigo do Expresso inventa circunstâncias e mistura realidades que desvirtuam a História.