domingo, janeiro 22, 2012

O Público e os títulos

No jornal Público de hoje, o Provedor do Leitor penitencia um azar de segunda-feira passada: o Público publicou uma manchete falsa, vejam só! E tal, para o Provedor que nem sempre as costuma detectar a olho nu ( porque não as denuncia), é "um dos danos mais graves que podem ser infligidos à credibilidade de um jornal de referência."

A manchete em causa, em papel de jornal, era um título apelativo: " Passos já fez mais nomeações do que primeiro Governo de Sócrates".
Como se verificou, o assunto era notícia, mas a indignação quantitativamente errada. Só isso. O Provedor passa as três colunas semanais com que conta no jornal para dar eco aos protestos dos leitores, a zurzir no erro quântico e na displicência da direcção do jornal em detectar tal gato que miou a semana inteira, na gaiola de Schroedinger, com a agravante de ter sido amplificado por outra aleivosia no dia seguinte, relacionada com as "nomeações" deste Governo.

O Provedor do Leitor enuncia o seu critério pessoal para ensinar jornalistas sobre estas matérias: "Não deve esquecer-se, no entanto, que o escrutínio das nomeações governamentais, para ser útil e permitir formar opiniões com base numa informação correcta, não pode limitar-se a uma contabilização de despachos. Nem sequer, embora esse dado seja certamente relevante, ao conhecimento da filiação partidária ( se a têm) dos nomeados. O que mais importará à opinião pública e à desejável transparência no preenchimento dos cargos dirigentes é saber se as opções governamentais são feitas com base no mérito pessoal e na competência profissional dos escolhidos. E, para isso, o que importa conhecer é o seu currículo e história pessoal."

Depois de assim estatuir este critério jornalístico, seria útil um pequeno exercício com efeitos retroactivos.
Por exemplo, o que pensaria José Queirósum dos grandes e mais respeitados jornalistas portugueses", deste mesmo critério, logo que se soube ser José Sócrates um licenciado pela UnI, num modo deveras original e particularmente discutível quanto ao mérito, o que agora é facto corriqueiro para quem queira ver com olhos de ver uma realidade que se impõe a olho nu? Tal facto foi noticiado por um blog e durante muitos e muitos meses, o Público, ou o Jornal de Notícias, por exemplo, nada escreveram. O facto era ou não importante, segundo aquele critério enunciado? Durante os meses que se seguiram a uma reportagem de José António Cerejo, precisamente no Público então dirigido por José Manuel Fernandes, o caso assumiu relevo inusitado e revelador daquilo que José Queirós entende como muito importante no jornalismo: "O que mais importará à opinião pública e à desejável transparência no preenchimento dos cargos dirigentes é saber se as opções governamentais são feitas com base no mérito pessoal e na competência profissional dos escolhidos." , escreveu agora.
Então estava no Jornal de Notícias, já propriedade do "amigo Joaquim", ou seja de Joaquim Oliveira, cuja empresa Controlinveste não tinha provavelmente os mesmos critérios tão elevados de jornalismo tão isento e os jornalistas disto sabendo, faziam como antigamente porque o patrão é quem sabe sempre melhor...
Não se trata aqui apenas de sindicar o passado jornalístico do Provedor do Leitor do Público. Trata-se tão só e apenas de lembrar que para dar lições de bom jornalismo moral é preciso ter pergaminhos irrepreensíveis para tal e o Jornal de Notícias de 2007 foi essencialmente um aríete impresso, ao serviço de uma clique que então governava, ligada a um certo grupo do PS. Por isso mesmo é que Joaquim Oliveira era "o amigo Joaquim", o que é iniludível. Sobre o FCPorto e notícias correlativas nem vale a pena escrever uma única linha. Os factos falam por si e as escutas do Apito Dourado nem falam por si: ouvem-se em si.

Tal como escreveu José Queirós agora, para se saber mais sobre o mérito pessoal e competência profissional dos escolhidos, seja na política seja noutras áreas, torna-se necessário "conhecer o seu currículo e história pessoal."

Para se conhecer o critério jornalístico, fundamental, das pessoas que dirigem actualmente o Público tais asserções valem de igual modo. É preciso saber quem são, de onde vêm e como pensam sobre determinadas matérias. Os jornalistas do Público não governam a coisa pública, é certo. Governam apenas uma parte da opinião pública. É preciso realçar mais ou este facto é suficiente para dar a importância devida e correlativa?
Sobre isso tenho escrito aqui o que penso: são essencialmente jacobinas. Não em sentido jocoso ou irónico, mas o sentido arreigado ao conceito, semanticamente evoluído e que escuso de enunciar porque devidamente assente.
Tal jacobinismo conduz directamente a uma rejeição visceral do liberalismo mais soft em prol de um controlo social veiculado ideologicamente pela esquerda geral. Daí todo o reflexo que essa ideologia difusa espalha nas notícias do jornal, nas capas do jornal, nas opções culturais do jornal e no modo como se escreve no jornal. Só não percebo como um liberal da Sonae ainda tolera uma tal política editorial em bloco, sem brechas a não ser em dois ou três comentadores residentes que não escrevem notícias nem fazem títulos.

Portanto, o título de Segunda-Feira ou o de Terça ou Quarta não são um fenómeno isolado e que escapou por distração, ao filtro da direcção editorial. É mesmo uma marca de água, quase irrelevante neste contexto e de que José Queirós, a meu ver e mais que outros provedores anteriores, faz parte. Malgré lui.

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O Público activista e relapso