sexta-feira, abril 04, 2014

Crise de Civilização? No fundo, é isso...

O Diário de Notícias de hoje dá-nos um retrato fotomaton do país que somos e onde chegamos. Não no-lo oferece com intérprete mas mostra-nos factos e dá-nos pistas para percebermos o problema.

A primeira pista, é-nos apresentada por Jaime Nogueira Pinto, um guia com valor e diferenciado dos pisteiros que andam por aí sem conhecrem os trilhos e sem saber ver os sinais.

Nogueira Pinto, com este pequeno questionário de um amigo de Dias Loureiro, mostra-nos o que aconteceu a Portugal nos últimos quarenta anos: uma crise de civilização provocada directamente por quem perdeu o combóio da História e se recusa a sair da estação, à espera do fantasma do seguinte.

O que Nogueira Pinto diz sobre o tempo de Salazar e Caetano e o que dele fizeram os " MFA´s e os antifascistas que lhes vieram agarrados às botas", é essencial: " acharem, também por ignorância, que coisas que faziam parte da tradição política, da História e da essência de Portugal, eram mania e teimosia de Salazar. Daí a descolonização que fizeram, daí as experimentações económico-sociais. E daí aquela indigência do PREC:"

No fundo é isto que tenho tentado mostrar por aqui ( e vou continuar se Deus quiser).





Uma das consequências das experimentações poderá ter sido algo como isto: uma mutação nos gostos e interesses da juventude. Não será imputação sem margem de dúvidas porque o fenómeno sucede noutros lados, mas que é efeito do tempo que passou, lá isso parece: a crise das livrarias e desta, em particular, centenária, a Civilização.


Esta livraria foi uma das que me enviaram catálogos, no final dos anos sessenta, quando a minha curiosidade pelas leituras e conhecimento era demasiado grande para o dinheiro disponível para livros. E por isso pedia catálogos ás editoras.
Em 1969, a Livraria Civilização, envivou-me gentilmente este ( julgando, se calhar,  que ali estava um comprador potencial,  por junto e atacado...):


 Por último, ainda o DN de hoje que mostra um exemplo vivo do que Jaime Nogueira Pinto refere quanto aos lídimos representantes "desta classe político-burocrático-empresarial de gente medíocre e habilidosa, ora espertalhona, engraçada e brincalhona, ora séria, empertigada e solene. É essa a grande força de bloqueio, a burguesia ´aparatchique` dos serviços e concertos, adaptada e adaptável a tudo, que por aí anda e manda-nos partidos, nos media e nas universidades".

No caso concreto, Rui Vilar, não sei bem se se enquandra como luva no retrato. Mas como moldura parece-me que serve bem. Há muitos "quadros" assim, em Portugal. São os para-estaduais que se cooptam e reproduzem. Vítor, o Constâncio é um deles. Um dos inseminado de Abril, como os hippies o eram pelas flores de plástico.




Em tempo:

Para aquilatar melhor esta crise de civilização, no Correio da Manhã de hoje aparecem também dois elementos semióticos de importância certa.
O primeiro é um artigo de Santana Lopes sobre a nomeação daquele "notável" e que sindica a cooptação - são sempre "os mesmos, os mesmos", escreve Santana-  destes inteligentes supercompetentes, tipo Vítor, o Constâncio.
Podemos interrogar-nos sobre o que move Santana a este escrito e, de facto, o que distinguirá a competência deste daquela que os outros exibem. Santana foi professor de Direito ( assistente, vá lá, mas Sá Carneiro encarregou-o do primeiro projecto para rever a Constituição...); foi Secretário de Estado, ministro e primeiro-ministro ( como Sócrates, vá lá...). Ou seja, hiper-competente para uma REN ou para um Gulbenkian ou seja para o que for. Até para o BCE. E mandaram-no para a Misericórdia...por isso tenham dó. Lá, só caem em Si quando o Re Fa Sol e a Lua se encontra no quarto certo. Maçonaria, poderes de facto, lobbys, centrão, amigalhaços de várias feições, conhecimentos de sempre e podridão a rodos. Corrupção é isto. E ninguém vê, porque esta não é para se ver, mas apenas para sustentar um regime que cairia no mesmo dia em que tal fenómeno se expusesse para todos verem à luz do dia e não oculta entre colunas que um miserável teve o topete de levantar num gabinete ministerial, a expensas do Estado.  Salazar e Caetano não eram assim. Ponto. O artigo de Santana é incrível de realismo fantástico, de clareza nos motivos e de exposição da corrupção profunda que nos atinge-e que ele não percebe, claro está.  Ele e outros, tipo Pinto Monteiro, um pobre diabo que fala "axim" mas "não tinha medo de ninguém". Pudera!



Em que é que isto deu, em Portugal? O mesmo Correio da Manhã de hoje o mostra ( só mostro uma página para quem quiser ver a outra comprar o jornal...): os ricos de Portugal são estes. Comparem-se com os de há quarenta anos e analisem-se as semelhanças e diferenças. Pode ser que se aprenda alguma coisa... 


