Pronto, já está. A seguir ao choque e espanto, aparece a consternação e a reacção pavloviana e habitual. A cabala ressuscitou e o ataque às instituições avançou e já está no adro, com a procissão a começar.
Os factos deixam de contar porque são questionados na sua realidade. A alternativa que é a vidida durante anos toma a dianteira e tenta sobrepor-se à sobreposta. O que era feito de meros boatos e rumores, facilmente digerível por correligionários crédulos e apaniguados afadigados na manutenção de privilégios, tornou-se dúvida insuportável e devidamente exorcizada pelo ataque aos "bandalhos" e "pistoleiros do costume" agora suavizados em "malandros" pelo mentor espiritual desta canalha democraticamente legitimada para denegrir quem os ataca com base em pressupostos legais.
A insuportável perspectiva da perda dos benefícios de uma vida, à socapa destes padrinhos, tira-lhes o senso e o sono.
Os factos deixam de valer como tal e sobrepõem-se os ersatz para enganar, mais uma vez, os que lhes garantiram estatuto e poder. Porém, desta vez é tarde. As pessoas já perceberam que esta mentira velha da inocência proclamada e presumida já cansa e não pega.
E por isso os jornais respigam pela primeira vez um assomo à realidade em detrimento da fantasia da mentira usual.
O Correio da Manhã, alvo de uma opa hostil e secreta do recluso 44 nos idos de 2009, não tem mãos a medir para mostrar a enormidade do golpe. Como o jornal a que está associada uma estação de tv não vai em cantigas serôdias, tendo como parceiro desta coligação improvável um Sol que desponta outra vez, aparecem os outros medias de uma antiga Controlinveste falida, manipulados pelo advogado que está em todas, Proença de Carvalho que nestes dias não tem mãos a medir ( hoje aparece-lhe outra emergência, com as buscas ao GES/BES, dirigidas pelo "juiz dos tablóides") .
O Proença bem se esfalafa mas não ttem fôlego para tanta investida de realidade. Vai soçobrar, desta vez, porque está fincado num pobre motorista, apresentado ( bem ou mal) como antigo toxico-dependente e em testemunhos vazios de conteúdo falso.
Contra factos destes...não há argumentos que cheguem e a lutar contra moinhos de vento darão com os burrinhos na água. Chegou ao fim, a "festa". Proença tarda nada perderá a maioria dos lugares nas empresas de referência e um dia distes será uma nulidade a rastejar pelas ruas de uma amargura merecida, se não for pior...
A opinião pública, essa já ninguém lha devolve. E isso costuma ser fatal. Quem comeu a carne durante anos tem agora que roer os ossos e Proença de Carvalho tem contas a prestar. Muitas.
Público de hoje, um artigo sensacional de João Miguel Tavares
Outro, demolidor, de Alberto Gonçalves na Sábado de hoje:
Entretanto, as notícias sobre o "apartement" são de truz ( fica perto da ponte Mirabeau onde Apollinaire escrevia que "sous le pont Mirabeau coule la Seine"...) e de Paris vem outra vez a luz num artigo de um jornal de esquerda, o Libération.
Expresso online:( sim, já vem no Expresso...)
Um político "duvidoso", "sempre borderline", "sanguíneo, autoritário e de estilo cintilante à la Sarkosy". É assim que o jornal francês "Libération" descreve José Sócrates, num artigo, publicado esta quinta-feira, sobre a detenção do ex-primeiro ministro português.
O caso Sócrates, diz o jornal, "corresponde a um novo degrau de imoralidade na vida pública". No artigo, assinado pelo correspondente do "Libération" em Madrid, descreve-se as suspeitas que levaram à acusação do ex-governante por fraude fiscal, corrupção e branqueamento de capital. Explica-se como "o modo de vida em Paris chamou a atenção da brigada financeira portuguesa", como o seu motorista "fazia regulares viagens Lisboa-Paris para lhe entregar grandes quantidades de dinheiro em cash" e como o seu amigo e empresário Carlos Santos Silva serviu de pivô num esquema de transferencias financeiras. O "apartamento no valor de 2,8 milhões de euros, a frequência de restaurantes de luxo e as escutas telefónicas fizeram o resto".
E o resto é muito. Desde logo, o escândalo desmontou a imagem do "antigo líder socialista que, em maio de 2011 se demitiu, enquanto o seu país estava à beira da falência". Sócrates queimou o seu "retrato político bem merecido, de um cidadão honesto que serviu o seu país o melhor possível" e que "no final do seu primeiro mandato obteve resultados visíveis na mudança de uma administração pública anquilosada". Passou a ser "o líder duvidoso, esse produto mediático ou o politico Armani (citando o 'Público', que sublinhava o seu lado esquerda-caviar) envolvido em vários escândalos dos quais conseguiu, de cada vez, escapar às garras da justiça".
O texto do "Libération" termina com uma análise de Fernando Rosas, apresentado como historiador. "Desde o princípio, ele foi esse jovem lobo, oportunista, sem ideologia, obcecado por escalar todos os degraus até ao poder supremo, sempre borderline". Apresentado como "antigo militante do partido de direita, o PSD, passou para os socialistas em 1981" e acrescenta-se à biografia de Sócrates ter sido "admirador de Tony Blair" mas que "sempre conheceu um percurso pouco claro". "Há mesmo fortes hipóteses do seu diploma de engenheiro civil, obtido em 1980, ser falso", conclui o artigo.