Curiosamente, por cá não é costume esta linguagem crua de memórias negativas. A efeméride dos 40 anos está a ser aproveitada para se deitarem foguetes pela liberdade conquistada contra os ogres do fascismo, arredados por um punhado de heróis que nos iam entregando outra vez a ogres ainda mais negros, de tão vermelhos que eram.
Aliás, esta segunda parte da historieta só foi contada por aqueles estrangeiros que por cá vieram ao tempo e se deram ao cuidado de mostrar a loucura dos heróis por conta própria, como um certo Otelo ou um tresloucado Vasco.
Em 1 de Março de 1975 a revista Paris Match mostrava o que por cá se pressentia como realidade e se escondia como tragédia a acontecer em tempo real.
Um dos fenómenos mais inquietantes da época, para quem se lembra, foi a mutação genética acelerada que a tropa do MFA sofreu em meia dúzia de meses de doutrinação comunista, com aprendizagem rápida de palavras novas, numa sucessão apresentada como a via original de transição para uma sociedade democrática. As palavras tomaram sentidos díspares e Liberdade passou logo a rimar com opressão e totalitarismo, sem que uma boa parte dos protagonistas de boa fé se apercebesse do logro.
Foi esse sem dúvida o maior feito da época e a revolução que aconteceu foi apenas essa: um engano ledo e cego que a fortuna quase deixava durar muito.
Por isso é necessário recordar, para que "não se apague a memória", se refresque a de muitos esquecidos e se denuncie a dos protagonistas da tragédia apostados em repetir o mesmo para "completar o que ficou inacabado".
Nessa altura, Março de 1975, era claro para a maioria dos europeus que Portugal poderia ter o destino de um Outubro vermelho. Por cá ainda se via tudo cor de rosa que é a cor de burro a fugir da política que acompanha frequentemente as desgraças sociais. In extremis, evitamos esse Outubro, em Novembro e graças a outros militares de Abril que não se deixaram embalar no canto da sereia comunista. Eanes, claro está. E Jaime Neves, ainda mais. E outros que não estão na associação que quer falar do que não deve e cala o que devia lembrar.
A primeira imagem mostra um militar "progressista" exemplo dos muitos que na época progrediram rapidamente e às arrecuas da mais completa ignorância política para a maior vanguarda revolucionária, a "doutrinar" aldeões de Trás-os-Montes. Estas "sessões de esclarecimento", verdadeiras tentativas de ultrapassar a "reacção" a ideias tenebrosas de colectivização e novo totalitarismo entendido como avanço civilizacional nec plus ultra, foram um fracasso.Basta ler a imagem para entender a parvoíce.
Um dos adeptos mais fervorosos das experiências sociais encetadas para exemplo negativo do mundo civilizado, foi este que aqui aparece em traje de césar e pose terceiro-mundista. Um actor, claro está e que teve o poder na mão institucional, em Portugal nessa altura, o que mostra o grau de loucura colectiva que conseguimos atingir.
A tropa fandanga era a mesma de sempre: simples e carne para canhão, mesmo que fosse bacalhau frito com arroz a correr.
A actividade "dinamizadora" da 5ª divisão dos progressistas do MFA numa Trás-os-Montes muito céptica, deu o mote para o poster nostálgico das comunas do séc. XIX, vistas como o futuro português a sorrir em amanhãs cantadores.
Nas cidades, o ambiente era de "pides na grelha" e pornografia rasca na rua. Os livros não se distinguiam das revistas, envoltos no plástico pegajoso das ideias "progressistas".
Para terminar a loucura foi preciso o povo vir á rua. E veio, no Verãoo Quente desse ano, assim, tal como se mostra em imagens que não eram mostradas na altura porque a "dinamização " não deixava. Por isso convém lembrar agora, porque vêm de fora, também do Paris Match de 9 de Agosto de 1975.