sexta-feira, abril 04, 2014

O PREC e o Expresso

Durante o Verão de 1975 Portugal esteve literalmente ao rubro, nas ruas e nos jornais. Porém, para ver as cores vivas do PREC será preciso consultar a imprensa estrangeira porque a de cá, em geral, transformou-se em porta-voz do fenómeno que durou até 25 de Novembro de 1975 e mais além, como um futurista buzz anunciaria numa fantasia animada anos depois.

Em Abril de 75 estivera por cá o filósofo Sartre e o seu ajudante no Libération, Serge July. O Expresso de 5 de Abril desse ano dava-lhe uma página, na qual ele contava que os jornais portugueses em geral não lhe pareciam bons porque "não explicavam nada".


Serge July, esse, explicava muito bem, numa outra página dessa edição que o jornal generosamente lhe concedeu...

Revolução, portanto, era a palavra que o Expresso anunciava com todo o enquadramento comunista que o Expresso acolhia de bom grado ( e por isso Otelo asseguraria dali a meses que o jornal se inseria perfeitamente no PREC, apesar da insistência de Vasco Gonçalves em lhe chamar pasquim da reacção).

O Paris Match de 30 de Agosto de 1975 dava conta do recado que por cá não passava na imprensa dita de referência, tipo Expresso ou O Jornal.




Em 5 de Julho de 1975, com este ambiente de festa, o Expresso e um dos seus principais redactores deram importância a um acontecimento internacional - a Conferência de Segurança Europeia, que se realizava dali a quinze dias,sendo certo que a imprensa internacional já escrevia sobre Portugal e os acontecimentos do PREC, no sentido de o comunismo se apressar a tomar conta do país. O L´ Express de 23 de Março de 1975 mostrava o que o Expresso não queria ver.

A propósito dessa conferência internacional, Marcelo Rebelo de Sousa fazia uma pequena resenha do comunismo internacional, assim como quem escreve para uma entrada numa enciclopédia de ciência política para arrumar logo na estante.  Explicar o que passava, o que significava o PREC e o que se preparava, isso, nada.
Foi preciso o Arcebispo de Braga vir a púlpito explicar claramente...porque Marcelo, apesar de se dizer católico, não se comprometeu. Soljenitsine, na altura na berra, em França? Nada, por cá. Estalinismo do PCP, com histórias reais de por exemplo um Francisco Miguel, que em 1935 esteve em Moscovo e em 75 ainda estava vivo? Não conheciam...
A entrevista de Oriana Fallaci a Cunhal, em Junho de 75,  não mereceu uma linha de Marcelo Rebelo de Sousa ( o correspondente José Alves fez então o frete e nem se deram ao cuidado de traduzir a entrevista publicada pelo Paris Match e já aqui mostrada).
O que se passou em Paris, na altura do caso República, mereceu várias páginas do Expresso ( iremos lá um dia destes) mas a denúncia do PCP como partido ignóbil e pior que o salazarismo "fascista", essa nunca sucedeu. E devia. 
O que se escrevia em França e noutros lados não era lido por cá? Talvez, à vol d´oiseau. E assim por diante.
Nunca o Expresso ou o Jornal explicaram uma coisa muito simples e directa: o PCP é um partido democrático pelos padrões ocidentais? O PCP fez a desestalinização completa ( assim como quem faz uma desratização)? O PCP em 1975 queria mesmo entregar o país ao comunismo, mesmo à revelia de Moscovo? E o PCP não continua igualzinho ao que era em 1975? Não?! É ler o Militante, se alguém ainda tiver dúvidas. Sai de dois em dois meses e é eloquente em explicações...


8 comentários:

Anibal Duarte Corrécio disse...

Pois se até o então PPD pugnava na altura pelo socialismo e uma sociedade sem classes como poderemos nos surpreender por esse escrito na altura amaciado sobre o comunismo de Marcelo Rebelo de Sousa?

Se bem nos lembramos, o Norte do País era a excepção no terreno.

E enquanto as urnas não chegavam para em segredo a vontade efectiva dos portugueses se manifestar, o mito do MFA alimentava a ideia romântica de que seria possível uma via não sangrenta para a sociedade sem classes e que esse era o desejo dos portugueses.

Penso que o boletim metereológico politico da altura tresandava a socialismo e isso contribuía para uma visão menos 'invernosa' do PCP.

josé disse...

Mas o PPD dessa época tinha o Emídio Guerreiro "antifassista" a mandar. Enganou-se no partido mas esteve lá uns meses...

Floribundus disse...

o ppd tinha raiz socialista.
balsemão esteve nas ' assises' e só não entrou na 'internacional' porque o boxexas se opôs.

por essa altura era o militante 29
dp ppd-ml de EG.

não há ditaduras de civis. Caetano caíu porque à tropa não o apoiava.

em 1972 houve um encontro em Paris entre xuxas e comunas para derrubar o regime

fui informado por um gajo na desaparecida livraria Maspero próximo da Prça S. Michel

estavam dividos nos apoios militares porque não confiavam uns nos outros.

decidiram ir em frente na esperança de chegarem ao poder. depois logo se via.

os pides foram 'convidados' a sair tal como o barreirinhas em Peniche

Casaco até se passeou por Lisboa e deixou a morada nas Baleares.
muita gente se borrou.
foi pena que não deixasse memórias como foi tentado

temos mais uma revolução saída da força bruta dos profissionais do gatilho

um deles via às vezes a comprar 'Juanito caminante'

Unknown disse...

Na Escola de Amarante, alunos e professores preparam-se afanosamente para, em uníssono, cantar o Zeca!

http://anabelapmatias.blogspot.pt/2014/04/o-coro-da-eb-23-de-amarante-e-as.html

Floribundus disse...

no 25.iv tropa fandanga comemora a 3ª bancarrota em 40 anos.
a 4ª vem a caminho

vai conduzi-la no ao altar da pátria
no 'andor' do blá blá

no 25.xi a esquerda foi salva in extremis
para acabar com o rectângulo

os profs sindicalistas de punho erguido invadem o Ministério

arquivou-se o Meco, o bcp, ...

o MONSTRO reserva um lindo futuro a quem ficar

Portas e Travessas.sa disse...

Muito me faz rir, vocelência - até Sá Carneiro queria o apoio do SPD -vejam a Wikipédia.

Ai Ai... que estou com ciero

Portas e Travessas.sa disse...

Queria dizer "cieiro"

josé disse...

Sá Carneiro queria mesmo inscrever-se na família social-democrata.
E até ousou declarar que o único socialismo possível em Portugal era a social-democracia.

Enganarou-se porventura?

Quem ri por último, ri melhor...

O Público activista e relapso