quinta-feira, novembro 13, 2014

O síndrome ançã na Análise Social

Segundo se contou, parece que  houve recentemente um episódio de censura explícita numa publicação académica do ICS. O DN contou assim:

Um "ensaio visual" com fotos de graffitis em Portugal levou o diretor do Instituto de Ciências Sociais (ICS) a suspender circulação da Análise Social. Considerou "ofensivo".

Conselho Editorial da revista científica, que tem 51 anos de existência, contesta decisão e diz que houve censura. José Luís Cardoso, diretor do ICS, justifica que a possibilidade de publicação não foi avaliada por peritos externos. João Pina Cabral, diretor cessante da revista e responsável pelo número em causa, argumenta que é um "ensaio visual" e que não está sujeito a avaliação externa, conforme as normas da publicação (analisesocial.ics.ul.pt ).
O artigo é de Ricardo Campos, cuja tese de doutoramento é sobre os graffitis, O sociólogo diz que as mesmas imagens foram utilizados em outros estudos, tem o apoio da comunidade científica e pedidos para a publicação do texto.

Portanto, a revista costumava sair com determinada temática e no último número transformou-se num panfleto político contra o governo e "a direita". A direcção do ICS decidiu proibir o número, acabando com a publicação.
 José Manuel Fernandes, agora, explica assim o ponto:

Os leitores já imaginarão que me estou a referir ao que se passou, ao que se está a passar, com a revista Análise Social. A equipa editorial, escolhida para um mandato limitado, optou por incluir no último número que tinha sob sua responsabilidade um artigo que em tudo se distancia do objecto da revista e do que foi a sua linha editorial ao longo de décadas. A dissonância entre o espírito e a forma daquela revista e o “ensaio gráfico” que nela se pretendia editar era tão grande como se eu pretendesse editar aqui, no Observador, um “ensaio fotográfico” com fotografias pornográficas explícitas, hard core.
No entanto foi isso mesmo que a equipa editorial da Análise Social, uma revista académica onde são publicados ensaios académicos, pretendeu fazer – e fazer de forma provocatória. Tal como no exemplo do casamento, a provocação criaria sempre um dilema: quem lhe dissesse que não, como disse o director do ICS José Luís Cardoso, seria imediatamente insultado por praticar a censura; quem fizesse vista grossa e deixasse passar, tornar-se-ia cúmplice da transformação de uma revista académica num publicação vulgar, sem critério, semelhante a uma newsmagazine de informação geral.

Esta questão da Censura já motivou em tempos recuados do "fassismo", umas páginas de conversa de Marcelle Caetano com Alçada Baptista, publicadas em livro ( Conversas com Marcello Caetano, António Alçada Baptista, Moraes editores, 1973, páginas 184 a 193). Vale a pena ler todas as páginas de uma actualidade que hoje em dia, sendo premente, seria impossível de ler em artigos de opinião, muito por causa dos motivos e razões que Marcello Caetano apresenta para de algum modo justificar o que então existia em Portugal: uma Censura efectiva nos media. Marcello começa por questionar a própria noção de "informação verdadeira e objectiva", para concluir no fim que o Exame Prévio era nocivo enquanto princípio mas necessário então por causa da Guerra no Ultramar. A ideia que trasmite sobre o que entender por "opinião pública" também é politicamente incorrecta, hoje em dia e portanto concordo com a mesma: "um narcótico para a má consciência da sociedade".


De resto e para dar razão a Marcello Caetano, logo em finais de Maio de 1974 ocorreu um episódio parecido com o que agora sucedeu na Análise Social, com todas as distâncias de tempo e circunstância bem medidos.



No caso, um jornalista comunista , de extrema-esquerda e notoriamente em comissariado político, fora despedido da Emissora Nacional.
Quem o despediu e por que razão? Uma comissão administrativa da tropa. E Jaime Gama, o indivíduo que já presidiu à AR , na altura chefiava os serviços de noticiários da EN e justificava o despedimento, com ...censura por motivos estritamente políticos. Em nome de quê e de quem? "Critérios de informação". Censura, obviamente.

Quem quiser ler a história e o que dizia Jaime Gama, então um dos "tropas" que despediu o jornalista Ançã, comunista infectado com o vírus da doença infantil, pode ler aqui. E comparar com o caso actual...sendo certo que José Manuel Fernandes não escreveria o que hoje escreve, por estar então infectado com o mesmo vírus. Parece que entretanto se curou...mas como o herpes é vírus adormecido, susceptível de ataque quando as defesas imunitárias estão baixas.

Questuber! Mais um escândalo!