8 comentários:

Floribundus disse...

Nogueira menciona com desassombro esta nojeira

a tropa fandanga entregou aos bichos os contribuintes

o Porto sempre teve boas editoras

tenho em cima da secretária Mário Gonçalves Viana, a arte de pensar
Editora Educação Nacional

muja disse...

São os ultras.

lusitânea disse...

Desde o fim do PREC em 1975 e do CR que aliás já não mandava nada a tropa "fandanga" ainda tem a ver com o desastre onde?
Foi com a tropa "fandanga" que fomos colonizados?

Vivendi disse...

José,

A crise da civilização surge daqui...

«A divulgação da ideologia pelo ensino conduz sempre à instauração do sistema político correspondente. A Universidade do Estado é a Universidade Pombalina. Foi criada com uma ideologia, a do iluminismo, da qual resultou o falso liberalismo do século passado. Ao iluminismo sucedeu o positivismo, comandado por Teófilo Braga, que deu origem ao liberalismo ignorante, corrupto, anti-clerical e anti-sindicalista da 1.ª República. O positivismo - como mostra H. Marcuse no livro "Razão e Revolução" - prepara mentalmente o marxismo. Com efeito, a nossa Universidade substituiu, nos anos quarenta, o positivismo pelo marxismo e o resultado foi a instauração do actual socialismo».

Orlando Vitorino («De uma sessão com estudantes na Faculdade de Direito de Lisboa», in Presidenciais 86).

zazie disse...

Boa entrevista a do JNP

Choldra lusitana disse...

A entrevista de Nogueira Pinto acaba por resumir em meia página o que é este país. Notável exemplo de coerência num tempo sem ela.
Já o Santana diz as verdades como se a chuva passasse ao lado e fosse molhar apenas outros. Como se o homem tivesse nascido para ser o provedor -mor da Misericórdia ,ele que prima tanto pela caridadezinha. Mas não deixa de apontar as verdades ,sobretudo à esquerda do regime. Um amigo meu e candidato a um alto cargo directivo no estado contou-me que uma tal Cresap ,presidida por um acólito socialista de nome Joao Bilhim,tem tanta falta de vergonha na cara que só nomeia xucialistas para o aparelho. E dizia com razão esse meu amigo,o actual PSD ,talvez por ter a consciência pesada por pecados antigos,faz vista grossa e aceita as nomeações ditadas por aquela comissão. Quando a primeira coisa que devia fazer era saneá-la na primeira ocasião. Nisso,a actual maioria tem um bocado mais de recato do que a consabida voracidade socialista que tende,como condição natural, para o monopólio e a exclusividade.

Vivendi disse...

A Santa Casa da Misericórdia foi tomada pelas maçonarias.

Deus nos dê misericórdia a este pobre país que foi tomado por loucos.



muja disse...

Não percebo, de qualquer maneira, porque é que este JNP ainda cede à novilíngua. Porque é que diz que "a esquerda, justamente ressentida de 48 anos de fascismo".

48 anos de fascismo, JNP?! E eu a pensar que o fascista era V.! Que o Estado Novo era ou tinha vindo a tornar-se um regime burguês, etc, etc, etc. Então o MJP, a Cidadela, etc, etc? O Goulart Nogueira, o A. José de Brito, etc, etc?

Então ele que era fascista no "fascismo", que era mais papista que o papa, agora diz que foram quarenta e oito anos de fascismo?! Na altura dizia o quê?

Francamente, não percebo. Aquela frase, os "48 anos de fascismo" tornam inútil todo o resto.

Não se pode transmitir a verdade começando por uma mentira. Não pode.
Isto só serve a quem já sabe, e portanto sabe filtrar. Ou seja, não serve nada nem ninguém que importe.

Outra é "o regime de Salazar não tinha continuidade sem Salazar". Mas qual regime de Salazar?!
Havia uma Constituição. Havia Órgãos de Soberania. Havia tudo o que um Estado moderno necessita para funcionar! Tanto assim era que o regime continuou - o Governo, o Estado, o País - tudo continuou. Tudo melhorou, caramba! Como não tinha continuidade?!

Quando gente como JNP diz isto, torna-se-me evidente que a geração perdida, a geração rasca é essa. Foram aquelas. Não podemos contar com eles para rigorosamente nada. Nada. Zero. Pior, podemos contar com a sua oposição a tudo quanto se tente fazer.

Continuam no mundo da fantasia. Dos amanhãs que cantam. Vivem todos ainda lá. No mundo dos fascismos, das esquerdas, dos combates, das lutas, das revoluções. Vivem todos lá, confortavelmente. Gozando os frutos da dívida criminosa que os que vieram depois vão ter de pagar.

Decididamente, se ainda tivermos um futuro, não é com esta gente que lá chegamos. Como diz o outro, saiam da frente! Arreda!

O Público activista e relapso